Águas Mineralizadas da Terceira

Fonte do Sabão, na Agualva

A Fonte do Sabão que corre na freguesia da Agualva é a única nascente descrita na bibliografia dos primeiros quatro séculos de povoamento da ilha Terceira como tendo características que a faziam diferente de todas as outras.

Esta nascente associada a um aquífero suspenso é referida como apresentando propriedades incomuns que foram descritas pela primeira vez por Gaspar Frutuoso no século XVI: “Neste lugar, acima dos moinhos, está […] uma fonte que converte o pau em pedra estando por espaço de um ano nela, como da mesma fonte se pode ver em um pau que nela está caído, que toda a parte que está dentro na água está feita pedra rija e a que está fora está pau, como realmente o é […] e isto foi visto por alguns homens ilustres, como foi o bispo Dom Gaspar de Faria e o bispo Dom Pedro de Castilho, e outros muitos, e o pau que está feito pedra se tira em pedras delgadas, como se fossem côdeas ou cascas.”1


Fonte do Sabão, na Agualva.


Praticamente na mesma altura, por volta de 1590, Linschoten refere algo semelhante: “Na ilha Terceira, a três léguas de Angra, existe uma fonte num lugar chamado Agualva. Esta tem a particularidade de, ao fim de muito tempo, converter toda a madeira que cai lá dentro em pedra e escolhos duros, como eu próprio vi por experiência uma árvore que tem metade da raiz debaixo da água desta fonte, a qual se transformou em pedra tão dura que parece aço, enquanto a outra metade da raiz, onde a água não chega, ainda é madeira e raiz como todas as raízes de árvores deviam ser.”2

Essa capacidade de converter madeira em pedra, encontra nova referência nas palavras, então mais esclarecidas, de Diogo das Chagas, no século XVII: “[…], aonde está uma fonte […] que se diz que converte o pau em pedra, na qual eu fiz a experiência indo a ver, por ter esta notícia dela, e meti um bordão que levava, e fincado em suas águas o deixei estar o tempo que ali estive que seria espaço de uma hora, e tirando o achei que todo o pau que estava debaixo da água, saiu coberto de uma ferrugenzinha que parece pedra, e não duvido que se estivesse muito tempo, que se ajuntasse e acumulasse tanta que cobrisse o pau, que nada dele aparecesse e ficasse como decoração a ferrugem feita pedra, e daqui viesse o dito que a água desta fonte converte o pau em pedra.”3


Fonte do Sabão, na Agualva.


Depreende-se que a água desta nascente era rica em solutos ferrosos dissolvidos, que se precipitavam em contacto com a superfície de qualquer coisa que fosse nelas mergulhada, um processo comum em várias ilhas dos Açores, pelo que este relato só se torna relevante pelo exagero com que foi reportado.

Em 1845 é o Delegado do Conselho de Saúde Pública, Nicolau Caetano de Bettencourt Pitta que refere: “Há na freguesia da Agualva uma nascente de água mui distinta das outras correntes que lhe ficam próximas. Tão macia ao tato como untuosa que parece ter misturado ou dissolvido sabão, quando nela se banha o corpo ou se esfregam as mãos”, única diferença que o autor refere em relação às outras águas captadas para consumo humano, e que justifica como sendo devido ao “indício da presença de terra argilosa, finissimamente suspendida.” Ainda assim remata que: “A água desta fonte não deixa, contudo, de ser proveitosa, interior e exteriormente administrada, em todas aquelas moléstias […] como acontece nas irritações de entranhas, particularmente dos rins, bexiga e fígado; nas doenças cutâneas, como impigens, pruídos e semelhantes e servem para ajudar e aumentar os efeitos e virtudes de outros medicamentos, segundo a experiência me tem mostrado”. Quanto à transformação de “pau em pedra”, é contundente em afirmar que apenas por falta de conhecimentos se poderia acreditar em tais fenómenos: “Hoje toda a pessoa instruída sabe que tais petrificações se não formam assim; que os elementos lenhosos desaparecem e os elementos líticos lhe tomam o lugar, a forma e até o colorido” mas que “não é possível que no curto espaço de um ano se conclua tão admirável transmutação, quando para a incompreensível natureza a formar em seu recôndito seio, são necessários muitos anos ou, para melhor dizer, séculos.”4


Fonte do Sabão, na Agualva.


Ao que parece estas águas fortemente mineralizadas, apesar de não serem procuradas como medicinais, serviram para consumo da população. Conclui-se isso mesmo das palavras de Diogo das Chagas em 1643: “tem outra propriedade estas águas, que a todos os naturais, que com elas se criam, lhes fazem os dentes amarelos, sinal por onde são conhecidos por naturais daquela freguesia.”5 Isso mesmo se comprova quando em 1907 surge nos jornais uma denúncia que um particular estava a tentar assenhorar-se das águas da Fonte do Sabão, que então secava na altura do estio, a fim de as encanar e vender para consumo público.6

Na Agualva percebemos que existem divergências entre os nomes das ribeiras que vêm escritos nalguns documentos e aqueles que hoje as pessoas estão habituadas a utilizar, uma questão acentuada por haver nascentes em vários locais a derramar para diferentes linhas de água. Foi-me dada a indicação de que a Fonte do Sabão seria uma que brota de forma impetuosa e abundante no leito de uma ribeira (supostamente a Ribeira do Sabão), afastada cerca de 3800 m do mar e a uma altitude e cerca de 290 m. Manuel Leal, antigo aguadeiro na Agualva, conhece a Nascente do Sabão como sendo outra. Mantendo sempre algumas reservas optei por procurar e investigar várias nascentes, concluindo que em torno de nenhuma delas se observava quaisquer depósitos ferrosos, como é comum verem-se nalgumas ilhas onde correm nascentes de águas férreas. Devemos ainda atender ao facto de que todas estas nascentes estão afastadas do povoado. Se nos primeiros dois séculos de povoamento já não era fácil alcançar esta freguesia interior, bastante afastada de Angra, pior seria subir até à zona das nascentes. É referido que D. Gaspar de Faria (Bispo de Angra entre 1571-76) alegando a frescura dos ares e a qualidade das águas habitou por muito tempo numa quinta sita nas margens da Ribeira dos Moinhos desta freguesia da Agualva, na altura ainda curato da Vila Nova.7 Não há referência do prelado que se seguiu, D. Pedro de Castilho (bispo entre 1578-83), ter residido nesta mesma quinta ou noutra qualquer nesta freguesia. Não querendo pôr em causa o que sobre o assunto foi dito no passado o certo é que não encontrei nenhuma nascente capaz de originar depósitos ferrosos… nem tão pouco de transformar pau em pedra.

