O Núcleo Museológico dos Altares está instalado num edifício contíguo ao adro da igreja paroquial desta freguesia, construído para servir de escola às crianças da freguesia. Foi edificado pela Junta de Paróquia, que cedeu o espaço e os materiais de uma antiga casa ali existente, e que contou com o apoio dos altarenses quer através do transporte gratuito dos outros materiais que foram necessários, quer através de donativos em dinheiro gasto na construção do edifício. No dia 1 de novembro de 1888 foi então o edifício benzido e solenemente inaugurado. Com a inauguração na freguesia da nova escola do Plano dos Centenários, a 19 de junho de 1955, este edifício acabou assumindo outras funções. Serviu para a Telescola no período de 1975/79 e depois dessa data para as aulas de catequese e do ensino pré-escolar. Ficou desocupado a partir de 2000 e, após um processo de recuperação e adaptação para albergar o Núcleo Museológico dos Altares foi reinaugurado a 28 de maio de 2004 com essas funções.
Este não é um simples espaço etnográfico, como outros que existem dispersos pela ilha, mas um espaço museológico que pretende preservar a memória cultural e natural da freguesia dos Altares. Esta casa, embora modesta nas suas dimensões, permite o desenvolvimento de algumas coleções temáticas arranjadas espacialmente de forma feliz. Do seu espólio faz parte um notável e variado acervo, ligado às atividades tradicionais desenvolvida na freguesia, algumas das quais como implicações ao nível da economia da ilha.
Para além das diversas alfaias agrícolas expostas (cangas, sachadores, arados e mais) destaca-se o típico carro-de-bois que era usado no transporte de quase tudo. O cultivo e transformação da folha do tabaco para consumo está aqui representado, podendo-se observar as folhas secas desta planta, as torcidas e as camisas em folha de milho com que se faziam os tradicionais cigarros. Há uma prensa das utilizadas para apertar a uva no fabrico do vinho e a respetiva pipa. Vêem-se os instrumentos para cardar, dobar e fiar a lã e o respetivo tear onde se confecionavam colchas e outros tecidos para o agasalho das pessoas, ao qual se junta uma velhinha máquina de costura a pedal.
Outra indústria emblemática desta freguesia, pela sua raridade no contexto da ilha, era o fabrico da telha e de tijolos destacando-se o forno de lenha de Manuel Cunha (ou Manuel Bráulio, como é conhecido) que ainda subsiste a laborar na Canada do Laranjo. O barro era retirado dos barreiros da freguesia e era depois misturado com outro de melhor qualidade vindo de fora. Toda a sequência desta atividade pode ser observada numa exposição fotográfica permanente, ou apreciando-se os moldes de telha e tijolo, outros instrumentos e o barro cru (em bruto ou trabalhado) que ocupa esta secção.
Podemos observar ainda: os paus-de-caiar e respetivos pinceis de feno, escada, balde; uma serra braçal, serrotes, plainas, formões e demais instrumentos utilizados pelos carpinteiros; o mangual para malhar os cereais e leguminosas e as crivos para os separar das impurezas; outras peneiras mais finas, onde se apurava a farinha utilizada na confeção do pão; algumas fotos de filarmúsicos, uma farda da banda e a estante utilizada para os ensaios e atuações, tudo da Filarmónica do Sagrado Coração de Jesus dos Altares; um traje utilizado nos típicos Bailinhos do Carnaval terceirense e algumas fotos do grupo local que entra nestas manifestações teatrais; alguns bordados ornamentais; uma portentosa cabeça de touro embalsamada; pequenas esculturas feitas em pedra de bagacina; um antigo rádio, candeeiros a petróleo e outros utensílios domésticos, uns mais comuns do que os outros nos lares altarenses; um antigo projetor de cinema e algumas máquinas de escrever obsoletas que existiam distribuídas pelos serviços administrativos da freguesia.
Possui também uma exposição fotográfica permanente ligada ao património natural da freguesia, através da qual é possível vislumbrar um pouco da riqueza das comunidades nativas e dos variados ecossistemas que existem dentro dos seus limites. Estão representados elementos como: a avifauna selvagem que pode ser observada; as plantas endémicas e raras que subsistem nas zonas mais protegidas e a sua geodiversidade (caso das cavidades vulcânicas, lagoas e vulcões) onde as fotografias são complementadas por algumas amostras geológicas representativas.
Dispõe ainda de um pequeno espaço onde é possível desfrutar de provas de chás de ervas aromáticas locais, embora esta atividade esteja suspensa desde o início da pandemia COVID19.
O visitante pode ainda encontrar para consulta alguns livros sobre o património dos Açores ou levar de recordação: um objeto de louça estampada; mel produzido na freguesia; postais sobre o núcleo museológico; um tijolo cozido no forno de telha desta freguesia; pins, livros, CDs e emblemas com a participação da Junta de Freguesia; alguns elementos têxteis alusivos ao culto do Espírito Santo, e outros de cariz utilitário como as máscaras sociais para proteção à pandemia.
O Núcleo Museológico dos Altares está aberto à visitação pública de terça-feira a domingo, das 14:00 às 17:00, no Largo Monsenhor Inocêncio Enes, 9700-301 Altares.
Paulo Barcelos - CMAH