Uma grande tempestade caíu sobre a ilha. A água das chuvas que, durante dia e noite, inundou as ruas, era acompanhada de rija trovoada. As ribeiras engrossaram espantosamente, saindo dos seus leitos, correndo pelas ruas da cidade e estradas circunvizinhas, abrindo fundos valados, cavando junto das casas até aos alicerces, derrubando muros e paredes, levando portas, telhados, madeiros e animais, na corrente formidável e possante.
O aspeto de Vale de Linhares era desolador. As casas foram abandonadas a custo e já em luta com a água que as invadia.
O caminho já completamente destruído numa extensão de alguns quilómetros, as canalizações inutilizadas, montões de pedras embargavam a passagem, seis casas completamente destruídas e dezenas ficaram arruinadas e inabitáveis.
No lugar da Carreirinha se formou um grande lago na estrada, tornando-a intransitável.
Quando, passada a tempestade, se olhou para os monturos e destroços que a sua violência havia causado, se viram escombros e nudez que arrepiava as carnes e arrancava lágrimas de dó e horror.
E as lágrimas dos que passavam se confundiam com as águas que, na sua corrente destruidora, iam até ao mar, conduzindo animais e destroços que se viam a boiar nas imediações dos calhaus e das rochas.
In Gervásio Lima, Breviário Açoreano, p. 228, Angra do Heroísmo, Tip. Editora Andrade, 1935.