Há ainda uma outra referência que diz que “Também as águas do lugar da Caparica nos Biscoitos parecem ter a mesma propriedade”8. Embora essas não sejam aqui tratadas, deixo o seguinte apontamento, sobre uma curiosa ocorrência natural que terá acontecido nesta freguesia dos Biscoitos. Provavelmente antes do povoamento uma corrente de águas termais, fortemente mineralizada, brotou algures no interior da ilha e correu para jusante aproveitando o pequeno vale formado pela Ribeira da Chamusca. Essa torrente de águas fortemente siliciosas transbordou, ultrapassou as margens aqui e ali, cobrindo durante muito tempo rochas e depósitos de resíduos orgânicos. Acabou por revestir de branco a negra rocha vulcânica e por fossilizar muitas folhas e raminhos que arrastou e acumulou em pequenas bacias naturais de retenção, sendo disso o melhor exemplo o interior da Gruta da Branca Opala, cujo nome provém desses depósitos. Nos terrenos para onde as águas extravasaram os agricultores foram retirando do solo pedaços dessas pedras esbranquiçadas e colocado nas paredes em redor. Os depósitos provocados por essas águas siliciosas foram na década de 40 do século XX estudados pelo Dr. Leo Barthois, professor de geologia da Escola Nacional de Agricultura de Rennes, numa altura em que este visitava os Açores.9

Fonte da Água Santa, nas Quatro Ribeiras

Consoante o autor que se consulte, esta água terá sido descoberta pela população pelos anos de 1803 ou de 1813. A data incerta poderá dever-se a ter sido relativamente fácil encontrar esta nascente, ao contrário de outras, uma vez que se trata de uma saída de água doce do aquífero basal que brota em local fácil de alcançar perto da arriba e que seria já percorrido pelos mais curiosos. De facto, na freguesia das Quatro Ribeiras encontramos no vale da Ribeira Grande, onde foram construídos vários moinhos, o principal (e quase único) acesso ao mar da freguesia. Hoje serve a sua zona balnear, mas no passado terão sido várias as pessoas que chegando aqui caminharam sobre as rochas, para oriente, o que lhes permitiu observar a referida nascente entre as rochas, algo relativamente fácil de observar nestas ilhas, principalmente com a maré baixa.


Água Santa. Fotografia publicada no Álbum Açoriano de 1903, fascículo 48, p. 379.


A primeira referência escrita que encontramos é de Emiliano de Andrade em 1843: “[…] trabalham os nove moinhos, colocados abaixo da rocha junto ao mar, onde nas grandes baixa-mares se descobre uma poça de água férrea. Haverá 30 anos que a descoberta destas águas produziu uma comoção geral em toda a ilha, imaginando-se haver nelas a virtude de curar todo o género de moléstias. Por vários anos concorreram a esta nova piscina inumeráveis enfermos para usarem dos banhos daquela poça: a dificuldade do lugar e o desengano da experiência a fizeram abandonar, reconhecendo-se que não tinha a virtude, que se lhe atribuía.”10

Francisco Ferreira Drummond, paladino defensor da importância que as águas minerais podiam ter em tratamentos medicinais, não querendo deixar esquecer este potencial recurso procurou fundamento científico que atestasse da qualidade das mesmas. Em 1844 roga ao então Delegado do Conselho de Saúde Pública que se desloque à freguesia das Quatro Ribeiras e ali proceda à análise das propriedades da “água tépida, que dimana da rocha junto ao bater da maré”, fazendo o remoque: “e vejamos o quanto escapou à culpável indiferença dos Governos passados, agora nos cabe em sorte desfrutar”. Sobre esta nascente faz ainda uma contextualização: “Foi pelos anos de 1811 que se descobriu o regato de água tépida de que tratamos, e logo concorreu grande número de enfermos a procurar socorros à saúde. Era fama que muitas pessoas alcançavam melhoras, e por isso o lugar se tornou acessível, e assaz frequentado, levando-se às extremidades da ilha garrafas de água bem ou mal acauteladas; do que resultou o bom ou mau sucesso da cura, e por consequência o crédito da Medicina. Chegou por estes tempos à Terceira, na Amazona o naturalista o Sr. Vandelli, o qual a reiteradas instâncias do boticário Eustáquio Francisco de Andrade, e depois de se preparar uma máquina para tal operação, a muito custo e expensas suas, efetuou as necessárias observações daquela água que foi classificada sulfúrea (segundo se conta) e medicinal, com a virtude de curar as moléstias da pele; emitindo-se o parecer de que essas águas deviam ser parte das que se comunicavam no sítio dos Biscoitos, onde ficou extinto o vulcão de 1761. E igualmente consta que de tudo se formou processo, no qual também assinou o Doutor José Moniz Tavares, e o Físico Mor Estanislau José Coelho.”11

Volta a referir Drummond: “Pelos anos de 1806 ali junto da rocha e na baixa-mar apareceu uma pequena vertente de águas quentes sulfúreas que tinham alguma virtude de curar as moléstias cutâneas, mas ainda que a elas concorresse bastante gente, ou por serem de pouca validade as tais águas, ou pelo desleixo do Governo, o que mais se acredita, ficaram em desprezo, e entregues à fúria dos mares.”12 Da forma como escreve Ferreira Drummond depreende-se que nunca terá se deslocado ao local: “os que afirmam haver o mar entulhado o sítio da nascente, e posto inacessível o descedouro pela rocha abaixo”. Não é fácil recolher água deste tipo de nascente, onde a extrusão ocorre em locais tão próximos da influência do mar. De uma hora para a outra um movimento de vertente da arriba pode subterrar o local, ou o mar mais revolto pode depositar um volume de pedras tal que inviabilize o acesso à nascente. Mas, o mar tende mais tarde a ir buscar o que está “a mais”, deixando novamente a descoberto o que antes era visível.

Drummond acaba depois por referir também “Descobriu-se, por este mesmo tempo [pelo ano de 1803], na base da rocha do mar, em frente da igreja das Quatro Ribeiras, onde está o ilhéu do Frade, uma pequena veia de águas minerais, com virtude para as moléstias cutâneas, conforme as experiências que então se fizeram; e de facto, concorrendo a elas várias pessoas enfermas que diziam achar alívio em suas moléstias, por isso lhes chamaram — Águas Santas —: e apesar de ser a descida perigosa, e o lugar de onde se extraíam mui acanhado, não deixava de ser mui frequentado, e a freguesia, em princípio desta descoberta. Levavam-se para longe às mais remotas povoações estas águas em garrafas, (como hoje se leva a da Serreta) para delas se usar e fazerem curativos. Todavia, esperando-se que o governo interferisse, mandando acautelar um tão precioso manancial, nenhuma importância lhe deu, abandonando tudo ao primitivo estado; e sobrevindo um rigorosíssimo Inverno, que excitou os mares do norte sempre tremendos naquela costa, logo obstruiu com enormes penedos a salutífera nascente, de tal sorte que muito apenas hoje se pode indicar onde existiu. Tal é a sorte dos povos, quando as máquinas governativas se entorpecem!” Acrescentando ainda: “Parece que saía tépida.”13

Um homem de 81 anos de idade, natural das Quatro Ribeiras, com quem falei sobre a possibilidade desta água ser capaz de tratar algum tipo de enfermidade, respondeu-me de forma perentória: “Nunca ouvi dizer, mas é possível… para aqueles que tem fé”. Foi também ele que me disse ter em jovem bebido desta água e que não se recordava dela ter qualquer tipo de termalismo, efervescência ou cheiro a enxofre, parecendo-lhe tratar-se de uma água vulgar, semelhante às várias que encontramos na vizinha freguesia dos Biscoitos a correr para o mar por entre as rochas. A falta de qualidade desta água, para qualquer tipo de tratamento, que eu tão prontamente assumi, é também reflexo do que outros afirmaram no passado: que nenhuma virtude tinham encontrado no “banho e uso desta água mineral”.


Arriba na base da qual está a Água Santa, na freguesia das Quatro Ribeiras, vendo-se à direita a zona balnear.


