Dos grandes vulcões da ilha Terceira o de Santa Bárbara é provavelmente aquele que apresenta maior diversidade geológica. Depois da fase submarina, prosseguiu com uma fase subaérea essencialmente basáltica, evoluindo depois para um vulcanismo mais ácido, na forma de domas e de espessas escoadas traquíticas (coulées), e para episódios plinianos e subplinianos com projeção de pedra-pomes e de algumas pequenas massas de ignimbritos. O resultado foi este estratovulcão poligenético, potencialmente ativo, que sensivelmente há 1 milhão de anos atrás deu origem ao maciço ocidental da ilha Terceira.
Apresenta hoje uma altitude máxima de 1021 metros. Um primeiro colapso há cerca de 25.000 anos formou uma primeira caldeira. Há 18.000 anos ocorre novo colapso no interior da primitiva caldeira, formando outra, mais profunda, cujas vertentes chegam aos 170 metros de altura e com um diâmetro máximo de cerca de 2 km. Sobre os flancos exteriores deste vulcão surgiram nos últimos anos dezenas de pequenos centros eruptivos basálticos subaéreos, que formaram os cones de escórias a que localmente se chamam de “picos”. Mas, ao longo de um sistema de importantes fraturas de orientação geral NO-SE associadas ao Rifte da Terceira, o mais importante alinhamento vulcano-tectónico da ilha, surgiram também erupções de lava de natureza traquítica que formaram vários domas e coulées, alguns das quais no interior da própria caldeira. A mais recente é a erupção histórica de 1761 dos Mistérios Negros, no flanco oriental. Esta serra está incluída no geossítio prioritário Caldeira de Santa Bárbara e Mistérios Negros.
No litoral oeste, na zona Serreta/Raminho, existem águas mineromedicinais de valor terapêutico, a que o povo que as utilizava chamava de “água-azeda”. Depois do sismo de 80 tornou-se impossível o seu aproveitamento.
Parte muito significativa deste maciço está também classificada, constituindo a Reserva Natural da Serra de Santa Bárbara e dos Mistérios Negros. A orografia e os elevados níveis de humidade fazem com que seja um repositório de muitas espécies e comunidades naturais, cuja existência bem como os respetivos habitats importa salvaguardar.
Desde o mar até ao interior da caldeira, este vulcão suporta grandes variedade de ecossistemas naturais. Aqui é possível observar a típica e preciosa “floresta de nuvens” dos Açores, onde predomina a endémico cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) associado a uma grande diversidade de outras espécies, muitas das quais endémicas, como a uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum), a angélica (Angelica lignescens), o trovisco-macho (Euphorbia stygiana), a labaça-das-ilhas (Rumex azoricus), a cabaceira (Pericallis malvifolia), a alfacinha (Lactuca watsoniana), a Scabiosa nitens e muitas outras. São muitos os musgos que crescem sobre os troncos, revestindo-os e pendendo dos mesmos. Outros formam turfeiras (ou mofedo), onde dominam as espécies de Sphagnum, que revestem as falésias ou se encontram associadas a complexos de zonas húmidas. Como aves residentes aparece-nos o queimado (ou milhafre - Buteo buteo rothschildi), o pombo-torcaz (Columba palumbus azorica), o melro preto (Turdus merula azorensis), a vinagreira (Erithacus rubecula rubecula), o tentilhão (Fringilla coelebs moreletti), a toutinegra (Sylvia atricapilla), a alvéola (Motacilla cinerea patriciae), a estrelinha (Regulus regulus inermis e algumas espécies cinegéticas como a galinhola (Scolopax rusticola) e a narceja-comum (Gallinago gallinago).
Algumas das paisagens mais deslumbrantes conseguem-se observando-se a vasta caldeira a partir de vários pontos da sua bordadura, ou olhando alguma das lagoas existentes no interior ou nos flancos deste vulcão. Nas encostas exteriores estão estabelecidos alguns trilhos pedestres que permitem ao visitante observar e apreciar alguns dos valores naturais aqui referidos.
Uma visita ao Centro de Interpretação da Serra de Santa Bárbara, na encosta sul junto ao início do caminho que acede ao cimo da serra, disponibiliza informação ao visitante para a descoberta do Parque Natural da ilha. Permite conhecer o seu processo de formação e evolução geomorfológica, uma melhor compreensão da bio e geodiversidade local e a interação secular do Homem com este espaço, fonte de vários recursos naturais.
Paulo Barcelos – CMAH