Início Património histórico e cultural Arte Pública Intro

Monumento evocativo à Batalha da Salga

Este foi o primeiro monumento evocativo da vitória dos terceirenses contra o invasor castelhano que desembarcou nesta baía, naquela que ficou conhecida como a Batalha da Salga, e que permitiu prolongar por mais um ano a independência da ilha face ao jugo do usurpador da coroa portuguesa. Gervásio Lima, que não se coibiu de enaltecer nos seus escritos as glórias da Terceira, promoveu uma romaria à Baía da Salga a 25 de julho de 1926 em memória de tão glorioso acontecimento. Mas, só em sessão de 9 de maio de 1963 a Câmara Municipal decidiu aprovar um projeto para construção de um monumento comemorativo da Batalha da Salga, elaborado pelo arquiteto consultor da Câmara Municipal Fernando Augusto de Sousa, mandando executar o monumento através dos seus serviços de obras “com a possível urgência”. O arranjo do espaço e a construção terão sido terminados nesse ano, mas talvez já depois da data própria, porque a sua inauguração oficial, que segundo consta chegou a ser anunciada, nunca se terá realizado, como o demonstra a falta de notícias nos jornais à data da efeméride.

O monumento, de conformação geométrica muito própria, é construído em alvenaria de pedra que aparenta ter sido retirada da praia de rolo que existia em maior extensão na baía, junto ao mar. Está edificado num espaço sobrelevado, a cerca de 10 metros a montante da estrada. Possui uma face frontal aplanada, ligeiramente inclinada, que desce de forma uniforme até ao chão. No entanto, o perímetro lateral e posterior é ligeiramente arredondado, apresentando uma base mais alargada que forma uma bancada à altura de cerca de 1 m do chão, a quase toda a volta.

Na frente virada ao mar e como tal mais visível a quem passa na estrada foi colocado um braço armado com uma espada evocando o confronto corpo a corpo que se registou na batalha. Mais abaixo está uma placa onde se pode ler, entre duas palmas: “AO VALOR DOS TERCEIRENSES / QUE EM LUTA HEROICA AQUI / VENCERAM E EXPULSARAM O / INVASOR ESTRANGEIRO NO DIA / 25 DE JULHO DE 1581”. Mais despercebida passa uma segunda placa, colocada sobre o lado esquerdo do monumento, virada para Angra, que refere: “HOMENAGEM DA / CÂMARA MUNICIPAL DE / ANGRA DO HEROÍSMO / EM 25-VII-963”.

Ambas as placas e o braço armado eram feitos em bronze. Uma década volvida já o braço tinha sido roubado, permanecendo assim por muitos anos. Em 2015 a Junta de Freguesia da Vila de S. Sebastião solicitou o apoio da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo para patrocinar um novo braço, tendo para o efeito tratado já com o habilidoso José Manuel Romeiro “Serreta”, natural desta vila. Com engenho e arte a peça foi esculpida em pedra e em 2016 procedeu-se à sua colocação, figurando já nas comemorações do 25 de julho desse ano.

O Regimento do Exército sediado na ilha Terceira instituiu este dia 25 de julho, da gloriosa Batalha da Salga, como Dia da Unidade, tornando-se habitual nas cerimónias desse dia apresentarem-se em continência diante deste monumento, que representa força e patriotismo, procedendo à deposição de flores.

Fernando Augusto de Sousa, nasceu em abril de 1913, no Porto, e faleceu em janeiro de 1996, em Angra do Heroísmo. Formou-se em Arquitetura pela Faculdade de Belas Artes, da Universidade do Porto. Trabalhou na Câmara Municipal do Porto. Na década de quarenta do século XX estabeleceu-se em Angra do Heroísmo, integrando os quadros da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Do seu estirador nasceram dezenas de obras marcantes para o crescimento do concelho, e para outras ilhas da região. Destaca-se o traçado das avenidas na parte nova da cidade, a Praça Almeida Garret, os edifícios e estruturas dos celeiros em várias ilhas dos Açores, a Casa de Trabalho do Nordeste, as primeiras oficinas da Empresa de Viação Terceirense, a primeira Fábrica de Lacticínios da Ilha Terceira (Grota do Vale), a Igreja Nova dos Biscoitos, o estudo do que viria a ser o Hotel de Angra, o edifício da Oceânica (Praia da Vitória), o prédio de apartamentos do Auto Angrenses, diversas estruturas civis e militares na Base das Lajes, o Cemitério do Porto Martins, a Glorieta a Almeida Garrett e um sem número de habitações e espaços comerciais, onde ainda hoje é visível o arrojo do seu traço, que inovou visivelmente a realidade local. Foi dirigente associativo e professor da Escola Industrial e Comercial de Angra e da Escola Secundária de Angra do Heroísmo. Cidadão interventivo na sociedade local e na política, opondo-se ao regime do Estado Novo. Recebeu a Medalha de Mérito Municipal – Classe Mérito Profissional a título póstumo em 2017.

Paulo Barcelos – CMAH

2021 © Câmara Municipal de Angra do Heroísmo

Última actualização em 2024-08-14