Ainda assim Ferreira Drummond contraponha referindo que os moradores deste lugar diziam ter experimentado os seus efeitos benéficos, lamentando apenas a dificuldade em aceder ao sítio onde nascia esta água.14 Rematava dizendo: “Todavia em parte alguma se tem encontrado águas sulfúreas, exceto na freguesia das Quatro Ribeiras, onde pelos anos de 1806 se achou uma pequena veia de água junto do mar fronteiro à igreja; porém ainda que foi objeto de muitos cuidados populares, o governo pareceu dar-lhe muita pouca importância; e sobrevindo o inverno, com a fúria dos mares se obstruiu de todo o lugar da nascente.”15

A convicção e “pressão” movida por Drummond nos jornais da época era tal que Nicolau Caetano de Bettencourt Pitta teve de se manifestar: “As duas nascentes, que tanto tem dado que falar a pessoas pouco inteligentes, e que diferem das outras em geral pelo gosto e tato, são a das Quatro Ribeiras e a da Agualva”. Sobre a das Quatro Ribeiras refere em 1845: “[…] sobre o resultado das minhas observações acerca das chamadas águas sulfúreas, que correm em uma gruta próxima ao mar na freguesia de Santa Beatriz das Quatro Ribeiras, que me foram enviadas pelo Sr. José Silvestre Ribeiro para eu as analisar, cumpre-me dizer: […] A água é límpida e inodora; sabor algum tanto salino, com aparência gasosa mui ligeira. Fervida e privada de ácido, nada mostrou. Evaporada e levada à secura, por este meio produziu em 10 onças de líquido 12 grãos de uma substância salina cristalizada, de sabor mui salgado. Em análise mostrou conter muriato e carbonato de soda. Tratada pela água de cal, deixou um precipitado branco – carbonato de cal – tornado a dissolver por meio de ácido sulfúrico diluído, desenvolveu pequenas e amiudadas bolhas de gás ácido carbónico. Pela solução de acetato de chumbo apresentou um precipitado branco: Sulfato de chumbo. Pela solução de nitrato de prata, outro precipitado branco: clorato de prata em abundância. Tratada por diversos reagentes nada mostrou, devendo concluir-se que contém unicamente muriato de soda, carbonato de cal e gás ácido carbónico, presumindo-se ser tudo derivado da combinação de uma nascente de água gasosa com a água do mar que lhe fica próxima, e que a enchente da maré a inunda toda. De pouca utilidade reputo as virtudes destas águas, e a experiência já assim o demonstrou aos que delas fizeram uso e, ainda mesmo quando fossem úteis, a arriscada empresa que se apresenta em descer a montanha para chegar ao sítio onde elas nascem, esperar que a maré vaze para se tomarem, o desagradável aspeto que causa o alcantilado rochedo, que parece querer desabar sobre o observador, a perigosa descida e subida; enfim o sítio medonho a quem encara a caverna de um vulcão extinto.”16

Em registos da Junta Geral do Distrito, de 1875, qualquer capacidade medicinal desta nascente era totalmente desconsiderada, uma vez que é referida apenas a Água Azeda da Serreta e as Águas do Carapacho (ilha Graciosa) como servindo para tratamento de determinadas doenças.17

No final do século XIX ironizava-se em jornal local sobre a valia destas águas: “A água das Quatro Ribeiras é a novidade sensacional da nossa terrinha. É a Água Santa. E contam-se casos muito verídicos de curas estupendas, maravilhosas, milagrentas. Um entrevado depois de usá-la move as pernas; um dispéptico condenado à cova para breve, bebe umas garrafadas, e adeus moléstia; um reumático cura-se radicalmente; um herpético fica com a pele sem uma borbulhinha. — Já tínhamos a água das Covas para curar o mau génio [referia-se ao Chafariz do Alto das Covas], o arreganho para aplacar iras. Agora com mais esta das Quatro Ribeiras fica a nossa ilha uma terra única, terra santa, sem males nem paixões, sempre serenidade e saúde.”18



Outra imagem da costa das Quatro Ribeiras, tendo à esquerda o Boqueirão e à direita a zona onde estava a nascente.


Em 1895 sobre a freguesia das Quatro Ribeiras, Monsenhor José Alves da Silva dizia: “Notabilizou-se aí há dois anos esta freguesia com a exportação de considerável número de garrafas de água mineral que lhe corre do umbigo duma furna que costuma ser invadida pelo praia-mar. A referida água foi batizada com o pomposo e misterioso epíteto de Água Santa. Afinal é muito antiga e conhecida a dita fonte; e posto que deva ser estudada e explorada não foi esta a primeira vez que pretendessem guindar à celebridade, pois que já há muitos anos dela escreveu o Padre Jerónimo na sua Topographia […]”19

Depois disso não descobri quaisquer outras referências que mostrassem ser esta nascente “falada” no século XX por outros que não oralmente pelas pessoas da freguesia.

Os depoimentos recolhidos nos dias de hoje, de quem provou desta água e conheceu o uso que lhe era dada, referem-na como uma água salobra, comum, e que apenas era medicinal ou curativa mediante a fé ou o poder da sugestão de quem a tomava.

Fonte da Água Azeda, na Serreta

Há quem afirme, provavelmente baseado numa errada interpretação das Saudades da Terra, que esta água era já conhecida desde os tempos do povoamento da ilha. Sobre a fajã da Serreta refere Gaspar Frutuoso no século XVI: “Sendo esta terra por esta parte pobre e fresca, está nela uma fajã que terá dois moios e meio de terra, que muitos anos há se lavra nela muito pão e pastel, e tem grande fertilidade entre as outras quase estéreis, junto da qual está uma fonte de que usam os caminhantes e dois lavradores que aí moram; e chama-se a fajã de Duarte Gomes Serrão, por ser sua.”20 Obviamente que não se refere à nascente de que tratamos, mas de outra que por lá havia, bem recuada do litoral.

Tornou-se também conhecida da população em meados do século XIX uma nascente de água mineral que existia na base da arriba sul do local denominado Bico da Ponte, no lugar da Fajã da Serreta, embora sem utilização. Neste mesmo sistema hidrológico existia outra nascente no Raminho, de que adiante falaremos: “Na faixa litoral oeste da ilha, entre as localidades de Raminho e Serreta, as emergências submarinas de base ocupam uma vasta área próxima da costa, apresentando, tal como as emersas, elevados teores de dióxido de carbono dissolvido.”21


Descida à Água Azeda na Serreta. A amarelo o acesso primitivo, descendo a ponta chamada de Bico da Ponte e contornando-a, e a branco a descida com escadaria construída mais tarde. A seta indica o local da nascente.


