O Pico Matias Simão localiza-se na freguesia dos Altares. O topónimo advém-lhe da corruptela do nome de Martim Simão, genro de um dos primeiros povoadores e senhor de terras neste lugar. Ainda no campo da toponímia, segundo os padres António Cordeiro e Jerónimo Emiliano de Andrade, o Pico Matias Simão, como que “um altar que vem render-se ao mar”, terá estado na origem do nome da própria freguesia.
A sua topografia e posição junto ao litoral da costa norte, verdadeiro marco na paisagem, faz com que assuma contornos de ícone para a freguesia, tendo sido o local escolhido para edificação a 8 de dezembro de 1940 de um padrão evocativo da Restauração da Independência a que chamam de Cruzeiro. Projetado pelo mestre Maduro Dias foi sofrendo ao longo dos anos obras de manutenção, nomeadamente depois do sismo de 80 que o afetou de forma mais intensa. Nas décadas de 1950/60, fazendo valer dos seus 153 m de altura máxima, foi instalada aqui uma vigia ligada à atividade da caça à baleia centrada no Porto dos Biscoitos.
Este vulcão foi construído a partir de uma erupção estromboliana com diferentes fases. As mais explosivas lançaram cinzas, bombas e outros fragmentos piroclásticos na atmosfera, que depois de depositados formaram os tufos vulcânicos que se podem ver sobre o solo primitivo. Esse paleossolo subjacente, de natureza argilosa, foi a matéria-prima para a laboração das três olarias que existiram nos Altares, principalmente para o fabrico da tradicional telha de canudo e de tijolos para fornos e lareiras.
Este pico é parte integrante do geossítio Biscoitos - Matias Simão, pela variedade de elementos vulcânicos e processos geológicos que apresenta. É um local de particular interesse muito devido ao facto de ser o melhor exemplo na ilha, e certamente um dos melhores da região, de um cone de spatter (salpicos de lava). A emissão de lava viscosa, ou pastosa, ajudou a fazer crescer um cone em cujos flancos expostos podemos hoje ver as distintas e curiosas formas retorcidas que as rochas avermelhadas apresentam.
De consistência pouco estável, muito exposta à erosão do mar do norte e sujeita a ocasionais tremores de terra, uma parte significativa deste cone foi sendo desmontada ao longo dos anos, recuando a falésia até ao ponto em que hoje se encontra. Quem o sobe não deixa de se impressionar com a imponente arriba, em cuja base estão importantes depósitos de cascalheira de praia.
Cobre o Pico Matias Simão um bosque de faia-da-terra (Morella faya) bastante perturbado pela invasão de incenso (Pittosporum undulatum), que vegeta em cima de um solo pobre em matéria orgânica. É, no entanto, quanto basta para a permanência de alguns meses de uma colónia nidificante de cagarros (Calonectris diomedea borealis), uma das mais importantes aves marinhas, que anualmente migra até estas paragens.
Paulo Barcelos – CMAH