Nasceu, na ilha Terceira, o peregrino português que, em 1902, foi a Roma a pé.
Na freguesia de Fonte Bastardo, concelho da Praia da Vitória, nasceu Francisco Machado da Costa, o caminheiro de Roma, tão falado na imprensa da época. Vivia numa gruta cavada do Monte de São Bartolomeu, perto da estrada de Alcântara, onde era conhecido e tratado pelo «eremitão». Ali passou alguns anos, sozinho, entregue à oração, vivendo de esmolas que colhia, até que se resolveu ir para uma humilde dependência da capela de Santo António, na praia da Nazaré, aí passando a vida a ensinar a ler crianças pobres, cujas famílias o socorriam. Porque alimentava à muito a ideia de ir a Roma, se resolveu a partir, só, a pé, sem capota ou manta, apenas com o xaile, uma saca com roupa, pão e água, calçando umas alpercatas e assim se encaminhou por terras de Espanha, no dia 5 de janeiro de 1902; e, nestas condições, se dirigiu, cheio de fé, atravessando Valência de Alcântara, Toledo, Madrid, Alcalá, Sargoça, Barcelona, os Pirenéus Orientais, onde dormiu 3 noites sobre a neve e sob o toldo do céu, Marselha em 15 de março, Grenoble, os Alpes baixos, a caminho da Itália, entrando em Génova no dia 1 de abril, até que no dia 4 penetrava, enfim, na Basílica de São Pedro, após mil perigos e dificuldades sem número.
Deixando Roma no dia 15, entrou a 19 na sua querida terra adotiva – Nazaré – onde passou o resto da vida contando, a quantos dele se abeiravam, as particularidades da sua arriscada viagem, publicando o «Século», uma entrevista interessantíssima.

In Gervásio Lima, Breviário Açoreano, p. 55, Angra do Heroísmo, Tip. Editora Andrade, 1935.