A mais antiga referência escrita que encontrei sobre a Fonte da Água Azeda refere-se a uma reunião de vereação de 25 de julho de 1855, onde a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, não descurando com as suas obrigações no aproveitamento dos recursos do concelho, resolve que: “Constando ter aparecido uma fonte de águas minerais na rocha em frente do biscoito do Raminho, se desse disso conhecimento ao doutor delegado do conselho de saúde [à data Nicolau Caetano de Bettencourt Pitta], para proceder à análise clínica das ditas águas, a fim de conhecer-se se são ou não dignas de aproveitar-se a bem da saúde pública e da humanidade.”22

É enviado um ofício a José Augusto Nogueira Sampaio a solicitar uma análise que atestasse da qualidade da suposta água mineral recém-descoberta para aproveitamento em benefício da saúde pública. Nogueira Sampaio foi bastante célere na resposta. A 5 de agosto de 1855 oferecia à Câmara o resultado das suas experiências, onde começa por referir que esta fonte, embora fosse já “conhecida desde muito pelo povo da Serreta, era, contudo, ignorada da maioria dos habitantes da Terceira” e que talvez assim ficasse para sempre não fosse o voluntarismo e empenho de Álvaro Borges Cabral Fournier.23 Foi este quem, após conversa prévia com Nogueira Sampaio, primeiro desceu à nascente para recolher amostras de água para análise, interessado que estava em que as suas qualidades fossem estudadas pela ciência, assumindo assim a dificuldade e risco que implicava a descida da falésia costeira até à nascente, tal como Nogueira Sampaio deixou expresso no seu relatório: “No lugar denominado a Serreta, freguesia de S. Jorge das Doze Ribeiras, concelho de Angra, e na parte inferior da alta rocha que limita esta povoação, no lugar chamado “as Fajãs”, vê-se brotar de entre as pedras uma grande porção de água que depois de um trajeto não longo através das sinuosidades do rochedo se perde no oceano. A nascente desta água é impetuosa, e projeta-se longe. Na sua vizinhança não se conhece cheiro algum que denote a sua origem vulcânica. A grande proximidade a que esta fonte está do mar (do qual ela apenas dista 3 ou 4 braças [= 7 a 8 metros] faz com que nas ocasiões de vendaval ou de vento fronteiro as ondas vão misturar suas águas com as da fonte. A altura excessiva da rocha, o mau talhe que oferece, tornam a descida quase impraticável. Com efeito só homens afeitos a tais espécies de caminhos é que podem afrontar o perigo iminente, a que se expõe o homem que tenta descer por um rochedo talhado quase a prumo, e na qual é preciso procurar fendas, aonde os pés encontrem um fraco apoio.”24

Refira-se que o facto de se ter descoberto esta nascente de águas com potencial medicinal foi algo bastante mediatizado nos jornais da época. Tendo em conta todas as expectativas que envolveram esse processo, percebem-se os lamentos de Nogueira Sampaio: por não se achar suficientemente habilitado a empreender um exame tão delicado; por as amostras terem sido recolhidas de forma deficiente, o que impossibilitava uma melhor análise; e porque, para alguns parâmetros, só mesmo uma análise no local permitiria a devida avaliação, o que era impossível ser feito por ele. Ainda assim, quanto às propriedades físicas da água, concluiu que apresentava “uma limpidez e transparência excessivas, as quais ela conserva depois de muito tempo de recolhida”; a sua temperatura era a mesma da água comum; fechada numa garrafa bem vedada, produzia uma detonação semelhante à do champanhe aquando da sua abertura; colocada num recipiente transparente observava-se a formação de bolhas de gás no fundo e nas paredes; o paladar era ligeiramente ácido no início “deixando perceber alguma coisa de sulfúreo”, sem ter no entanto “o gosto característico e repugnante das águas sulfúreas”, tornando-se depois salino e desagradável; depois de bebida sobrevinham arrotos picantes. A sua densidade era superior à da água destilada e da ordinária.


Pormenor da descida da Água Azeda da Serreta.


Quanto à análise química (mais importante no aproveitamento como água mineral) Nogueira Sampaio limita-se a fazer uma análise qualitativa, mesmo porque, segundo afirma, à época não existiam na ilha Terceira aparelhos que permitissem análises quantitativas. Concluiu que era uma água mineral onde se encontravam dissolvidos gases ácidos, sobretudo o carbónico, cloro, gás sulfídrico, sulfato de cal, alumina, magnésia, cloretos de cálcio e de sódio e sais terrosos. Não detetou a presença de compostos de ferro ou iodo. Tal como na água azeda das Furnas em S. Miguel, ou noutras águas idênticas na Europa, os gases carbónicos eram aqui dominantes, tendo uma quantidade muito reduzida do gás sulfídrico que tem o cheiro tão caraterístico a ovos podres.

Era ainda opinião de Nogueira Sampaio que a semelhança desta água mineral da Serreta à água azeda de São Miguel potenciava o seu uso no tratamento de: dispepsia e atonia estomacal; clorose, anemia e moléstias com debilidade geral; afeções nervosas, reumáticas e cutâneas; ingurgitamentos de vísceras e de certas glândulas; nos tumores brancos, etc. Afirmava que esta era uma água de grande qualidade medicinal e que a sua descoberta poderia “tornar o lugar da Serreta numa bela povoação”. Acreditava que o aproveitamento deste “tesouro da natureza” poderia fazer prosperar esta localidade, sendo possível um desenvolvimento idêntico ao que tinha ocorrido em cidades da França, Alemanha, Suécia, Portugal ou mesmo no vale das Furnas em S. Miguel. Com vista ao seu aproveitamento rogava ao Governo ou a Câmara Municipal para que avançassem, desde logo, com as ações necessárias para tornar mais acessível o local, “estabelecendo uma muralha ou parapeito que protegesse aquela água contra as ondas do mar” e criando um caminho seguro para descer a rocha. Sugeriu ainda à Câmara que publicasse os resultados obtidos e incentivasse os médicos a receitarem dessa água aos seus pacientes.

A Câmara, após tomar conhecimento deste primeiro relatório, a que não podia ficar alheia mesmo porque essa era uma “nova que há dias corre de boca em boca nesta cidade, fazendo tanta mais impressão quanto é certo haver sido divulgada por um cavalheiro desta ilha, o Illmº sr. Álvaro Borges Cabral Fournier, que a provara no lugar onde aparece”, a 9 de agosto de 1855 resolve solicitar a Rodrigo Zagallo Nogueira que procedesse a nova avaliação. Na sua resposta nove dias depois, este refere que também pediu a Álvaro Fournier que lhe trouxesse uma porção da dita água, mas que não analisou por chegar mal tapada e “muito fraca ao paladar”. Entretanto, mostrando conhecer o resultado dos exames de Nogueira Sampaio, considerou haver já motivo mais que suficiente para que a Câmara tomasse providências para tornar transitável o acesso ao local onde aparece a referida água, facilitando a realização de novas análises, in loco ou recorrendo a recipientes bem vedados que possam ser enviados a laboratórios credenciados. Na opinião de Rodrigo Zagallo Nogueira a despesa para tornar este caminho transitável não teria de ser muito avultada, mas ainda que o fosse a situação merecia e exigia-o.


Outro pormenor da descida da Água Azeda da Serreta. A seta não assinala a nascente, mas o que ainda resta da escadaria em pedra desta descida.


