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Monte Brasil

Este é um percurso onde a construção de estruturas militares seiscentistas marcou a paisagem. A fortaleza, as extensas muralhas, os paióis, as guaritas, as cisternas e mais, tudo erguido na pedra cortada ao próprio Monte Brasil. E porquê esse nome? Não há certezas, mas vários autores admitem diferentes possibilidades, seja pela ligação do nome a uma espécie de árvore que aqui existiria (zimbro), seja com base em registos históricos pouco claros.

O Monte Brasil, um dos geossítios da ilha Terceira, com uma área um pouco superior a 1 Km2 é o maior aparelho vulcânico litoral dos Açores. Este tipo de erupção ocorre habitualmente em águas pouco profundas, tendo numa fase inicial atividade hidrovulcânica, explosiva em consequência da interação entre o magma básico e a água do mar com que entra em contacto. Formam-se grandes colunas escuras de vapor e cinzas vulcânicas que, depositando-se, consolidam sob a forma de tufos. Mais recente do que a ilha, esta erupção surgiu numa altura em que a atual zona de Angra já estava coberta de vegetação sendo comum encontrarem-se, aquando de escavações, impressões fossilizadas das folhas das plantas que então existiam gravadas no tufo, principalmente louros e heras. Depois do cone formado a erosão do bordo deste vulcão deixou em evidência 4 elevações que rodeiam a sua cratera permitindo, para quem observa à distância, ver o Monte Brasil sempre de uma forma diferente da observação anterior.

Este percurso começa no istmo que liga esta península à restante porção da ilha, junto à entrada para o Relvão, o principal parque de recreio da cidade. Suba em direção ao antigo Portão dos Carros. O caminho de acesso ao Monte Brasil e ao Regimento de Guarnição nº1, que se encontra aquartelado dentro do perímetro amuralhado do monte, é ornado por frondosos plátanos que nos presenteiam com uma refrescante sombra. Ainda antes da porta, do seu lado direito, vê os fossos na base da muralha, numa sucessão de quadrados (chamadas de covas de lobo), que dificultavam a colocação de escadas pelo inimigo invasor. Passa o Portão dos Carros, em tempos destinado ao serviço de carroças e carros de bois, que era fechado por 2 portas em madeira colocadas em ambos os lados da larga muralha.

Siga para a esquerda em direção ao parque florestal e zona de recreio. A baía de Angra revela-se a cada passo. Abaixo desta reta de asfalto foi erguido há uns séculos um paiol com as suas 4 torres, como se de minarete se tratassem. Daqui e de outros locais, era cruzado o fogo da artilharia, com o da Fortaleza de São Sebastião em frente (vulgo Castelinho) impossibilitando a ancoragem de barcos inimigos na baía.

Uma curva à direita, outra curva à esquerda, e siga pelo caminho mais estreito da esquerda que o levará até junto da Ermida de Santo António da Grota, mandada construir em 1615 pelo Governador Espanhol D. Gonçalo de Mexia. O murmurar constante, acentuado por estalidos fortes que nos chegam aos ouvidos, mostra que a cidade vive. Após a ermida siga na terra batida.

Uma torneira de água potável, 3 portas verdes e 2 bancos de madeira: eis o que vai encontrar antes de uma primeira subida à sua direita que deve ignorar. Suba na seguinte 350 passos adiante. É um caminho sempre largo, aqui e ali com grandes árvores. Por vezes surgem coelhos, doninhas, ratos e lagartixas, sem atender às aves, que são várias. Atenção ao sinal que o leva a virar à esquerda, saindo deste caminho e subindo um atalho escorregadio, com as raízes das próprias árvores aqui e ali a fazer de degraus.

Chega à zona do parque infantil e de merendas. Suba pela esquerda, passe junto a uns Sanitários, chegado ao caminho de asfalto e vire à esquerda. À sua frente estão duas subidas em terra e, se reparar bem, um atalho entre ambas. Suba pela esquerda pois vai descer pelo atalho do meio. Próxima etapa: Pico do Facho. São as urzes (Erica azorica), louro, faia-da-terra (Morella faya), incenso (Pittosporum undulatum) e camará (Lantana camara), algumas das espécies que irá ver em abundância. No cimo está um largo nascido da confluência de caminhos. A partir daqui resta apenas subir umas escadas para atingir os 205 metros do Pico do Facho. Este posto de vigia à aproximação de barcos, terá sido construído entre os anos de 1567 e 1588, nos primórdios do povoamento. Com melhoramentos ao longo dos tempos, manteve sempre, até à sua desativação, a função de visualmente (com bandeiras e balões) indicar o número, nacionalidade e tipo de embarcações que se aproximavam de terra. Adotou mais tarde a denominação de Posto Semafórico.

