Guilherme Moniz

O grande vulcão que formou a parte central da ilha Terceira colapsou formando a vasta Caldeira do Guilherme Moniz, delimitada nalguns pontos por escarpas interiores que atingem os 150 m de altura, onde a rocha nua evidencia a sua natureza traquítica. A cumeeira bem definida que a circunscreve do lado sul, este e oeste, delimitando os seus cerca de 4 km de diâmetro máximo e que atinge uma altitude máxima de 660 metros, é chamada na sua generalidade de Serra do Morião (ou Costaneira). Isso não impede que sejam chamados outros nomes a diferentes zonas desta serra em forma de ferradura.

Embora a erupção que formou o Vulcão do Guilherme Moniz tenha começado há mais de 400.000 anos, ocorreram vários episódios eruptivos no seu interior, desde há 25.000 anos até ao presente. Alguns estão ligados ao Vulcão do Pico Alto, com os seus domas, coulées e outros materiais e estruturas, que haveriam de contribuir significativamente para o preenchimento desta grande cratera. Mais recentemente surgiram diversas escoadas lávicas basálticas, muito fluidas, em particular a do Pico do Carvão há cerca de 2000 anos, que preencheram e aplanaram grande parte do chão da caldeira. Estes acontecimentos foram responsáveis por fazer surgir um importante aquífero suspenso, sendo a água para consumo captada em fortes nascentes. Umas estão localizadas no flanco sul da Serra do Morião (i.e. Nasce-água) e outras no interior de grutas como a Furna d’Água ou a Furna do Cabrito, originadas pela mesma lava do Pico do Carvão que transbordou a leste onde a cumeeira da serra era mais baixa. O Homem aproveitou para criar aqui uma “porta de entrada”, a que chamou “Passagem das Bestas”, para ir à Caldeira do Guilherme Moniz fazer aquilo de que precisava: pastorear animais, ir ao espadão (era também conhecida como Caldeira do espadão - Phormium tenax) e principalmente buscar lenha. Esse procedimento haveria de deixar impressos no chão rochoso profundos sulcos, denominados de “relheiras”, originadas pelo rodar dos carros de bois durante séculos.

A presença humana nesta Caldeira vem dos primórdios do povoamento. A sua proximidade a Angra e fácil acessibilidade fez com que a exploração humana deste espaço o tenha alterado profundamente, no que se refere às comunidades naturais primitivas. A atividade agropecuária, a criação de gado bravo, a produção de madeira e a criação de infraestruturas humanas, obrigaram a que as comunidades naturais hoje subsistam principalmente nas cumeeiras e escarpas interiores inacessíveis. Aí podemos encontrar alguns pequenos e muito particulares bosques de cedro-do-mato, não faltando outras arbóreas como a urze (Erica azorica), o louro (Laurus azorica) ou o azevinho (Ilex perado ssp. azorica), arbustivas como a uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum) ou o folhado (Viburnum treleasei) e fetos como o feto-do-botão (Woodwardia radicans) ou o feto-arbóreo (Cyathea cooperi), para além de várias herbáceas endémicas. Sobre o fundo rochoso da Caldeira crescem expressivos matos onde predomina a urze, que recuperaram bem da intensa apanha de lenha a que foram sujeitos no passado. Na avifauna refira-se a presença dos queimados (ou milhafre - Buteo buteo rothschildi), o pombo-torcaz (Columba palumbus azorica) e os habituais passeriformes, com destaque para o melro-preto (Turdus merula azorensis), vinagreira (Erithacus rubecula), Tentilhão (Fringilla coelebs moreletti), toutinegra (Sylvia atricapilla atlantis) e a alvéola (Motacilla cinerea patriciae). O único mamífero endémico que por aqui anda é o morcego dos Açores (Nyctalus azoreum). Hoje observa-se a coexistência da paisagem natural com a paisagem humanizada.

Pela importância que eventuais alterações no interior da Caldeira do Guilherme Moniz pudessem trazer à recarga dos aquíferos subterrâneos, a mesma foi classificada como Área Protegida de Gestão de Recursos da Caldeira de Guilherme Moniz. Constitui ainda o geossítio Caldeira do Guilherme Moniz. No seu interior estão ainda o Monumento Natural do Algar do Carvão e o Monumento Natural das Furnas do Enxofre. A norte estão classificadas outras zonas de elevado valor em termos de património natural. Recomenda-se o percurso pedestre PRC07 TER - Passagem das Bestas como forma de apreciar as bonitas paisagens sobre o interior da caldeira.
Paulo Barcelos – CMAH

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Última actualização em 2022-08-14