A 22 de outubro de 1855, Nicolau Caetano de Bettencourt Pitta, delegado do Conselho de Saúde, responde finalmente ao pedido de análise da água “a fim de se conhecer se é ou não aproveitável a bem da humanidade […] que sai por uma fenda de lava à beira mar na Serreta”. Depois de muito indagar Nicolau Pitta percebeu que a descida até à nascente era muito má, ao ponto de ele próprio desistir lá ir. Acabou por mandar vir às suas custas 4 garrafas de água que lhe chegam no dia 8 de agosto, tendo o portador declarado que “lá não iria mais por ser muito perigosa a descida”. Não considerou de importância a água que analisou porque não continha “ferro ou enxofre algum […] é de natureza salobra como a das Quatro Ribeiras, com a diferença de que esta [a das Quatro Ribeiras] nasce morna à beira mar, e sai da boca de um vulcão extinto. A água da Serreta colhida no mesmo dia é fria, inodora, de sabor picante, o que é devido ao ácido carbónico que contém, e que a faz crepitante deitada em um copo, mas passados 4 dias apodrece e exala aquele cheiro que tem a aguada a bordo dos navios.”25

Apesar das opiniões divergentes, a conclusão a que a Câmara chegou, com base nos pareceres conhecidos, foi que a água não teria qualidade suficiente para ser aproveitada.26 Entretanto, terá revisto a sua posição, porque mandou no ano seguinte que se fizesse uma descida até à nascente, obra que acabou vitimando um dos trabalhadores: “DESASTRE – A semana passada, andando um homem na rocha do mar, no sítio da Serreta, a trabalhar numa escavação que a Câmara ali manda fazer, para dar acesso à fonte de água mineral que se descobriu o ano passado naquele lugar, caiu e fez-se em pedaços. Foi vítima da falta de cautela com que estava trabalhando, pois se tinha colocado pela parte inferior do lugar que escavava, de tal modo que despegando-se uma pedra o arremessou no precipício.”27

Mais tarde voltou a Câmara a questionar Rodrigo Zagallo Nogueira a 5 fevereiro de 1858 e Nogueira Sampaio a 16 de março de 1858 (que desde o ano anterior era já o novo delegado do Conselho de Saúde), recebendo destes ofícios a informar da utilidade da água mineral da Serreta, e asseverando de “ser muito profícua para moléstias de estômago e incómodos de intestinos, e outras moléstias.”28

Nesse mesmo ano de 1858 a Câmara termina a construção de uma vereda que contornava a ponta chamada de Bico da Ponte, para facilitar a descida até à nascente de água mineral.29 A fim de que a vereda se não estragasse, no início do ano seguinte a Câmara anunciava que era “proibido o trânsito de cabras ou de outros quaisquer animais pelo caminho que conduz à fonte denominada de Nossa Senhora dos Milagres, e pelo qual se vai buscar as águas minerais da mesma fonte, muito proveitosas à salubridade pública.” 30


Pormenor do local onde pensamos estaria a fenda por onde se entrava para recolher a Água Azeda da Serreta.


Quando em 1867 Ferdinand André Fouqué visitou os Açores com o intuito de estudar a erupção submarina da Serreta que teve o seu início a 1 de Junho de 1867, a poucos quilómetros da costa, um jornal local referiu: “Acha-se entre nós mr. Fouqué, sábio naturalista francês, e que vem fazer aprofundados estudos às nossas ilhas. Às municipalidades cumpre fornecer a mr. Fouqué toda a facilidade para levar a cabo os seus estudos. É para desejar que a digna Câmara de Angra peça a mr. Fouqué para que analise as águas da Serreta e Silveira, facilitando-lhe o acesso a esses lugares.”31

No Esboço do anteprojecto para a captação da água minero-medicinal da Serreta,32 a que adiante voltaremos a aludir, é referido que Fouqué terá descrito esta água como estando no fundo de um poço de 6 metros de profundidade, sendo nessa época a altura da água de 2 m, a sua temperatura era semelhante à temperatura ambiente, as emanações de gás carbónico eram por vezes tão abundantes que a recolha da água por meio de baldes ou latas se tornava perigosa. No entanto, não deixou escrita essa informação nos trabalhos que publicou, nem tampouco o facto de ter visitado esta nascente. Apesar de nessa altura a vereda por onde se descia estar provavelmente mais instável por conta da crise sísmica que ocorreu antes e após a erupção submarina da Serreta, o certo é que Fouqué poderia ter eventualmente não descido, mas desembarcado, uma vez que andou no mar a recolher amostras provenientes da erupção.

Quanto à perigosidade na recolha da água o padre João Guilherme da Costa, pároco da Serreta, relatou ao geólogo Charles Joseph Sainte-Claire Deville, que visitou a ilha Terceira em agosto de 1867 ainda no contexto dessa crise sísmico-vulcânica, que: “Perto da costa, entre a Serreta e Raminho, num local chamado de Fajã, existe uma nascente termal, ferruginosa, que liberta tão grande quantidade de ácido carbónico que há cinco anos três pessoas ali morreram asfixiadas.”33 Daqui se deduz que as emanações de gases tóxicos, os mesmos que terão causado nos nossos dias a morte a várias pessoas no interior da Furna do Enxofre na ilha Graciosa, eram por vezes tão abundantes e acumulavam-se em tamanhas concentrações, que a recolha da água do dito poço, com recurso a baldes ou latas, como se pensava ser feita, terá asfixiado estes homens. Refira-se que não encontrei nos assentos de óbito da Serreta e Doze Ribeiras quaisquer referências que me permitissem identificar estes óbitos, mas, eventualmente surgiriam caso a pesquisa tivesse sido conduzida a outro campos.


Pormenor da escadaria no local da nascente da Água Azeda da Serreta.


Em 1873 resolvia a Câmara reabilitar “o difícil caminho que conduz à fonte de águas minerais da Serreta para que o público se possa aproveitar dos seus efeitos medicinais”,34 mas dois anos depois o acesso estaria semelhante: “Duas Fontes de água profícuas para o tratamento de determinadas doenças existem neste distrito, uma no lugar da Serreta, concelho de Angra, outra no Carapacho na ilha Graciosa. Porém o acesso a estes lugares é difícil pelos péssimos atalhos que ali conduzem. Julgamos, por isso, convenientes pedir que o governo conceda uma verba para a construção de caminhos que facilitem a exploração daquelas águas.”35

Em 1885, numa reunião da vereação da Câmara, leu-se um ofício do Conde da Praia onde este instava a Câmara a recolher uma porção de “água azeda”36 da Serreta, suficiente para se proceder em Lisboa à sua análise, a fim de que “no caso de se lhe reconhecer boas qualidades, se procurar os meios de a fazer conhecida, o que decerto é útil para esta terra.”37 Dois anos depois o município angrense deliberou aguardar disponibilidade para custear a despesa da análise desta água,38 intento que não terá sido concretizado nos anos seguintes, como o atesta mons. Alves da Silva quando em 1895 refere que esta água devia ser convenientemente estudada.39


Rótulo da Água Azeda da Serreta. Data posterior a 31 de julho de 1920.


Encontrei uma curiosa publicidade da Tabacaria Americana de 1891, que ao promover a venda de bebidas coloca a “Água da Serreta” na categoria dos “Xaropes”.40

Em 1889 a Câmara Municipal mandava construir um novo acesso, supostamente mais seguro e confortável, do lado oposto ao primeiro, saindo agora mais perto do local onde estava a nascente da Água Azeda, “fazendo abrir na rocha uma escadaria com duzentos degraus.”41 Sabe-se que em 1895 vários habitantes da Serreta pediam à Câmara para reparar esta nova vereda.42

No início do século XX correu nos jornais uma polémica acerca de uma avultada “reparação do caminho para a água azeda” que a Junta Geral efetuou em 1903 num caminho municipal que havia na fajã, com o objetivo de facilitar o acesso à nascente da água medicinal da Serreta. A celeuma surgiu pelo facto de o povo utilizar outro caminho que já existia, mais comprido apenas alguns metros, e porque depois da obra concluída a nascente da água azeda continuou servida pela mesma perigosa descida que antes tinha na escarpada rocha, mas, ao que parece, um certo procurador à Junta Geral e seus familiares conseguiram ficar com uma melhor servidão a uns terrenos que lá possuía.43

Notícia de 1903 avançava: “Vai ser analisada na Estação Químico-Agrícola a água azeda da Serreta, por ordem da Junta Geral”44 mas no ano seguinte Sampaio fazia o reparo, referindo-se ainda à análise química protagonizada por Nogueira Sampaio em 1855, pois nenhuma outra mais tinha sido feita: “A verdadeira fonte de água mineral que possuímos é a denominada Água Azeda, situada na Serreta, no lugar da Fajã, e na parte inferior da alta e escarpada rocha que limita esta freguesia. […] Com grande dificuldade conseguem alguns dos habitantes da Serreta descer à fonte, que está em parte obstruída […] que poderia ser útil aos terceirenses, e convenientemente explorada, uma fonte de riqueza para a ilha Terceira. […] Com esta composição, pode colocar-se a par de muitas águas minerais, estrangeiras e nacionais, tais como as de Vichy, Seltz, Nassan, Vidago, etc., tanto empregadas no tratamento das dispepsias, anemia, cloroanemia, etc.45


Água da Serreta publicitada como “Xarope”.


