O contexto geológico em que a ilha Terceira está inserida faz com que seja fácil observar à superfície evidências do vulcanismo que se mantém ativo em profundidade. Enquanto se espera por uma nova erupção vulcânica, vemos esse poder telúrico manifestar-se em campos fumarólicos como as Furnas do Enxofre, onde o vapor de água e os gases enxofrados se libertam do subsolo, e nascentes de águas mineralizadas e naturalmente gaseificadas que existem (ou existiram) nalguns locais da ilha, que ascendem no subsolo e que ao brotar evidenciam características muito próprias de cheiro e paladar. São nascentes que brotam habitualmente junto ao litoral da ilha, embora haja evidências de outras que surgiram no interior, provavelmente associadas a erupções vulcânicas do passado.
A ilha Terceira sempre teve nascentes de boas águas, transparentes, incolores, inodoras e insípidas, para delícia da população, mas a existência de nascentes de águas minerais, que pudessem ser utilizadas para fins medicinais, suscitou sempre um interesse especial junto de algumas pessoas mais curiosas, empreendedoras ou necessitadas. A Carta Geológica de Portugal 1 identifica para a ilha Terceira várias dessas nascentes, acabando algumas delas por suscitar maior interesse junto da população, que via no seu consumo benefícios para a sua saúde e bem estar. Acreditava-se nessas águas como quem acredita num medicamento, embora acessível e gratuito, capaz de debelar ou aliviar muitas maleitas, nomeadamente ao nível da pele e do estômago, apesar de alguns relatos estarem assentes mais na crendice popular do que propriamente em evidências científicas. Em geral o uso popular desse recurso só encontrou eco no “mundo científico” terceirense a partir do século XIX, quando se começa a revelar a verdadeira composição físico-química dessas águas, através de análises laboratoriais. É nessa altura que as entidades públicas começam a ser pressionadas para melhorar os acessos às nascentes, quase sempre muito precários e perigosos, devido à maior afluência da população a estes locais. Mais tarde houve uma iniciativa de comercialização de uma dessas águas, mas, ao que pensamos, com um sucesso e incidência no mercado muitíssimo limitada. Nas últimas décadas descobriram-se novos locais na ilha Terceira com águas mineralizadas, por vezes associadas a termalismo, muito por conta de vários furos de captação abertos para consumo humano.
Paulo Barcelos, CMAH e Associação Os Montanheiros
1 ZBYSZEWSKI, G; A. Cândido de Medeiros; O. da Veiga Ferreira (1971) – Nota Explicativa da Folha da Ilha Terceira (Açores) da Carta Geológica de Portugal. pp. 38-39.