Ao longo de centenas de milhares de anos foram chegando às ilhas açorianas, trazidas pelas aves ou pelo vento, as espécies que hoje compõe as nossas florestas naturais, ricas em biodiversidade e endemismos. Em termos fitossociológicos não formaram uma, mas várias “florestas nativas” nos Açores, consoante a combinação e representatividade dessas espécies.
Ouvimos falar em Floresta Laurissilva, uma floresta subtropical húmida, resquício das florestas mediterrânicas do período Terciário, entretanto extintas no continente europeu devido às glaciações. No entanto, a diferentes altitudes e sujeitas à influência de diferentes fatores edafoclimáticos, vamos encontrar comunidades diferentes, sejam bosques costeiros, florestas de baixa altitude, florestas de montanha, matos alpinos, entre outros. Não é difícil perceber, pelos diferentes copados, estrutura, tonalidades e texturas que estamos na presença de diferentes florestas. O estudo de quais são, e como as denominar, é um processo em contínuo. De forma simplista e redutora salienta-se alguns dos tipos de florestas nativas mais emblemáticos:
Floresta laurifólia mésica, que ocupa zonas de baixa altitude, mais quentes, onde predominam as espécies estruturantes faia-da-terra (Morella faya) e o pau-branco (Picconia azorica). Hoje estes bosques são muito raros, formando apenas pequenas manchas, por terem esses habitats sido preferencialmente ocupados para fixação do homem e atividade agrícola.
A típica Floresta Laurissilva húmida, a altitude mais elevada, compostas pelo louro (Laurus azorica), a que se juntam outras como o sanguinho (Frangula azorica), as heras (Hedera), a faia-da-terra (Morella faya) e alguns fetos como a Culcita macrocarpa e a Woodwardia radicans. Sustentam uma grande variedade de espécies vasculares, musgos e hepáticas, muitas das quais se desenvolvem de forma epífita sobre outras. São florestas de grande importância para uma grande variedade de insectos e aves, incluindo o pombo-torcaz, que usam este tipo de floresta como fonte de recursos e proteção.
O azevinho (Ilex azorica), endémico dos Açores, é outro elemento que, apesar de surgir na Floresta Laurissilva húmida, criou em zonas também elevadas, húmidas e protegidas, as bonitas e hoje bastante raras Florestas de azevinho, que se distinguem pela maior abundância desta espécie e pela forte componente norte-atlântica ao nível da biodiversidade.
A Florestas de Nuvens, acima dos 500 m de altitude, é outro tipo de floresta singular. Após as glaciações começaram a chegar espécies de zonas húmidas, mais uma vez trazidas pelo vento e pelas aves migratórias vindas do Norte da Europa que por aqui passavam. Encontraram condições ideais para se instalarem a maiores altitudes, nomeadamente pela extrema humidade desses habitats resultante da elevada precipitação, nevoeiro frequentes e impermeabilização dos solos. Nestas florestas domina o cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) cujos ramos terminais pendentes parecem ser uma defesa face a esse excesso de precipitação. Forma comunidades onde uma grande parte das plantas vasculares são igualmente únicas dos Açores, com grande variedade de briófitos (musgos), em particular as várias espécies de Sphagnum, várias espécies de ciperáceas e juncáceas, a orquídea endémica (Platanthera micrantha), a rapa (Calluna vulgaris) e muitas outras.
Após 5 séculos de exploração das florestas naturais do concelho, necessária ao sustento e desenvolvimento das populações, continua ainda hoje a levantar algumas preocupações a salvaguarda do que resta de algumas dessas florestas, em particular aquelas que crescem perto das zonas agrícolas, sofrendo a interferência direta do Homem e a pressão das espécies infestantes.
Pauo Barcelos – CMAH