Entretanto, no princípio do séc. XX continuava-se a acreditar nas virtudes da Água Azeda da Serreta, que era consumida pela população que procurava nela o alívio de certas maleitas: “Levavam-se para longe, às mais remotas povoações, estas águas em garrafa, como hoje se leva a da Serreta, para delas se usar e fazer curativos”.46 Em maio de 1912, a Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada contrata o Eng.º Charles Lepierre, professor do Instituto Superior Técnico de Lisboa, para proceder a novas análises físico-químicas às águas minerais do Vale das Furnas. Em 1920, por sua iniciativa, Charles Lepierre procedeu à análise da Água Azeda da Serreta no laboratório de química analítica do Instituto Superior Técnico em Lisboa, de que era Diretor, tendo chegado à conclusão de que se tratava de uma água ácida, cloretada, carbonatada, siliciosa, com uma mineralização de 1,2665 gr/litro.47 Com data de 31 de julho de 1920 enviou o seguinte relatório:



V – Conclusões

Água acídula, gazo-carbónica, mesosalina, cloretada sódica (50% a mineralização é formada por cloretos), carbonatada cálcica e magnésica, silicatada.

Em 1928 a Comissão Administrativa da Junta Geral, a quem competia deliberar sobre as águas mineromedicinais,48 comunica à Câmara Municipal ter-lhe sido requerida a concessão da exploração da nascente denominada de “Água Azeda da Serreta” e convida a Câmara a expor sobre quaisquer direitos que julgue ter sobre as ditas águas. Apesar da Câmara considerar que a exploração da dita nascente tinha estado efetivamente a cargo do município, nada opôs quanto à exploração da mesma pela iniciativa privada.49 Em breve surgia nos jornais uma publicidade onde se mostrava a composição química encontrada por Lepierre, que indiciava a intenção de comercializar esta Água da Serreta na forma engarrafada. Essa iniciativa terá sido uma verdadeira epopeia, pela dificuldade de acesso ao local e pela forma primária como teria de ser recolhida a água… ficando ainda por avaliar qual terá sido efetivamente a procura comercial por esta água.

Em 1949 a Junta Geral informa que as Obras Públicas haviam gasto 951$00 no “Arranjo da Fonte de Água Mineral da Serreta e respetivo acesso” e 5.008$00 com “Despesas de manutenção e limpeza e guarda de fontes de águas minerais da Serreta e Raminho”.50 Nos anos seguintes a Junta Geral apresentou uma despesa de 4.875$70 em 1950 e de 5.008$00 em 1951 para o salário do “Guarda das fontes de água mineral da Serreta e Raminho”, e de 5.056$40 em 1952 e de 5.008$00 em 1953 para “Despesas de Manutenção, limpeza e guarda de fontes de águas minerais na Serreta e Raminho”.51

O poço estava entulhado em 1967, tendo-se procedido no ano seguinte aos trabalhos de limpeza e desobstrução. Em 1969 Octávio Veiga Ferreira e Georges Zbyszewski, dos Serviços Geológicos de Portugal, produzem o já referido “Esboço de ante-projeto para a captação da água minero-medicinal da Serreta (ilha Terceira)”. Neste documento referem o que viram na primeira visita realizada em 1967, uma descrição que nos ajuda hoje a inferir o local onde estaria a nascente: “Junto da nascente de água minero-medicinal e de cima para baixo, a escarpa apresenta a seguinte sucessão: 10 – projeções vulcânicas amarelas; 9 – duas bancadas de lavas andesíticas separadas por um nível de escórias castanhas (8-10 m); 8 – projeções vulcânicas amarelas (1-1,20 m); 7 – andesito negro (1,50 m); 6 – projeções vulcânicas amarelas com calhaus rolados (3-5 m); 5 – bancada de andesito cinzento (2 m); 4 – projeções vulcânicas amarelas com calhaus rolados (1-1,50 m); 3 – lavas andesíticas cinzentas formando 6 a 7 bancadas separadas por escórias castanhas ou por tufos amarelados (20 m); 2 – Tufo vermelho (0,80 m); 1 – Cone de escórias avermelhadas assentando sobre uma lava andesítica mais antiga que mergulha no mar. O cone é coberto, em discordância, pelas formações acima referidas. Um filão andesítico quase vertical (dique) de orientação NW-SE corta o cone de escórias. A água mineromedicinal nasce ao contacto do filão acima referido, na base das arribas.”52

Fazem ainda referência ao cenário que encontraram e aos trabalhos de desobstrução que estavam a decorrer: “a parede do poço, do lado do mar, tinha sido desmontada e a maior parte do entulho retirada. A água começava a surgir, sobretudo, na maré cheia. As emanações do gás carbónico tornaram-se tão intensas que dificultavam seriamente a marcha dos trabalhos. Ficou assente que na continuação das obras de saneamento seria necessário realizar a limpeza total da caixa do filão. O trabalho terá de começar ao nível do mar e subir até à escavação realizada no poço. A trincheira assim aberta permitirá o escoamento natural do gás carbónico, mais denso que o ar, permitindo ao mesmo tempo observar a nascente ou nascentes que serão postas assim a descoberto. O acesso à fonte processa-se atualmente por uma estreita vereda em degraus escavados no flanco da escarpa, a cerca de mil metros do Farol” e “cuja limpeza foi realizada recentemente.”53 Era opinião destes autores que após o processo de limpeza dos detritos e desobstrução do poço, seria altura de captar a nascente e, caso o caudal permitisse uma exploração industrial, bombeá-la para um tanque de receção construído nos terrenos no cimo da escarpa, de onde seguiria depois para os balneários e oficina de engarrafamento a construir.

