Francisco Ornelas da Câmara faz a aclamação de D. João IV, na Vila da Praia, a primeira nos Açores.
Foi num domingo de Ramos, na matriz da Vila da Praia, na ilha Terceira, terra natal do capitão Francisco de Ornelas, que este ergueu o primeiro brado de liberdade que ouviram os açorianos após a opressão de Castela. Às 10 horas da manhã saiu da igreja matriz de Santa Cruz a vereação da Câmara Municipal, acompanhada da nobreza e clero regular da mesma vila e grande quantidade de povo, em solene procissão e com muita festa e cerimónias usadas em semelhantes atos, aclamou pelas ruas e praças mais notáveis a voz de el-rei D. João IV, enquanto os moradores daquela vila empregavam todas as demonstrações de alegria, por ouvirem já pública a voz da sua liberdade, porque havia tantos anos suspiravam. Recolhia à igreja a procissão, deram-se os vivas e descargas de mosqueteria e se lavrou auto. Logo Ornelas oficiou à Câmara de Angra, comunicando-lhe o ocorrido e pedindo, da parte do rei que o mesmo fizesse, ao que lhe responderam com censuras, não obstante as diligências empregadas pelo seu presidente João de Ávila.
Lavraram então, em Angra, grandes desinteligências, querendo o povo acompanhar a voz da Praia; e a Câmara, dividida, não se resolvia à aclamação.
Em Angra exerciam alguma influência os jesuítas do Colégio, que eram partidários de Filipe de Castela, estando por outro lado os franciscanos, que se serviam dos púlpitos para falar ao povo e prestavam poderoso auxílio nestas contendas, tomando atitudes patrióticas que a história não esqueceu.
In Gervásio Lima, Breviário Açoreano, p. 108, Angra do Heroísmo, Tip. Editora Andrade, 1935.