Aqui podemos ver: uma casa de atalaia construída em pedra e cal, de duas águas e abóbada interior, com uma janela numa empena e uma cruz em baixo-relevo na outra, onde se guardavam os mantimentos e apetrechos necessários ao vigia nas suas funções; um marco geodésico de 1951; o facho, onde uma base suportava um pau, e com recurso a guias eram hasteados e manobrados os elementos sinalizadores; dois abrigos antiaéreos da II Guerra Mundial em forma de nichos arredondados; alguns pequenos reservatórios de água e outras construções em ruínas.

Continue em frente pelo atalho, descendo até junto da placa que sinaliza o percurso de manutenção, à sua esquerda, que deverá tomar. É um caminho simpático que serpenteia na encosta sob a vegetação, onde vão aparecendo alguns equipamentos de treino e que terá de percorrer por cerca de 1 Km. Finalmente encontra uma saída em escadas, com degraus em troncos em madeira ou escavados no chão, que o levam a descer o colo formado pelo Pico do Facho e pelo Pico da Quebrada. Na parte mais baixa siga o atalho que vira para o mar e chega ao Forte da Quebrada. Esta fortificação simples foi edificada pelos castelhanos para impedir que barcos indesejados tomassem proteção neste flanco do Monte Brasil, então desprotegido. Construída em cima de 40 metros de rocha íngreme e inacessível desde o mar, era constituída por um pequeno forte, com casa de guarda e cisterna anexa, de que apenas se vislumbram vestígios.

Regresse ao atalho e continue a contornar a Caldeira, 45 metros acima do mar, convertida em tempos em campo de tiro e em praça de toiros. Mantém-se agora longe dessa agitação. O atalho segue na vertente interna do Pico da Quebrada até atingir um caminho. Suba-o até uma bifurcação, virando à esquerda para o topo desse pico, também denominado da Vigia. Uma construção destinada a apoiar a caça à baleia, tipo bunker, abrigava o vigilante que ao avistar a presa enviava um sinal aos baleeiros. Um foguete era habitualmente o alerta.

Volte ao caminho e desça, até estar novamente junto a uma proteção em cimento, pintada de branco, onde avista o mar, na direção do Brasil. Um caminho em frente leva-o ao Pico do Zimbreiro, que poderá subir, embora não esteja dentro do percurso sinalizado. Já não há por aqui zimbros, e embora fosse possível, não sei se alguma vez os houve.

Desça em direção ao miradouro da caldeira. Ao chegar, do lado oposto ao miradouro, vai encontrar uma rocha nua: uma das antigas pedreiras do Monte Brasil. Os tufos negros que se observam na face talhada são bastante compactos, o que justifica a reduzida erosão das muralhas e de outras construções humanas, e a dificuldade dos afloramentos rochosos em se transformarem em solo.

Suba o asfalto, passe pelo circuito de manutenção à sua direita e continue mais uns metros, até encontrar um atalho à sua esquerda, por entre as urzes e algumas guaritas, que o conduz até uma zona de merendas, com churrascos e sanitários. Junto está outra construção do século XVII, com janelas gradeadas, outro paiol onde se guardava a pólvora.

Uma placa indica a subida até ao Pico das Cruzinhas, não sem antes passar pelos nichos da Bateria de Artilharia Antiaérea, instalada neste local durante a II Guerra Mundial, onde estão expostas verdadeiras peças de museu. Do Pico das Cruzinhas, com 168 metros de altitude, tem uma panorâmica impressionante sobre Angra do Heroísmo, Cidade Património da Humanidade, e sobre a costa sul da ilha. É sem dúvida o mais visitado miradouro da ilha Terceira. Em cartas antigas apareciam 3 cruzes, que o tempo se encarregou de fazer desaparecer, talvez relacionadas com a forca do Castelo que parece ter aqui existido. Em sua substituição foi erigido em 1932 um padrão, uma alta coluna encimada pela cruz de Cristo, evocativo aos 500 anos da descoberta dos Açores.

Desça as escadas, vire à esquerda em direção à estátua de El-Rei D. Afonso VI, “O Vitorioso”, que assinala os 350 anos da sua chegada a Angra do Heroísmo, onde ficou exilado durante cinco anos, até setembro de 1674, na Fortaleza de São João Baptista. Daí, desça pelo caminho e no primeiro cruzamento vire à esquerda, na direção do parque infantil, acabando por descer por um atalho que sai novamente no caminho principal. Regresse ao ponto de início deste percurso.
Paulo Barcelos – CMAH

2021 © Câmara Municipal de Angra do Heroísmo

Última actualização em 2021-07-02