Subindo as escadas que da Ladeira de S. Francisco dão entrada para o Jardim Duque da Terceira, encontramos um recinto de forma retangular, porventura com alguns dos elementos mais antigos que este jardim público conserva. Falamos não só dos muros e banquetas em cantaria que o ladeiam mas em particular dos painéis de azulejos que se encontram numa das suas paredes.
Nota antiga refere que aqui “foi quintal de botica dos ditos Franciscanos”, cuja cerca incluía também toda a parte chamada de “jardim de cima”, junto ao antigo Convento de S. Francisco. Quintal de Botica porque seria neste recanto que os frades cultivavam as plantas medicinais e utilitárias, cujos extratos empregavam na conceção de medicamentos e soluções caseiras para resolver problemas de saúde. Imaginamos um local de agradáveis cheiros e coloridos que, aliado à sua localização sobranceira ao caminho, faria deste sítio um lugar aprazível, de contemplação, descanso e quem sabe meditação.
Não é de admirar que tenham os franciscanos escolhido este local para instalar um conjunto de 4 painéis de azulejos, de fabrico lisboeta, com data aproximada de 1740. Ao longo dos anos foram alvo de vandalismo, razão pela qual hoje estão protegidos por vidros.
Conhecidos como do “Filho Pródigo”, porque narram momentos desta parábola bíblica, possuem particular interesse pela figuração do ambiente rústico e cenas domésticas que apresentam e, obviamente, por terem quase 3 séculos de existência.
Os quatro painéis dividem-se em 2 conjuntos, cada qual com um nicho que nunca vimos ocupado. Cada painel traduz um dos momentos mais marcantes desta parábola, obedecendo à cronologia da narrativa, o que se pode comprovar pela imagem e pela respetiva legenda em latim, que traduzem as seguintes passagens:
1. O filho mais novo partiu para uma terra distante
2. E lá desperdiçou o que tinha, vivendo no luxo
3. Quantos empregados da casa de meu pai têm pão em abundância e eu cheio de fome
4. Pai, pequei contra o céu e não sou digno de ser chamado teu filho
Paulo Barcelos – CMAH