Este mural está localizado a poucos metros da igreja paroquial dos Altares, no lugar do Patim, numa alta parede que lhe serve de sustentação, à direita de quem chega pelo caminho do mato. Foi montado este painel em setembro de 2021, numa iniciativa da Junta de Freguesia dos Altares, que infelizmente não teve a oportunidade de o ver inaugurado como desejado, em virtude das contingências impostas pela pandemia da Covid19. A produção coube à empresa Cerâmica da Praia com o esmerado desenho artístico da autoria de Teresa Parreira e Mário Duarte, tendo sido consultado o historiador Francisco Maduro Dias para aprimorar o detalhe etnográfico.
Havendo outras, retrata três atividades industriais e agrícolas de maior destaque que se desenvolveram na freguesia dos Altares: o fabrico de Telha, o Pastel e o Milho, que se terão iniciado cedo após o povoamento desta zona norte da ilha. Hoje ainda se cultiva o milho, embora sejam principalmente variedades mais adequadas ao sustento do gado e não das famílias, como era antigamente. É possível apreciar o trabalho do barro, que ainda perdura num dos 3 telhais que existiram em laboração nesta freguesia: o Forno dos Teixeiras que explorou Manuel Joaquim Cordeiro, o Forno do Frades explorado pelo Parreira, e o Forno da Canada do Laranjo explorado por Bráulio Bettencourt da Cunha que ainda labora embora de uma forma menos intensiva e diversificada. Quanto ao pastel, foi uma indústria de exportação florescente nos dois primeiros séculos do povoamento, nalgumas ilhas como no caso da Terceira onde teve importância económica, sendo, no entanto, de salientar também o valor histórico da exploração desta cultura agrícola e industrial no contexto em que foi realizada.
Para cada uma das atividades são apresentadas 3 cenas sequenciais na vertical. Cada cena está desenhada num painel de 54 ou 63 azulejos, não havendo espaços entre painéis, formando um único grande conjunto de 2,85 m de altura por 4,05 de largura. Contém as seguintes legendas: O TELHAL. OS BOIS AMASSAVAM O BARRO… / … QUE ERA DEPOIS MOLDADO E COZIDO … / …. PARA OS TELHADOS DAS CASAS DA ILHA. / O PASTEL. CULTIVAVA-SE O PASTEL E COLHIAM-SE AS FOLHAS … / … PARA SEREM ESMAGADAS NOS ENGENHOS DE ATAFONA … / … FORMAVAM-SE BOLAS QUE DEPOIS DE SECAS AO SOL ERAM EXPORTADAS PARA A FLANDRES. / O MILHO. LAVRAVA-SE A TERRA E SEMEAVA-SE O MILHO… / … OS CARROS DE BOIS TRANSPORTAVAM A COLHEITA … / … QUE DEPOIS ERA COLOCADA NA BURRA-DE-MILHO.
A Cerâmica da Praia, é uma empresa sedeada na Zona Industrial da Praia da Vitória que surge em 2007 como continuidade da atividade que o proprietário Mário Duarte já exercia anteriormente, nesta mesma arte. Realiza atualmente vários tipos de trabalho na área da cerâmica, sendo traços característicos das suas produções o uso diversificado da cor, o traço fino e o rigor na reprodução de imagens, sejam elementos de uma paisagem ou o retrato de um momento da nossa história. Para além da pintura manual, ou com recurso a outras técnicas, sobre superfícies cerâmicas como azulejos, outras faianças, porcelana, pedra de basalto e outros, faz também modelagem de barro. Ainda que em casos específicos mantenha a produção de peças em série, com uma serigrafia de excelente qualidade, mais comercial e adequada a fins de merchandising de interesse turístico, com por exemplo as canecas com “As Velhas”, os Impérios ou as louças tradicionais, após passar por diversas fases e modos de fazer na sua existência, a atividade atual está a ser reorientada para a personalização das encomendas dos clientes, com a realização de peças únicas, com decorações próprias que levam a sua marca e exclusividade. Tendo contado na sua existência com o trabalho de vários colaboradores, a Cerâmica da Praia funciona atualmente com duas pessoas, o seu proprietário, Mário Duarte, que se auto designa de artista-não-residente e Teresa Parreira na designação de pintora. É a este duo que cabe tudo o que atualmente sai do interior desta fábrica. Desde trabalhar a ideia, conceber a peça e produzi-la, tudo é realizado em parceria.
De entre os trabalhos públicos produzidos salientam-se os seguinte: Decoração de todos os chafarizes antigos na Vila das Lajes; Decoração de dois chafarizes na freguesia de São Mateus; Painéis em azulejo da capela-mor da Igreja de São Brás; Painel em azulejo de gravura da Batalha de 11 de Agosto de 1829, Praia da Vitória; Painel em azulejo da fachada superior da Junta de Freguesia da Vila de São Sebastião; Painéis em azulejo demarcando as entradas das localidades: Vila de São Sebastião, Freguesia da Terra-Chã, Freguesia da Vila Nova, Freguesia dos Altares e Freguesia de Santa Cruz; Painel da fachada lateral da Ermida da Boa Viagem, no Corpo Santo; Painéis em azulejo ‘’Passos da Quaresma’’ nas Freguesias da Feteira e dos Altares; Painéis em azulejo com temas históricos no Arrabalde, Vila de São Sebastião; Decoração de exterior em azulejo do Império do Meio da Rua, Freguesia da Ribeirinha; Painel em azulejo no Terminal da Força Aérea Portuguesa, na BA4; Painel ‘’Batalha da Salga’’ – Vila de São Sebastião; Painel ‘’Baía das Mós’’ – Vila de São Sebastião; Painel em Azulejo na Mesa Central do Miradouro do Cabo do Raminho; Painel em azulejos no nicho do altar do Cemitério da Freguesia dos Altares; Painel ‘’Tourada do Largo da Fonte’’ – Vila de São Sebastião; Painéis no Chafariz do Caminho Corrente (Ao Lugar) - Altares; Decoração do Hall e Sala principal do Salão paroquial de São Brás; Painel ‘’As Lavadeiras’’ e sinalética, à entrada, nas pias do Chafariz da Presa Grande, no Raminho; Painéis em azulejo ‘’Tríptico – cenas de pastel, cenas do fabrico da telha regional, cenas da lavoura’’, no Lugar Ao Patim, nos Altares; Painel ‘’A Mesa do Bodo’’ – na parede lateral ao Império do Porto Martins; Painéis ‘’Espaço dedicado à Virgem de Fátima’’ Bairro do Terreiro, Freguesia de São Mateus da Calheta, em Angra do Heroísmo; Painel ‘’Peixes dos Açores’’ e sinalética ‘’A Casa D’Elas’’ – no edifício com este nome pertence à AMPA (Associação Marítima de Pesca e Aquicultura da Ilha Terceira). Produziu ainda para outras ilhas, como no caso do painel ‘’A Lenda de Nª Sr.ª dos Milagres da Ilha do Corvo’’ uma reprodução em azulejo de um original do Mestre José Ruy, para a ilha do Corvo.
Paulo Barcelos – CMAH