No início dos anos de 1970 a descida para a Água Azeda chegou a ser promovida pela Estalagem da Serreta junto dos seus clientes como um recurso turístico. Em 1975 foi nomeada uma Comissão pela Junta Geral do Distrito para proceder aos estudos necessários e emitir um parecer, que permitisse tomar uma decisão quanto à futura captação e exploração das águas minero-medicinal que “brotavam na Rocha do Farol, na zona marítima da Serreta.”54 Com base no parecer que resultou da avaliação desta comissão a Junta geral decidiu que esse assunto não deveria ter prosseguimento. Via-se assim definhar qualquer ideia de futuro que ainda pudesse existir para o aproveitamento desta água, saindo a notícia com o título: “Água da Serreta, assunto que pára”.55

As derrocadas que ocorreram na falésia costeira, provavelmente uma consequência do forte Sismo de 80, destruíram a escadaria que existia na rocha, feita pela Câmara, e que servia de acesso à plataforma junto ao mar, por onde se acedia à nascente, tornando impossível as descidas por aqui. Cota Rodrigues no seu trabalho56 refere por diversas vezes a nascente da Água Azeda da Serreta e a da Água Nova do Raminho, entre outras, como sendo nascentes basais emersas com elevados teores de dióxido de carbono dissolvido. No entanto, tal com aconteceu a todos os outros, depois de 1980, não a visitou. Aliás, o que se sabe desta nascente é com base exclusivamente em visitas anteriores ao forte terramoto que se fez sentir a 1 de janeiro desse ano.

No entanto, apesar dos danos e instabilidade causada a esta arriba pelo Sismo de 80, por volta do ano de 1995 eu próprio e o Fernando Pereira, meu colega na Associação Os Montanheiros, descemos aquela que pensamos seria o primitiva via, que “torneava a rocha”, que ainda era praticável, embora com risco e custo. Fomos até à plataforma lávica 60 metros abaixo, na base da arriba, contornámos o Bico da Ponte e seguimos para sul sobre a rocha e calhau rolado. Acabamos por não chegar até ao local onde existiria o “poço” porque não tínhamos referências precisas sobre a sua localização, e pareceu-nos que as derrocadas provocadas pelo Sismo de 80 numa zona de escórias teriam soterrado a entrada. É provável que esta água estivesse resguardada da ondulação do mar por estar localizado no interior da rocha, entrando-se por uma fenda. Hoje o poço estará certamente entulhado com as derrocadas e a própria entrada da fenda total ou parcialmente obstruída.

Num depoimento recente de Sérgio Cardoso, figura muito conhecida da Serreta, nos dias em que a maré baixa era conveniente, ia buscar 1 ou 2 garrafões de água. O acesso acabava por ser muito fácil, porque a escadaria era bem mais larga do que aquilo que os degraus que hoje sobraram após a derrocada de parte daquela barreira mostram. Nos fins de semana de verão, quando a maré era favorável, ia muita gente da freguesia, e de fora da freguesia, pescar e merendar, enquanto passavam o dia lá em baixo. Misturavam a água com vinho e açúcar e todos bebiam, inclusive as crianças, como se fosse um refresco, “como os pirolitos, uma maravilha”. “Nem todos conseguiam entrar dentro da fenda onde estava o poço, devido ao muito gás que por vezes se acumulava. Chegaram a usar equipamentos rudimentares que permitia a quem entrava receber ar do exterior para respirar melhor. A água apresentava uma temperatura fresca e era bebida no próprio dia ou no outro seguinte, para resolver questões gastrointestinais e enfartamento “como se fosse um Kompensan”. Quando armazenada, ao fim de 4 ou 5 dias mesmo tapada perdia o gás e “criava uma espécie de geleia”. A água era trazida em garrafões de vidro, bem rolhada, mas frequentemente a pressão no interior era tal que rebentava com o garrafão. Contando com a Água Azeda, juntando a Baía Grande à Baía Pequena, estavam identificadas um total de 9 nascentes, surgindo de uma forma geral todas em filões basálticos, e aproveitando os pescadores para, em algumas destas, na maré vazia, retirar a água com uma latinha para matar a sede.

Fonte da Água Nova, no Raminho

O nome de “Água Nova” terá resultado do facto de ter sido descoberta posteriormente à Água Azeda da Serreta, estando afastadas ambas as nascentes por uma distância de cerca de 1250 m em linha reta. Sabemos que o povo do Raminho já ia buscar esta água em 1935,57 que era reputada como possuindo maravilhosas e garantidas qualidades terapêuticas na cura de inflamações cutâneas.


Local onde se recolhia a Água Nova, no Raminho.


Em 1935 a Junta Geral de Angra mandou proceder a uma análise destas águas junto do Prof. Charles Lepierre, no Laboratório de Química Analítica do Instituto Superior Técnico de Lisboa, tal como anos antes havia sido feito por este ilustre professor para a Água Azeda da Serreta.


Outra imagem do local onde se retirava a “Água Nova”, no Raminho.


Nesse mesmo ano tornava-se público o resultado das análises realizadas à “Água do Raminho”. Apesar das limitações devido à quantidade e qualidade das amostras enviadas, o resultado mostrava tratar-se de uma “água mineral possivelmente medicinal”, de aparência límpida, sabor agradável, incolor e inodora, e sem depósito. Tinha teores elevados de cloretos, sulfatos, carbonatos, sais de cálcio, sais de sódio, e valores menores noutros elementos.

Charles Lepierre procedeu também à análise da água do Raminho58, enviando o seguinte relatório com data de 16 de dezembro de 1934: 59



Recorrendo ao precioso depoimento de Eduíno Ornelas, figura nascida no Raminho e sobejamente conhecida por toda a ilha Terceira, foi possível recolher algumas informações para memória futura: Acedia-se à nascente que o povo chamava de “Água Nova” descendo a Canada das Pedras, a norte do Cabo do Raminho, até ao mar. Uma vez aí chegados virava-se à direita, para o lado do Raminho e caminhava-se até chegar a uma entrada de mar, hoje junto a uma pequena zona de calhau rolado. Aí, junto à arriba existia um poço enfiado na rocha. A parte da frente virada ao mar foi protegida e o poço afundado, ficando semelhante a uma arquinha arrematado superiormente por umas pedras de cantaria que sustentavam uma pequena porta de ferro. Para retirar a água levantava-se a tampa e fazia-se descer com um cordel uma lata que levava presa uma pedrinha. Chegando à água, a pedra obrigava a lata a afundar-se e a encher, chegando por vezes à superfície morna e outras vezes não. A água retirada com a maré baixa era a de melhor qualidade, pois com a subida da maré começava a fica inquinada com a água do mar, tornando-se mais salobra. A água era passada para garrafas e possuía uma gaseificação tal, que era o suficiente para que a pressão atirasse a rolha fora ou rebentasse com a garrafa. Alguma dessa água engarrafada seguia em carroça até às Lajes, Vila Nova e noutras freguesias, o que demonstra que a importância desta água mineral não se resumia apenas ao uso pela população do Raminho e das freguesias vizinhas.

Tal como acontecia também junto da Água Azeda, também aqui se juntavam muitas pessoas aos domingos no calhau, junto ao mar e à nascente, que iam pescar e passar parte do dia. Levavam vinho e açúcar e misturavam com esta água fazendo um tipo de refresco ou “pirolito” que se bebia nos dias quentes de verão. Já depois do Sismo de 80, por volta de 1985/86 Eduíno Ornelas e outras duas pessoas, com o apoio da Junta de Freguesia, tentaram desobstruir a derrocada que desabara sobre o poço. Infelizmente o trabalho teve de ser interrompido porque uma parte da arriba voltou a desabar.

Hoje não se regista o consumo de águas mineralizadas nativas da ilha Terceira.

