O Museu de Angra do Heroísmo é um museu de síntese, detentor de um espólio rico e variado, que reflete a história e a cultura da comunidade insular em que se insere, considerando a sua relação com o mundo, dada a privilegiada localização geoestratégica dos Açores. Criado em 1949, está instalado desde 1969 no antigo convento de São Francisco, apresentando três exposições de longa duração, a mais significativa das quais, Do Mar e da Terra: uma história no Atlântico, ocupa todo o piso superior do edifício. Existem ainda dois outros espaços expositivos consagrados a exposições temporárias, a par de reservas visitáveis de Espécies em Pedra e de Transportes de Tração Animal dos Séculos XVIII e XIX.
Esta instituição tornou-se polinucleada, a partir de 2016, com a instalação, no antigo Hospital Militar da Boa Nova, do Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima, que aloja a notável Unidade de Gestão de Militaria e Armamento do Museu de Angra do Heroísmo. A 9 de outubro de 2020, foi inaugurada a Carmina | Galeria de Arte Contemporânea Dimas Simas Lopes, doada à Região pelo seu fundador, cujo nome passou a ostentar.
Edifício de São Francisco
Do Mar e da Terra… uma história no Atlântico"
Esta exposição constitui a principal narrativa expositiva do Museu de Angra do Heroísmo. Desenvolve-se ao longo de quatro momentos, que vão da descoberta e povoamento das ilhas até à contemporaneidade da Região, pretendendo aprofundar a cultura e história da Ilha Terceira e dos Açores, através das peças mais significativas e de maior valor da instituição.
"E o Aço Mudou o Mundo: uma Bateria Schneider-Canet nos Açores"
A bateria 7,5 cm de Tiro Rápido Schneider-Canet existente no Museu de Angra do Heroísmo é a única completa em instituições museológicas, incluindo os arreios m/1917, os armões de tração, os carros de munições e os carros-oficina, fundamentais para a uma rápida entrada em posição e conservação do seu potencial de combate. Baterias como a exposta foram adquiridas à fábrica Schneider Frères & Cie., por Portugal, em 1904, tendo sido decisivas na vitória republicana de 5 de outubro de 1910 e na consolidação do regime republicano, no decorrer da 1ª República, ou ainda, no contexto da Grande Guerra, ao acompanharem a Força Expedicionária a Angola, em 1915. Já no contexto 2ª Grande Guerra, no início de 1941, de modo a reforçar o dispositivo militar nos Açores, foram distribuídas pelas ilhas de São Miguel, Terceira e Faial.
"Portugal, os Açores e a Grande Guerra"
Esta exposição constitui uma bolsa temática sobre a participação de Portugal e dos Açores no na Grande Guerra. A contextualização temática da mesma é obtida com a utilização de elementos cartográficos, fotográficos e fílmicos, que permitem ao visitante perceber o que era a Europa e o mundo, antes e após o fim deste conflito. Os países participantes são representados através de capacetes e outros objetos militares como armas, máscaras antigás, lanternas e sistemas de comunicação, que remetem para o ambiente vivido nas trincheiras.
"Reserva de Espécies em Pedra: as Pedras dos Homens"
A Reserva de Espécies em Pedra do Museu de Angra do Heroísmo reúne materiais variados que ilustram quotidianos do passado da ilha desde os primórdios do seu povoamento. Pedras tumulares e brasões, uma grande variedade de elementos arquitetónicos de antigos edifícios civis e religiosos e equipamentos próprios das atividades domésticas são algumas das peças que aqui se podem observar. Curiosidades como uma lápide do século XV, provavelmente a mais antiga conhecida nas ilhas açorianas, lajes tumulares da comunidade protestante do princípio do século XIX na Ilha Terceira e brasões municipais de meados do século XX, que não chegaram a ser utilizados, aguardam a sua visita.
"Reserva de Transportes de Tração Animal dos Séculos XVIII e XIX"
No espaço do antigo refeitório conventual, decorado com painéis de azulejos datados do século XVII, o visitante encontra uma variada coleção de transportes de tração animal dos séculos XVIII e XIX de diferentes proveniências.
