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Efígie de Rui Teles Palhinha

Recorrendo a terrenos contíguos, a 21 de junho de 2019 foi ampliado o jardim público de Angra com a inauguração do Passeio Rui Teles Palhinha, nome que consagra esta eminente figura angrense, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e diretor do Jardim Botânico de Lisboa, que muito promoveu o conhecimento da flora açoriana. Cerca de um ano depois, em agosto de 2020, completa-se a homenagem a esta personalidade com a inauguração pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo de uma peça escultórica da autoria da artista angrense Maria Ana Simões. A obra é composta por um suporte metálico vertical, ao qual foram apensas duas lápides de basalto serrado, a superior ostentando a efígie em bronze do homenageado e a inferior suportando uma placa com os dizeres: “RUY TELLES PALHINHA / 04.01.1871 – 13.11.1957 / BOTÂNICO”.

Esta homenagem a tão ilustre conterrâneo deveria ter ocorrido no início da década de 60, quando a Liga para a Proteção da Natureza propôs em 1962 ao Instituto Histórico da Ilha Terceira, que a memória a Ruy Telles Palhinha fosse perpetuada na sua terra natal. O IHIT procurou diligenciar essa concretização junto dos corpos administrativos locais sugerindo que fosse erigido um busto ou baixo-relevo do Professor Ruy Telles Palhinha no Jardim Duque da Terceira. A Câmara Municipal de Angra do Heroísmo em reunião de 11 de julho de 1963 deliberou “dar o seu inteiro apoio a tão justa homenagem e, em princípio, colaborar, na medida do possível, na sua concretização”. Apesar disso, esta intenção apenas viria a ser uma realidade 57 anos depois.

Rui Teles Palhinha nasceu na freguesia da Sé, em Angra do Heroísmo, a 4 de janeiro de 1871. Iniciou os seus estudos secundários no Liceu Nacional de Angra do Heroísmo, concluindo-os no ano letivo de 1887/1888 no Liceu Nacional de Santarém. Ingressou de seguida na Faculdade de Filosofia Natural da Universidade de Coimbra concluindo com distinção em 1892 o curso de Ciências Naturais. Fixou-se em Lisboa, dedicando-se ao ensino particular. Em 1895 foi colocado como professor de Ciências da Natureza no Liceu Nacional de Santarém onde permaneceu até 1900, aí casando com Ester de Carvalho e Silva. Em 1900 transita para o Liceu Central de Lisboa e depois para o Liceu Nacional de Lisboa, que a partir de 1908 passou a ser designado por Liceu de Camões tornando-se no seu primeiro reitor (de 1906 a 1910). Em finais de 1910 transferiu-se para o Liceu de Passos Manuel ao qual se manteve ligado até solicitar a sua exoneração em 1926, ano em que passou a dedicar-se exclusivamente ao ensino superior. Paralelamente deu aulas de botânica na Escola Politécnica de Lisboa iniciando-se aqui a sua carreira no ensino superior. Exerceu as funções de secretário do Conselho desta escola e de diretor da respetiva biblioteca. Com a criação da Universidade de Lisboa em 1911 passou a professor de Botânica da Faculdade de Ciências, onde também foi Secretário e diretor da biblioteca. A partir de 1915/1916 Rui Teles Palhinha passou a ser também professor na Escola Normal Superior de Lisboa onde ensinava Metodologia Especial das Ciências Histórico-Naturais, tendo sido também diretor daquela Escola. Foi também professor da Faculdade de Farmácia de Lisboa. Manteve-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa até atingir o limite de idade como catedrático de Botânica e diretor do Jardim Botânico. Exerceu múltiplas outras funções, nomeadamente as de presidente da Câmara Municipal de Santarém e de vereador da Câmara Municipal de Lisboa. Fez parte da Maçonaria, tendo sido iniciado em 1907 pelo Grão-Mestre Francisco Gomes da Silva do Grande Oriente Lusitano Unido.

Publicou dezenas de trabalhos dedicados à história das Ciências Naturais e aos estudos botânicos, alguns dos quais na revista “Açoreana”. A ele se deve grandes avanços na investigação sistemática da flora dos Açores, a que dedicou particular atenção, tendo para tal organizado e enviado várias expedições à região. Destaca-se o Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores, obra em que trabalhava quando morreu, publicado a título póstumo em 1966. Foi homenageado por diversos botânicos que usaram o seu apelido como epítetos nos nomes científicos de plantas e fungos. Foi sócio efetivo de várias sociedade e academias de ciências. É lembrado na toponímia, tendo sido atribuído o seu nome a uma das ruas da cidade de Angra, e a uma rua do concelho de Oeiras. Morava na Lapa, em Lisboa, quando foi vítima de um acidente de viação que o levaria à morte a 13 de novembro de 1957, tendo sido inumado no dia seguinte na sepultura com o número 1140 do Cemitério dos Prazeres, que hoje pertence à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Maria Ana Simões nasceu em 1981 em Angra do Heroísmo. Em 2003 estudou escultura na Accademia di Belle Arti di Firenzi, licenciando-se em 2005 em Artes Plásticas – Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade Nova de Lisboa, onde terminou o mestrado em Ensino de Artes Visuais em 2009. Desde 2003 que tem participado em diversas exposições individuais e coletivas, em pintura e escultura, destacando-se: Exposição Comemorativa do 10º Ano VOLTE FACE, New Ideas in Medallic Sculpture, no Átrio da Reitoria da Universidade de Lisboa; Exposição Coletiva de Arte Contemporânea, no Museu de Angra do Heroísmo; Exhibition Alumini Medialia, Rack and Hamper, Nova Iorque; Exposição Prémio Bienal de Cerâmica Manuel Joaquim Afonso, Fábrica de Loiça de Sacavém; Exposição de Escultura dos Finalistas da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Museu de Angra do Heroísmo; New Ideas in Medallic Sculpture, na Reitoria da Universidade de Lisboa; “Alvaros & Chairs”, na Fachada da Aula Magna da Universidade de Lisboa; Exposição de Escultura e Pintura na Accademia di Belle Arti di Firenze, Florença; Exposição de Escultura no lançamento do Álbum Tree of Live de José Castro, no Teatro da Luz de Lisboa; Exposição Coletiva de Escultura de Pequeno Formato, Sociedade Nacional de Belas Artes.

É autora de peças de arte pública, nomeadamente desta efígie de Rui Teles Palhinha e do busto de Monsenhor José de Lima colocado junto à sede do Instituto Histórico da Ilha Terceira.

AGOSTINHO, José - “Prof. Dr. Ruy T. Palhinha”. Jornal “Diário Insular” de 13 de dezembro de 1957
MENDES, António Ornelas e Jorge Forjaz - “Genealogias da ilha Terceira”, vol VII, pp 97-98. Dislivro Histórica.


Paulo Barcelos – CMAH

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Última actualização em 2022-05-28