É provável que alguém de nome Gaspar tenha possuído este pico e terras nas imediações, advindo-lhe daí o nome. Na realidade este topónimo surge já no século XV em Cartas de Dadas, pelo que o suposto Gaspar poderá ter recebido terras de sesmaria por estes lados. Mais tarde o Pico Gaspar acabaria por dar nome ao caminho que lhe passa junto: Caminho Florestal do Pico Gaspar.
Com uma altitude máxima de 645 m e devido à sua conformação, localização e topografia do terreno para sul, este peculiar pico é facilmente observável a partir do mar. Por essa razão terá servido para os pescadores fazerem alinhamentos com outros elementos no terreno, como as torres da igreja de S. Mateus, e posicionarem-se sobre os bancos de pesca pretendidos, numa altura em que os GPS não existiam. Por essa e outras razões acabou por ser também conhecido por Pico da Craca ou Pico do Cesto numa analogia a um cesto de vimes, invertido, dos que eram antigamente utilizados.
O Pico Gaspar é um vulcão de spatter, o que lhe confere a sua curiosa forma. Os salpicos de lava pastosa foram caindo uns sobre os outros, coalescendo até formarem os estreitos bordos superiores deste cone de escórias basálticas consolidadas. Truncado superiormente as vertentes interiores descem abruptamente para o interior da cratera, apresentando-se as exteriores também fortemente inclinadas, com mais de 70 m de altura a partir do terreno onde se erguem. Pelo exterior, no flanco oeste, encontra-se o denominado Algar do Pico Gaspar, uma fenda com cerca de 8 m de comprimento e 12 m de profundidade.
Localiza-se na freguesia de São Bartolomeu, vários quilómetros para o interior da ilha, numa zona caracterizada por uma importante atividade vulcânica ocorrida nos últimos 50.000 anos (Self, 1982). O episódio eruptivo associado ao sistema fissural do Pico Gaspar terá, no entanto, uma idade inferior a 12.100 anos BP. A paisagem em redor mostra o alinhamento deste com outros pequenos cones vulcânicos, onde estão escondidos outros pequenos algares. Esta sucessão de erupções está assente sobre o denominado Rifte da Terceira: uma estrutura tectónica com cerca de 550 Km de extensão com origem na Dorsal Média do Atlântico, que atravessa as ilhas Graciosa e Terceira indo terminar na intersecção com a Falha da Glória que separa as duas placas tectónicas Euroasiática e Africana.
A cratera constitui um verdadeiro hotspot de biodiversidade. É habitat de várias espécies da flora endémica dos Açores ou da macaronésia, algumas com poucas populações identificadas para a ilha, como por exemplo a Sanicula azorica, Bellis azorica, Euphorbia stygiana, Erica azorica, Juniperus brevifolia, Ilex azorica, Cardamine caldeirarum ou Ranunculus cortusifolius e de várias espécies nativas estruturantes das comunidades, como os fetos Culcita macrocarpa, Woodwardia radicans e Vandenboschia speciosa.
Para quem percorre os percursos pedestres PRC01TER – Mistérios Negros e GR01TER – Grande Rota do Oeste acaba inevitavelmente por se sentir convidado a subir até ao cimo, podendo admirar a bonita cratera e a paisagem em redor.
Paulo Barcelos – CMAH