Sala "Frederico Vasconcelos"
A Sala Frederico Vasconcelos homenageia a Família Vasconcelos, que, desde o último quartel do século XVIII até aos nossos dias, desenvolveu negócios em diversas áreas do comércio e da indústria com relevância no tecido económico local e regional. Paralelamente, assume-se como um apontamento da história da Revolução Industrial possível nos Açores, vista através dos modos de ser e estar de uma família, do seu sentido de oportunidade e das mudanças de percurso dos seus investimentos, que refletem os fluxos e refluxos do pulsar ilhéu.
Edifício de São Francisco | "Memórias"
Na sala junto à receção deste Museu, apresenta-se a história deste espaço conventual e das instituições que o ocuparam ao longo de décadas e até séculos, desde que aqui se instalaram os frades franciscanos.
IGREJA DE NOSSA SENHORA DA GUIA
A Igreja de Nossa Senhora da Guia é um exemplo daquilo a que George Kubler chamou de estilo chão (plain style), estilo arquitetónico português marcado pela austeridade das formas. Ergue-se sensivelmente no mesmo local de uma pequena capela mandada construir, ainda no século XV, com o mesmo orago, pelo navegador Afonso Gonçalves de Antona Baldaia, um dos primeiros povoadores da ilha, junto à sua moradia, que doou, aquando da sua ida para a Praia, aos primeiros frades franciscanos, tendo a capela passado a servir como igreja conventual. Na carta de J.H. Van Linschoten, figura já uma edificação remodelada e acrescentada no século XVI. Edificado entre 1666 e 1672, o templo agora existente tem três naves: a central, que termina na capela-mor; a do lado do evangelho, que termina na porta de acesso à antessacristia; e a do lado da epístola, que conduz à capela atualmente denominada da Ordem Terceira e que primitivamente foi da “mercearia” instituída por André Gomes em 1522.
Painel de azulejos do altar-mor da Igreja de Nossa Senhora da Guia
Estes azulejos da capela-mor da Igreja de Nossa Senhora da Guia, datados do século XVIII, são atribuídos a Valentim de Almeida (1692-1779). Os emblemas, inspirados no livro de Celestino Sfondrati, Innocentia vindicata (1695), representam de forma alegórica os atributos de Maria.
Sacristia da Igreja de Nossa Senhora da Guia
Na sacristia, aberta ao público em 2018, depois de obras restauro, há a salientar, além de um teto de caixotão em talha dourada e policromada, centrado com as armas de São Francisco, um magnífico arcaz de madeira de jacarandá, atribuído a Mestre Manoel de Almeyda (c. 1745), onde se apresenta um crucifixo com um cristo em marfim de origem indo-portuguesa e quatro braços-relicários. Destaque ainda para um fontanário, datado de 1722, com trabalho de alto relevo em pedra, flanqueado por colunas salomónicas.
Coro da Igreja de Nossa Senhora da Guia
O coro era um local de acesso exclusivo aos residentes do convento, os frades franciscanos, que louvavam a Deus e intercediam pela proteção divina, através da oração coletiva, do canto e da introspeção individual. Acima do cadeiral, as paredes encontram-se revestidas por um rico e magnífico apainelamento de azulejos da primeira metade do século XVIII, atribuído a Teotónio dos Santos (1688-1762), que narra episódios da vida de São Francisco. Destes painéis, destaca-se aquele que evoca o momento em que São Francisco recebe as cinco chagas que o transformam num novo Cristo, o que justifica que as armas franciscanas, visíveis em muitos outros locais do antigo convento, sejam dois braços estigmatizados, encimados por uma cruz latina, sobrepondo-se o de Cristo, nu, ao do fundador da Ordem Franciscana, revestido pelo hábito, numa evocação do gesto que este usou para benzer os irmãos presentes, ausentes e futuros, no seu leito de morte.
Órgão histórico da Igreja de Nossa Senhora da Guia
Atendendo a que o órgão de tubos era o único instrumento musical autorizado pela Igreja Católica a emparceirar com as vozes dos eclesiásticos, o processo de dignificação do templo e do convento levou a que fosse encomendado ao maior dos mestres organeiros portugueses, António Machado de Cerveira, o exemplar existente na tribuna ligada ao coro, para a qual foi especialmente construído em 1788. Foi o 22.º instrumento deste fabricante, sendo o instrumento mais antigo existente da sua autoria nos Açores.
Museu de Angra do Heroísmo