A Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e o Grémio Atlântico - Associação Cívica, Cultural e Solidária inauguraram este Memorial de Teotónio de Ornelas Bruges, no dia 31 de outubro de 2020, pelas 11 horas, junto à entrada do Observatório Meteorológico José Agostinho, em Santa Luzia, por ocasião do 150º aniversário da sua morte.
Coube ao artista plástico terceirense Dimas Simas Lopes idealizar o memorial, uma espessa laje vertical em granito polido que apresenta gravada na parte superior a imagem de Teotónio de Ornelas e por baixo o seguinte texto: “Neste local existiu o palácio de Santa Luzia (demolido / nos inícios do século XX), onde viveu Teotónio de / Ornelas Bruges, Visconde de Bruges e 1º Conde da / Praia. Personagem da maior relevância na sociedade / terceirense oitocentista, Teotónio de Ornelas, foi o / primeiro presidente da câmara eleito em Portugal. / Temido e respeitado pelos seus adversários políticos, / foi um acérrimo defensor das ideias liberais e um / destacado chefe da Maçonaria local. / Homenagem da Câmara Municipal de Angra do / Heroísmo e do Grémio Atlântico, no ano de 2020, por / ocasião dos 150 anos do seu falecimento em 25 de / outubro de 1870.”
Também inaugurado no mesmo dia, completa este memorial um painel de azulejos, com traço do artista Emanuel Félix (filho), que reproduz a partir de fotos da época o antigo Palácio de Santa Luzia, onde residia o Conde da Praia. Foi demolido no início do século XX, tendo posteriormente sido edificado o Observatório de Meteorologia que hoje existe.
Teotónio de Ornelas Bruges d’ Ávila Paim da Câmara Ponce de Leão Homem da Costa Noronha Borges de Sousa e Saavedra, nasceu na ilha Terceira a 25 de abril de 1807. Foi um vulto notável na história nacional. Liberal convicto, como oficial das milícias liderou em Angra a regeneração liberal de 1828, tornando a Ilha Terceira no baluarte da resistência em Portugal. Como rico proprietário que era, contribuiu com a sua própria fortuna, de forma preponderante para o triunfo da causa liberal nos Açores, precursora da vitória nacional, ao sustentar as tropas e na organização das campanhas militares. Teve diversos cargos governativos nos Açores: foi por duas vezes Secretário de Estado dos Negócios da Guerra do governo da Regência de Angra; foi presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, tendo sido o primeiro presidente eleito no país; foi administrador-geral do Distrito de Angra do Heroísmo; foi eleito deputado às Cortes para a legislatura de 1834 a 1836 pela Província Ocidental dos Açores e foi feito Par do Reino a 1 de Outubro de 1835, um dos primeiros a receber tal distinção após a implantação da Monarquia Constitucional. Pertenceu à ala Setembrista do liberalismo, aderindo ao Partido Histórico. Sendo fidalgo cavaleiro da Casa Real e comendador da Ordem de Cristo, foi-lhe concedido os títulos de Visconde de Bruges e de Conde da Praia da Vitória. Faleceu a 25 de outubro de 1870.
Dimas Simas Lopes, terceirense nascido nos Biscoitos em 1946, licenciou-se em medicina pela Universidade de Coimbra na especialidade de Cardiologia. No entanto, a paixão pela criação artística levou-o a manter uma carreira paralela, produzindo um elevado e diversificado número de obras. Começou por frequentar o ateliê do pintor Enrique Valero em Angra do Heroísmo e em Madrid, e em 1992 realizou a sua primeira exposição de pintura a convite da Direção Regional de Cultura. A partir dessa data, participou em dezenas de exposições individuais e coletivas em galerias e espaços públicos nacionais e estrangeiros. A partir de 1998 iniciou-se na escultura, principalmente em obras de arte pública que privilegiam o uso do metal nas suas criações. Como autor está representado individualmente ou em várias coleções públicas e privadas, em várias ilhas dos Açores, em Portugal continental, França, Espanha, Itália e Estados Unidos. Recebeu a medalha de Valor Cultural da Câmara Municipal da Praia da Vitória e outros prémios. Fundou em 2004 a Carmina Galeria de Arte Contemporânea. Pintou também alguns murais e nos últimos anos tem-se dedicado também à publicação de obras literárias.
Emanuel Félix (Lopes da Silva), nasceu em Angra do Heroísmo em 1959. Filho do poeta e escritor Emanuel Félix também ele um amante da pintura, herdou do pai o nome e o gosto pelas artes. Cresceu num ambiente de intensa diversidade cultural, que acabou por exercer uma forte influência na maneira de pensar e no modo de ver o mundo. Trabalhou cinco anos no Centro de Estudo, Conservação e Restauro de Obras de Arte dos Açores, e fez dois anos de formação em restauro de pintura e escultura polícroma. Dedicou-se depois, profissionalmente, ao desenho de arquitetura e ao design, sendo autor de diversas intervenções urbanas e projetos de arquitetura, nomeadamente para câmaras municipais dos Açores, e de um grande número de cartazes, catálogos, logótipos, cartoons, capas e ilustrações de livros.
São efetivamente os traços e as cores a faceta mais evidente do seu talento e criatividade. Começou por expor as suas obras coletivamente com artistas locais e, mais recentemente, individualmente em diversos espaços da cidade de Angra e não só, nomeadamente na Biblioteca Pública Luís da Silva Ribeiro, na Galeria da Delegação do Turismo em Angra, no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, na Carmina Galeria e em Lisboa na Casa dos Açores. Foi um dos membros fundadores, junto com Manuel Meneses Martins e Rui Messias, do grupo Urban Sketching criado na ilha Terceira há mais de uma década, da qual é ainda um dos principais impulsionadores, e que tem por lema “mostramos o mundo, um desenho de cada vez".
Paulo Barcelos – CMAH