Em 1553, D. João III ordenou a D. Frei Jorge de Santiago, 3.º Bispo de Angra, que edificasse na cidade uma segunda paróquia, através da elevação da ermida preexistente, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, cuja fundação (ca.1461-1474) se associa à iniciativa de Álvaro Martins Homem, um dos primeiros povoadores da Ilha Terceira. As primeiras obras de monumentalização do novo templo paroquial terão decorrido na segunda metade do século XVI, uma vez que, em 1582, D. António de Portugal (Prior do Crato), antes da sua partida da ilha, ofereceu 500 cruzados de esmola, para aplicar na conclusão do edifício.
Da 2.ª metade do século XVI e 1.ª metade do século XVII subsistem vários elementos arquitetónicos, alguns dos quais determinantes na organização espacial interior deste imóvel, como o corpo da igreja, as capelas colaterais na cabeceira, e ainda, o batistério e a torre sineira, inscrevendo-se nesta última uma caixa de escadas de lanço único, helicoidal, em pedra, e um pequeno compartimento em abóbada de aresta, um dos elementos mais vetustos do edifício.
Ao ingressarmos neste templo, ultrapassado o guarda-vento oitocentista, de elegante desenho de gosto Neoclassicista, encontramos um interior pontuado pela sobriedade arquitetónica típica do Maneirismo seiscentista português, com o corpo organizado em três naves (a central mais larga que as laterais), separadas por arcos de volta perfeita, os quais descansam em quatro pilares de secção quadrangular. Na cabeceira, a largura da capela-mor faz prolongar a profundidade visual da nave central, e as capelas colaterais preservam a sua cobertura original, em abóbada de volta perfeita com caixotões, em pedra, onde se inscreveram florões esculpidos em relevo médio (elementos que, no caso da capela do Santíssimo Sacramento, foram posteriormente picados para fixação de caixotões em talha dourada, que o Sismo de 1980 infelizmente desagregou).
Teve esta igreja a primeira colegiada da Ilha Terceira, facto representativo de notoriedade que encontra reflexo no investimento constante no seu zelo e melhoramentos artísticos. Deste modo, subsistem importantes realizações, sobressaindo as obras em talha dourada e policromada dos retábulos laterais (inícios de Setecentos), do retábulo da capela colateral do Santíssimo Sacramento (década de 1650), do monumental arco triunfal e retábulo-mor (ca.1704). Estas manifestações artísticas complementam-se com algumas criações pictóricas, como a interessante pinacoteca da capela-mor, encomenda (ca.1702) da Fazenda Real (assinalada pelas armas reais colocadas sobre o arco triunfal) ao pintor-dourador Pedro de Oliveira, a qual integra, na estrutura do teto de caixotões, 25 quadros dedicados à iconografia da Vida da Virgem, e ainda, nas ilhargas da capela-mor, as representações, em escala monumental, da Natividade e Adoração dos Magos, as quais se complementam por telas com os quatro Evangelistas, e com representações de outros santos, não esquecendo o retrato do bispo fundador da paróquia.
Desde a sua fundação à atualidade foram várias as intervenções artísticas realizadas no edifício, as quais resultaram no aspeto que encontramos hoje: um interior eclético que beneficia, por um lado, da reunião de intervenções acontecidas durante mais de quatro séculos, resultantes de diferentes testemunhos de Fé e Piedade, e, por outro, da reutilização e preservação de bens provenientes de outros templos da ilha, como a imagem de São Sebastião (proveniente da extinta comunidade feminina franciscana capucha de Angra), o órgão histórico no coro alto produzido por António Xavier Machado e Cerveira (1815), proveniente do extinto Mosteiro da Luz da Praia da Vitória, ou os três painéis em alto relevo, dourados e policromados, seiscentistas, que compõem um supedâneo para a exposição do Lausperene, estrutura proveniente do antigo Colégio da Companhia de Jesus de Angra, extinto em 1759.
As consequências do Sismo de 1980 sobre o património cultural deste templo foram suplantadas pelos esforços de uma vasta equipa de homens e mulheres, cuja dedicação e empenho na sua recuperação, operados ao longo de várias décadas, permitiram que a sua magnificência e dignidade não esmorecessem. Após a sua reconstrução, precisamente no dia 07 de dezembro, véspera da Festa da Imaculada Conceição do ano de 1987, foi esta igreja reaberta ao culto, dedicada e, simultaneamente, elevada a Santuário Mariano pelo bispo D. Aurélio Granada Escudeiro.
Reconheceu-se o seu relevante valor patrimonial, em 11 de junho de 1980, através da sua classificação como Imóvel Interesse Público, classificação consumida pela sua inclusão no Conjunto Classificado da Zona Central de Angra do Heroísmo, por decreto datado de 24 de agosto de 2004.
(texto elaborado com a colaboração de Diana Gonçalves dos Santos
Técnica Superior da Direção Regional da Cultura – Historiadora de Arte)
P. Ricardo Henriques, Pároco e Reitor do Santuário da Conceição