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Aos presos políticos, desterrados e deportados

Na sequência dos eventos realizados intitulados “Relembrando Gungunhana e seus companheiros de exílio”, em junho de 2019 o Município de Angra do Heroísmo encomendou ao escultor Julian Voss-Andreae um busto de Gungunhana. O artista concebeu então esta estrutura, feita em 42 placas de aço inox dispostas verticalmente, paralelas com um espaçamento de cerca de 3 cm entre cada duas, com as dimensões máximas de 128 x 153 x 99 cm e um peso total de cerca de 313 kg. Foi inaugurada a 6 de março de 2022. Causa sensação o facto de brilhar e impor a sua presença quando vista lateralmente, mas quando observada pela frente ou por detrás, a alguma distância, parecer quase invisível.

Foi colocada sobre um pedestal em forma de cubo, revestida por placas em granito onde estão impressas os dizeres que homenageiam os presos políticos, desterrados, deportados, exilados, refugiados e emigrados forçados, que ao longo dos tempos viveram entre nós, nomeadamente: Gungunhana (Império de Gaza, c. 1850 - Angra do Heroísmo, 23 de dezembro de 1906) desterrado nesta cidade de 27 de junho de 1896 até falecer; Judeus expulsos do reino de Portugal (séculos XV e XVI); D. Afonso VI, rei de Portugal (1669-1674); Deportados da Amazona (1810-1828); Emigrados liberais (1828-1830); Refugiados militares espanhóis (1867-1868); Depósito de Concentrados Alemães (1916-1919); Membros da Legião Vermelha (1925); Desterrados e presos políticos da ditadura militar e do Estado Novo (1926-1974); Marechal Gomes da Costa, líder militar do Golpe de 28 de maio de 1926 (1926-1927); Vice-almirante Luís da Câmara Leme, Senador da Primeira República (falecido nesta cidade em 1928); Bento Gonçalves, secretário-geral do Partido Comunista Português (1930-1931); João Soares, político da Primeira República e antifascista (1933); Acácio Tomás de Aquino, dirigente anarco-sindicalista (1934-1936); Mário Castelhano, militante anarco-sindicalista (1934-1936); Francisco Lyon de Castro, editor e militante antifascista (1936-1940); Aos civis e militares que nesta cidade participaram na Revolta das Ilhas e que de 7 a 17 de abril de 1931 nela mantiveram viva a resistência à ditadura militar instalada a 28 de maio de 1926; Em memória do Regimento de Infantaria n.º 22 e da Bataria de Defesa Móvel de Costa n.º 1, unidades militares extintas pelo Decreto n.º 19657, de 28 de abril de 1931 e muitas e muitos outros que não podem ser esquecidos.

Simbólico foi também o local escolhido para colocar esta escultura, concretamente à entrada do parque de recreio do Relvão, junto ao acesso ao castelo onde Gungunhana esteve inicialmente encarcerado, mas por onde, depois de liberto, descia à cidade de Angra até ao fim dos seus dias. A própria disposição da obra sobre o pedestal não foi aleatória. Gungunhana foi colocado a olhar na direção da sua terra natal, de onde foi arrancada e trazido à força para o exílio nesta ilha, como de alguma forma o foram todos os demais homenageados.

Julian Voss-Andreae é um escultor de origem alemã que vive atualmente na cidade de Portland, no Estado de Oregon - EUA, amplamente conhecido por suas impressionantes obras públicas e privadas de grande escala. Antes de seguir a carreira artística, estudou física quântica e filosofia nas Universidades de Berlim e Edimburgo e fez uma pós-graduação nessa área na Universidade de Viena.

Mistura muitas vezes a escultura figurativa com os conhecimentos científicos sobre a natureza e realidade. Sua experiência em diversos campos da ciência e uma profunda paixão pelos mistérios da física quântica têm sido uma fonte contínua de inspiração para seu trabalho.

Participa frequentemente com as suas obras em feiras e galerias de arte internacionais, podendo a sua obra ser encontrada em grandes coleções por todo o mundo.
Paulo Barcelos – CMAH
Paulo Henrique Lopes Mendonça – CMAH

2021 © Câmara Municipal de Angra do Heroísmo

Última actualização em 2022-12-05