A Junta Provisória, na Ilha Terceira, manda derreter os sinos para fabricar moeda.
Aumentavam, extraordinariamente, as despesas, dia a dia, com ordenados e mantimentos para as tropas, oficiais, empregados e subsídios aos emigrados políticos. Os cofres encontravam-se exaustos. Nesta situação apertadíssima, deliberou a Junta Provisória, em despacho de 12 de abril, que circulasse o papel moeda que existia nos cofres da antiga Junta da Fazenda e criou outras cédulas de meia nota e de quartinho.
Estabeleceu-se Casa da Moeda, no Castelo de São João Baptista, ordenando a apreensão dos sinos das igrejas, a título de empréstimo, para com eles fabricar pequenas moedas de oitenta reis, que depois se elevaram a cem reis; o que veio de algum modo a suavizar as críticas circunstâncias do momento. Foi nomeado provedor da Casa da Moeda Teotónio de Ornelas Bruges, que cedeu os seus vencimentos, suspendendo-se as gratificações dos oficiais às ordens, pelas dificuldades crescentes.
A moeda era tosca e grosseira: não havendo cunhos, nem abridores, nem máquinas, nem utensílios próprios para a cunhagem, se derretiam e fundiam os sinos pelos processos rotineiros, pagando com isso as despesas indispensáveis à manutenção do estado de coisas a que chegaram, dificultadas pelos cercos e agravadas pelos enormíssimos dispêndios e falta de auxílios de fora, pois que, pode dizer-se que a Terceira esteve, por muito tempo, entregue quase exclusivamente aos próprios recursos, sendo difícil qualquer comunicação, em vista do cerco apertado em que estava a ilha rebelde.
InGervásio Lima, Breviário Açoreano, p. 127, Angra do Heroísmo, Tip. Editora Andrade, 1935.