Esta pequena rota circular, com cerca de 4 Km de extensão, encontra-se totalmente inserida no geossítio e na Área Protegida de Gestão de Recursos da Caldeira de Guilherme Moniz, caracterizada pelos seus extensos matos macaronésicos maioritariamente de Urze e pela presença de turfeiras e zonas encharcadas, que asseguram a recarga dos aquíferos subterrâneos deste complexo vulcânico com cerca de 23 000 anos.
Este percurso inicia-se dentro do parque de estacionamento que serve os pedestrianistas. Os primeiros passos são dados sobre as lavas basálticas do jovem Pico do Carvão, que preencheram parte da caldeira e transbordaram pelo local onde agora começa o percurso. Após alguns metros deste terreno pedregoso e irregular, chega a uma bifurcação: siga pela esquerda, mas como irá regressar vindo da direita tenha em atenção este local, pois terá de sair por aqui para voltar ao parque de estacionamento.
Nesta fase do percurso vai ver impressas no chão as relheiras da Passagem das Bestas, gravadas na rocha pelo rodar de milhares de passagens feitas pelos carros bois que durante séculos vinham à caldeira buscar lenha. Estas são as mais impressionantes da ilha, e ainda hoje estão a ser estudadas, pois há quem defenda terem uma origem pré-povoamento português, ou seja, terem muito mais do que quinhentos anos de existência. Foi por aqui que o eminente naturalista Charles Darwin entrou para ir visitar as Furnas do Enxofre, na sua passagem pelo arquipélago, sendo esta a única ilha dos Açores que terá pisado.
Continue a descer, acompanhando as relheiras e em breve vai chegar a uma linha de água, sob coberto das copas de frondosas criptomérias (Cryptomeria japonica). Mais abaixo encontra à sua frente uma conduta em cimento sobrelevada, que leva a água das nascentes subterrâneas da Furna de Água até às centrais mini-hídricas em Angra. Vire aqui à direita e comece a subir a encosta deste monte, na fronteira entre a mata e as pastagens, que embora curta será garantidamente a parte mais cansativa do percurso. Na parte mais elevada vai entrar numa pastagem para aceder ao miradouro que aí está, e que oferece uma vista sobre a caldeira de colapso do Vulcão dos Cinco Picos à esquerda, entre a Serra da Ribeirinha e a Serra do Cume. Com um diâmetro médio de 7 km é a maior caldeira dos Açores.
Tenha atenção à sinalização pois terá de sair deste miradouro, descer a pastagem, transpor uma sebe de criptomérias e atravessar uma segunda pastagem que está do outro lado. Esta é a parte mais confusa do percurso. Devido à gestão do gado bovino, por vezes as vacas podem derrubar algum poste ou o lavrador colocar algum fio a vedar os animais, o que poderá levar o pedestrianista a pensar que está no caminho errado.
O percurso volta a entrar numa sebe de árvores que terá de acompanhar, sempre pelo seu interior. Em breve vai chegar junto ao bordo da Serra do Morião, que delimita no seu interior a Caldeira do Guilherme Moniz. Vai agora percorrer uma antiga vereda descendente, praticamente na cumeeira desta parte final da serra que apresenta uma forma de ferradura. As criptomérias plantadas pelo homem desaparecem para dar lugar às várias espécies típicas da vegetação endémica natural, que revestia as partes mais elevadas desta ilha.
A flora e fauna é diversificada, contando com a presença de muitos dos endemismos típicos destes ecossistemas: Urzes (Erica azorica), Louros (Laurus azorica), Uvas-da-serra (Vaccinium cylindraceum), Cedros-do-mato (Juniperus brevifolia), alguns Folhados (Viburnum treleasei), Azevinhos (Ilex azorica), musgos e diversas espécies de fetos, nomeadamente um arbóreo. Para além dos passeriformes terrestres comuns a estas altitudes, observa-se a presença de alguns “Queimados” (Buteo buteo rothschildi) que nidificam nas redondezas.
Vai sair desta vereda duas vezes para visitar dois miradouros abertos propositadamente para desfrutar da vista magnífica sobre a Caldeira de Guilherme Moniz, onde os toiros bravos pastam sossegadamente à volta dos charcos. O subsolo funciona como um grande reservatório subterrâneo de água, captada para consumo público a partir do interior de umas grutas naturais existentes nas imediações.
Surge ainda um terceiro miradouro na parte mais a leste desta cumeeira, com vista para a Terra Brava. Depois desta ponta final, chamada de Espigão Barreiro, desça pelo meio de uma espetacular floresta de Cedro-do-mato, antes de começar a escadaria que o levará novamente até à Passagem das Bestas, agora transformada numa espécie de túnel natural, fresco e agradável, coberto pelas copas das árvores. Lembram-se as pessoas mais antigas que nesta ponta da serra existia um fio de lenha, o único de que há lembrança na ilha, para fazê-la descer lá do alto até esta passagem onde esperavam os carros de bois.
Prossiga por esta ravina, até chegar novamente às relheiras. Mais abaixo atinge a bifurcação inicial, vire à esquerda para o parque de estacionamento, local onde termina este percurso.
Paulo Barcelos – CMAH