À exceção de alguma parede das que delimitam os cerrados, a mais antiga estrutura que vemos neste local será mesmo a construção que protege a captação da Nascente das Cales. Através de uma abertura de modestas dimensões, protegida por uma chapa metálica que em tempos foi porta, podemos aceder a uma escada com sete degraus que descem até ao local onde está uma caixa com tampa, através da qual corre a água. No total esta estreita construção não terá mais de 6 m de comprimento. É curioso o topónimo “Cales” atribuído a este sítio. Se imaginarmos que foi a nascente que deu o nome ao lugar, podemos supor que as suas águas, referida no séc. XIX como “nascente das Calles ou Caldas”, apresentaram em dado momento da sua história temperaturas acima do normal. Terá sido por volta de 1891 que a água desta nascente foi canalizada para abastecer chafarizes, acabando por servir a população em lugares como a Ponte dos Biscoitos, a Canada dos Morros ou a Silveira.
Mas, nesta zona do Biscoito das Cales não há uma, mas várias nascentes. Uma destas, mais modesta, foi captada junto ao Telheiro que aqui existe e conduzida numa curta extensão até um complexo de antigos tanques construídos em cantaria e dispostos em linha, que apresenta a data de 1959. A bica enche primeiro um dos tanques que depois de cheio derrama para o seguinte e sucessivamente para os outros dois. A sequência termina com um sexto tanque, bastante menor e mais baixo, para servir animais de menor porte. É uma estratégia inteligente, pois garante sempre uma altura de água suficiente para permitir ao gado beber diretamente do tanque, mesmo quando a água é escassa e não permite encher mais do que um. Outros três tanques foram construídos pela Junta de Freguesia em 1985, do outro lado da estrada.
O que terá contribuído para que este local se transformasse numa zona de lazer foi sem dúvida as touradas que aqui se realizavam, neste Terreiro das Cales encaixado entre encostas verdejantes, e que davam a conhecer este espaço arborizado. Hoje, tal como noutros tempos, há o cuidado de limpar a vegetação de uma parte da encosta para que o povo aí se possa sentar a observar a tourada. Em 1995 a Junta de Freguesia tomou a iniciativa de construir as primeiras mesas, bancos e churrasqueiras à sombra das árvores, no lado do Biscoito das Cales, a ocidente deste recinto. Em 1999 construíram-se novos muros e em 2000 cimentou-se o chão de parte do antigo espaço sobre-elevado que servia de palco e que está junto ao Pico das Cales, do lado oriental. Também neste lado em 2004 construíram-se Instalações Sanitárias, que incluem cabines de duche, algo pouco habitual. Com o investimento da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo no dia 10 de julho de 2011 é inaugurado o Alpendre da Zona de Lazer das Cales, uma estrutura com 120 m2 livres e cobertos, que serve de apoio às atividades de recreio que se fazem nesta zona, com um lava-loiças, dois fornos a lenha, uma grande churrasqueira e, claro, um espaço coberto muito necessário se a chuva resolve aparecer.
Em 2019, enquanto se procedia a alguns arranjos no local, aproveitou-se a oportunidade para se construir um novo palco em pedra, mais central e próximo do Telheiro, onde agora toca a filarmónica em dias festivos, nomeadamente no segundo domingo de julho, altura em que se comemora o Dia da Freguesia. Improvisam-se nas pastagens parques de estacionamento para as muitas pessoas que afluem a este local nesse dia, para assistir à tradicional tourada e não só. Para aqueles que não trazem farnel de casa a Comissão de Festas encarrega-se de montar uma competente tasca na zona do Telheiro.
Paulo Barcelos – CMAH