O Luís Quinta é um excelente fotógrafo de natureza. “Excelente” pela sua capacidade de obtenção de imagens que, para além de ilustrarem uma realidade, fazem a nossa imaginação flutuar sobre o tema e ir procurar mais informação ou dão-nos aquela inspiração que nos faz resolver o maior problema do mundo. Mas não fica por aqui. O Luís Quinta é também um mestre. É um fotógrafo que não se fecha no seu mundo, antes pelo contrário. O Luís ensina tudo o que sabe e está sempre pronto para colaborar em qualquer projecto interessante. Desde o pequeno detalhe do urticante verme-do-fogo até à espectacular paisagem subaquática o Luís ilustra, o Luís partilha e o Luís ensina.
Já nem sei há quantos anos encontrei o Luís pela primeira vez nos Açores… Seria a meio dos anos 90, certamente, mas para ele não era a primeira vez que pisava o solo desta terra e que mergulhava no nosso mar. Desde então, tenho acompanhado as suas frequentes sessões de trabalho com os cientistas marinhos dos Açores, as suas aulas e as competições onde é sempre convidado para júri.
Este último detalhe é importante. Porque, de facto, é conhecedor da matéria, porque é afável e porque é reconhecidamente imparcial, o Kinta (para os amigos) transformou-se numa das maiores referências nacionais do mergulho e da fotografia do mundo selvagem. Lentamente, também com umas aventuras no mundo do vídeo, foi-se impondo como uma promessa na comunicação da natureza de Portugal. Com intervenções críticas e pertinentes sobre a gestão do mundo natural, desde que criou a revista Mundo Submerso que é ouvido por todos e as suas sugestões, se não seguidas totalmente, são excelentes auxílios à decisão.
A selecção de imagens que aqui é feita dá-nos a Baía de Angra num “instantâneo”. Ao ver estas imagens, identifica-se imediatamente um mergulho numa zona costeira dos Açores. Desde a fonte de vida, representada pela “postura de castanheta”, até aos detalhes de rainhas, como só o Luís Quinta consegue fazer, tudo é ambiente marinho entre a rocha e a areia dos Açores. Pessoalmente, neste local, não esqueço o dia em que, em plenos destroços do Lidador, o mais pequeno polvo que havia observado intrepidamente me atacou a máscara de mergulho. O pequenote ainda me pregou um belo susto.
O Luís Quinta capta interessantíssimos detalhes. Por exemplo, desafio que, honestamente, detectem as diferenças entre a solha e a areia. Se não fosse o rebordo da barbatana o mimetismo seria quase perfeito. Dentro de água, com este padrão e o total imobilismo, são verdadeiras espiãs que apenas detectamos depois de treinarmos o olho.
Mas o que individualiza a Baía de Angra são os achados arqueológicos. Para além do mundo natural, não beliscado, entre âncoras largadas em desespero, canhões dos derrotados e fantasmas de cascos que foram as naves espaciais quinhentistas, respira-se aqui humanidade, aventuras e desastres trágicos, uns vítimas do vento carpinteiro, dos azedumes de Neptuno, outros da inépcia, incúria ou da maldade que caracteriza todos os confrontos. A Baía é uma assinatura do passado açoriano. Estes são os 475 anos da Angra cidade, aquele momento que fica entre o pequeno povoado e o Heroísmo que hoje, por direito próprio, embeleza o seu nome e dá orgulho aos aqui nados.
Frederico Cardigos, Biólogo Marinho