Inserida no maciço vulcânico dos Cinco Picos esta pequena rota viaja pela costa sudeste da ilha, porta de entrada de povoadores e conquistadores, passando por ruínas de antigas fortificações construídas para defesa da costa (séc. XVI - XVII), terminando na Vila de São Sebastião.
O percurso tem início na estrada regional, junto à Baía da Mós. Siga para sul, numa visita à Ponta das Contendas, também conhecida por Ponta de Santa Catarina. Subindo pela sua direita chega à arriba, tendo à sua frente o Farol das Contendas e uma vista sobre a costa sul da ilha, com os Ilhéus das Cabras, os maiores dos Açores, em evidência. Começa a descer este pequeno cabo, em direção ao que resta do Forte da Greta, a primeira fortificação militar, das várias por onde irá passar. Em posição privilegiada sobre este trecho do litoral, este forte foi mandado construir por Ciprião de Figueiredo, antes de 1580, no contexto da crise de sucessão, para defender a pequena Baía de Santa Catarina das Mós, contra os ataques de piratas e corsários. Antes de chegar à estrada aproxima-se mais desta baía, onde a 26/27 de julho de 1583 uma força castelhana conseguiu desembarcar e por termo à resistência dos terceirenses ao domínio de Filipe II de Castela. Também aqui existiu uma fortificação, denominada de Forte de Santa Catarina das Mós, construída na mesma altura e com o mesmo fim do Forte da Greta, mas o mar acabou destruindo-a restando agora poucas evidências.
De volta à estrada irá percorrer cerca de 550 m, passando por uma zona de produção intensiva de hortícolas em estufa, que aproveita as condições amenas deste local, enquanto contorna a Baía da Mina. Junto ao Pico da Maria Vieira volte a sair da estrada, entre na pastagem pelo acesso junto a uma cancela metálica, e siga descendo junto aos salgueiros (Tamarix africana) até à Ponta da Mina.
Esta zona, classificada como Área Protegida para Gestão de Recursos Marinhos, apresenta habitats naturais protegidos associados a uma elevada biodiversidade de fauna marinha, em virtude da presença de recifes, grutas submersas e reentrâncias abrigadas.
Rapidamente chega às ruínas do Forte do Bom Jesus, reerguido em 1644, que com as suas canhoneiras mantinha uma posição dominante sobre ambas as baías. Daqui pode apreciar os três pequenos ilhéus que entram pelo mar dentro, que estiveram na origem da classificação deste local como Zona de Proteção Especial de aves marinhas. O primeiro, que aparenta serem dois mas que na realidade estão unidos, é o chamado Ilhéu do Feno. Tem um estrato terrícola coberto pela gramínea endémica Festuca petraea por entre a qual nidifica uma importante colónia de cagarros (Calonectris diomedea borealis), uma ave marinha migratória. Imediatamente a seguir a este está o segundo ilhéu, todo em pedra, conhecido por Ilhéu do Garajau, serve de nidificação outra importante colónia, mas de garajau-comum (Sterna hirundo) e garajau-rosado (Sterna dougalli).
No regresso suba pela direita, junto à arriba, entre no Pico da Maria Vieira, uma subida um pouco íngreme, passando entre um mato alto de urze endémica (Erica azorica). A vista agora estende-se sobre as pequenas baías da costa leste da ilha, avistando ao fundo as casas da freguesia do Porto Martins. No topo, o mato transforma-se num pequeno bosque e aqui e ali, em miradouros improvisados, consegue alguns vislumbres sobre a falésia costeira à sua direita. Ao sair do bosque, suba a pastagem até chegar a um marco geodésico. Neste ponto mais elevado pode apreciar o caminho efetuado e aquele que ainda lhe falta percorrer. Desça junto aos salgueiros, com a falésia à direita, e aproveite para apreciar a vista sobre os Ilhéus da Mina que vai deixando para trás.
Adiante, os salgueiros dão lugar às canas (Arundo donax) e o percurso entra num caminho de terra, que serve para acesso aos campos de cultivo e pastoreio. Seguindo a sinalização, vai subir e descer o Pico do Manezinho, uma pequena elevação junto ao mar com uma vista bonita sobre a orla costeira, e que delimita uma baía muito arredondada: a Baía da Corda. Esta é uma zona procurada pelos pescadores de caniço. Ainda vai descer um pouco mais até chegar junto do mar.
Vai ter de atravessar algumas pastagens, mas tenha o cuidado de não se aproximar muito da linha de costa, pois há locais onde a erosão do mar tem levado a terra e colocado a arriba em perigo. Depois de as atravessar chega ao Forte do Pesqueiro dos Meninos. Como irá perceber pelas duas faces da muralha em cantaria que ainda subsistem, este era um reduto abaluartado, de forma triangular ajustando ao terreno primitivo e rasgados por quatro canhoneiras voltada para o mar, duas em cada face. A sua construção será anterior a 1583, ocupando uma área de cerca de 200 m2, tendo no seu interior uma casa de guarda e um paiol, entretanto desaparecidos.
Afastando-se do mar, vai percorrer cerca de 950 m de caminhos de servidão até chegar ao cruzamento da Rua do Arrabalde que deve subir. São mais 750 m até ao centro da freguesia. Passa pela Ermida de Nossa Senhora da Graça, à sua direita, apercebendo-se da água que corre pelas valetas deste caminho que antes era a Ribeira do Frei João, nome do frade que, segundo se diz, desembarcou no Pesqueiro dos Meninos com os primeiros portugueses que colocaram o pé nesta ilha.
A Vila de S. Sebastião é muito rica em águas subterrâneas. Muitas casas possuem poços de onde se serviam, e várias nascentes são captadas para consumo. Também devido à abundância em água laboraram no passado vários moinhos de azenha, e existiam umas monumentais pias onde as senhoras lavavam e tanques onde o gado bebia. Ainda hoje é possível observar-se a levada e o que resta de alguns moinhos.
Na reta final, a caminho do largo da igreja e fim deste percurso, passa pelo Largo da Fonte e pela Ermida de Santa Ana. Não deixe de visitar o interior da Igreja Paroquial e de apreciar o Império do Divino Espírito Santo, tão singular pelas suas pinturas.
Paulo Barcelos – CMAH