Pietro Pasqualigo, embaixador de Veneza, notícia a viagem de Gaspar Corte-Real.
«No dia 8 do presente (mês de outubro) chegou aqui uma das duas caravelas que este sereníssimo rei (de Portugal) mandou o ano passado para descobrir terras setentrionais, sob o comando do capitão Gaspar Corte-Real: e conta haver achado terra a duas milhas de distância entre noroeste e poente, a qual, antes, por ninguém, era conhecida; por cuja costa correram 600 a 700 milhas, sem lhe acharem o fim; pelo que julgaram que era terra firme em continuação duma outra terra que o ano passado foi descoberta no Norte, as quais caravelas não puderam lá chegar por estar o mar gelado e infinita cópia de neve; isto mesmo lhe fez crer a multidão de grandes rios que ali acharam, que decerto em uma ilha não podiam ser tantos e tão grandes. Dizem que este país é muito povoado e as casa dos habitantes são feitas de longuíssimos paus, cobertas por fora com peles de peixes. Trouxeram para aqui sete pessoas entre homens e mulheres e crianças; e com a outra caravela, que se espera a toda a hora, vem outros cinquenta.
Tem pinturas na cara como índios, alguns tem seis sinais, outros oito. Falam, mas não são entendidos por ninguém.
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Uma criança deles tinha nas orelhas duas peças de prata que parecem feitas em Veneza, isto me fez crer que seja terra firme, porque não é lugar a que jamais tivesse ido navio, pois deles teria havido notícia» (Publicado no livro «Os Côrtes-Reais»).

In Gervásio Lima, Breviário Açoreano, p. 306, Angra do Heroísmo, Tip. Editora Andrade, 1935