1 FRUTUOSO, Gaspar (2005) – Saudades da Terra, vol. VI, p. 19.
2 LINSCHOTEN, Jan Huygen van (1997) – Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Huygen van Linschoten para as Índias Orientais ou Portuguesas, p. 340. Arie Pos e Rui Loureiro, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos
3  CHAGAS, Diogo das (1989) – Espelho cristalino em Jardim de Várias Flores, pp. 237-238.
4 Jornal “O Angrense” de 27 de março de 1845.
5 CHAGAS, Diogo das (1989) – Espelho cristalino em Jardim de Várias Flores, p. 238.
6 Jornais “A Terceira” de 14 de novembro e 14 de dezembro de 1907.
7 PEREIRA, José Com. (1950) – A Diocese de Angra na História dos seus Prelados, p. 43.
8 DRUMMOND, Francisco Ferreira (1990) – Apontamentos Topográficos, Políticos, Civis e Ecclesiásticos para a História das nove Ilhas dos Açores servindo de suplemento aos Anais da Ilha Terceira, p. 282.
9 AGOSTINHO, José (1948) – Sur une roche silicieuse de Biscoutos., Ile Terceira, Açores, Açoreana, vol. IV, nº 3, pp. 246-249.
10 ANDRADE, Jerónimo Emiliano de (1843) – Topographia ou descripção phisica, política, civil, ecclesiastica, e historica da ilha Terceira dos Açores. Parte Primeira, pp. 198-199.
11 Jornal “O Angrense” de 28 de março de 1844.
12 DRUMMOND, Francisco Ferreira (1990) – Apontamentos Topográficos, Políticos, Civis e Ecclesiásticos para a História das nove Ilhas dos Açores servindo de suplemento aos Anais da Ilha Terceira, p. 287.
13  DRUMMOND, Francisco Ferreira (1984) – Anais da ilha Terceira, vol. III, p. 140.
14  Jornal “O Angrense” de 20 de fevereiro de 1845.
15  DRUMMOND, Francisco Ferreira (1990) – Apontamentos Topográficos, Políticos, Civis e Ecclesiásticos para a História das nove Ilhas dos Açores servindo de suplemento aos Anais da Ilha Terceira, p. 132.
16  Jornais “O Angrense” de 27 de março de 1845 e “O Terceirense” de 26 de março de 1845.
17  Livro de Atas das sessões da Junta Geral de Distrito, nº 7 (1875-1878), p. 6. Parecer da Comissão Consultiva encarregue de examinar o Relatório de 1875.
18  Jornal “A União” de 24 de setembro de 1894. Assina como sendo autor destas palavra: Valério.
19  Jornal “A União” de 5 de outubro de 1895.
20  FRUTUOSO, Gaspar – Saudades da Terra, p. 17. Instituto Cultural de Ponta Delgada.
21  RODRIGUES, Francisco Cota (2002) – Hidrogeologia da Ilha Terceira, p. 230. Universidade dos Açores.
22  Acórdão da CMAH de 25 de julho de 1855.
23  “Está a freguesia hoje muito aformoseada com bons edifícios, distinguindo-se a casa de Álvaro Fournier” SILVA, Mons. Alves da (1891) – Topographia ou descripção phisica, política, civil, ecclesiastica, e historica da ilha Terceira dos Açores, p. 360. “A casa do Fournier, que se distingue das demais pelas suas janelas em ogiva, ainda existe, um pouco fora da estrada, junto da Canada do Alves.” MERELIM, Pedro de (1974) – As 18 Paróquias de Angra, p. 763.
24  Jornal “O Angrense” de 24 e 31 de janeiro e 9 de fevereiro de 1856.
25  Jornal “O Angrense” de 24 de janeiro de 1856.
26  Acórdão da CMAH de 24 de outubro de 1855.
27  Jornal “O Angrense” de 4 de setembro de 1856.
28  Acórdão da CMAH de 17 de março de 1858.
29  SAMPAIO, Alfredo da Silva (1904) – Memória sobre a Ilha Terceira, p. 330.
30  Acórdão da CMAH de 19 de janeiro de 1859.
31  Jornal “O Angrense” de 2 de outubro de 1867.
32  Jornal “A União” de 14 de fevereiro de 1975.
33  Traduzido de: Charles Joseph Sainte-Claire Deville & Janssen (1867) – Récit de l’éruption sous-marine qui a eu lieu, le Ier juin 1867, entre les îles de Terceira et de Graciosa, aux Açores, julho-dezembro, p. 664. C. R. Acad. Sci. de Paris, t. LXV.
34  Acórdão da CMAH de 28 e maio de 1873.
35  Livro de Atas das sessões da Junta Geral de Distrito, nº7 (1875-1878), p. 6. Parecer da Comissão Consultiva encarregue de examinar o Relatório de 1875.
36  Este o primeiro registo que encontrámos onde esta água é denominada de “Água Azeda”. Começou por ser referida inicialmente como fonte de águas minerais e Fonte de Nossa Senhora dos Milagres.
37  Acórdão da CMAH de 9 de setembro de 1885. Na mesma carta o Conde da Praia indica também a conveniência de se colher uma porção da “água termal que corre na baía da Silveira”, para que fosse também submetida a análise.
38  Acórdão da CMAH de 16 de março de 1887.
39  SILVA, Mons. Alves da (1891) – Topographia ou descripção phisica, política, civil, ecclesiastica, e historica da ilha Terceira dos Açores, p. 360.
40  Jornal “O Athleta” de 19 de agosto de 1891.
41  SAMPAIO, Alfredo da Silva (1904) – Memória sobre a Ilha Terceira. p. 330. Na realidade, já em 1902 o jornal “A Semana” de 7 de setembro dizia nada restar desta escadaria.
42  Acórdão da CMAH de 28 de agosto de 1895.
43  Jornais “O Angrense” de 22 de novembro e 19 de dezembro de 1902 e de 3 de março de 1904.
44  Jornal “A Semana” de 24 de maio de 1903.
45  SAMPAIO, Alfredo da Silva (1904) – Memória sobre a Ilha Terceira, p. 330.
46  Almanaque Açores de 1911.
47   Anuário da Junta Geral de 1950, pp. 211-212 e ainda FREIRE, Pedro Artur Teles (2013) – Recursos Hidrominerais dos Açores: Hidrogeologia e avaliação do potencial socioeconómico. Departamento de Geociências, Universidade dos Açores, Ponta Delgada. Dissertação de Doutoramento. p. 487.
48  Decreto 15035 de 16 de fevereiro de 1928, publicado em Diário do Governo .39/1928, Série I de 16 e fevereiro de 1982.
48  Acórdãos da CMAH de 16 e 23 de agosto de 1928.
50  Anuário da Junta Geral de 1949, p. 82 e 84.
51  Anuário da Junta Geral de 1950, p. 90, Anuário da Junta Geral de 1951, p. 111 e Anuário da Junta Geral de 1952-1953, pp. 204, 232.
52  Jornal “A União” de 14 de fevereiro de 1975.
53  Esquema apreciado na reunião da Junta Geral do Distrito, de 10 de julho de 1969 e constante do dossier “Água da Serreta” daquele corpo administrativo.
54  Jornal “A União” de 12 de fevereiro de 1975.
55  Jornal “Diário Insular” de 25 de maio de 1975.
56  RODRIGUES, Francisco Cota (2002) – Hidrogeologia da ilha Terceira (Açores – Portugal), p. 486. Universidade dos Açores.
57 Jornal “A Pátria” de 6 de janeiro de 1935.
58 Anuário da Junta Geral de 1950, pp. 213-215.
59 Anuário da Junta Geral de 1950.

Paulo Barcelos, CMAH e Associação Os Montanheiros

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Última actualização em 2024-12-16