Início Património histórico e cultural Arte Pública Intro

Painel evocativo à memória de Alfredo Pires

Este monumento evocativo à memória de Alfredo Pires foi uma iniciativa da Junta de Freguesia de Santa Bárbara. Sobre um pedestal cilíndrico em betão está um painel composto por 24 azulejos, pintados a azul, suportados por uma placa de cimento. Ostenta no canto superior direito a pintura da figura de Alfredo Pires, estando ocupado o restante com o seguinte texto: “ALFREDO LOURENÇO PIRES / NASCEU A 10 DE DEZEMBRO DO ANO DE 1903/ E FALECEU A 1 DE SETEMBRO DE 1993 NA / FREGUESIA DE SANTA BÁRBARA. / TIO ALFREDO DE SANTA BÁRBARA, O ENDIREITA / COMO ERA CONHECIDO EM TODA A ILHA TERCEIRA, / TRABALHAVA POR CONTA PRÓPRIA NA AGRICULTURA / SENDO TANTAS VEZES INTERROMPIDO NO SEU TRABALHO / PARA, COM O DOM ESPECIAL QUE TINHA, CONSERTAR BRAÇOS, PERNAS E COSTELAS / DESMANCHADAS OU PARTIDAS, A QUEM O SOLICITAVA SEM COBRAR NADA A NINGUÉM. / DIZIA-SE QUE SEUS DEDOS TINHAM OLHOS E QUE SUAS MÃOS SÓ DEIXAVAM O / PACIENTE DEPOIS DO SERVIÇO FEITO. POR TODOS OS SERVIÇOS PRESTADOS AO LONGO / DA SUA VIDA, À COMUNIDADE E À ILHA, FOI HOMENAGEADO PELO POVO DA SANTA / BÁRBARA A 10 DE DEZEMBRO DE 1983. A ASSINALAR A EFEMÉRIDE FOI COLOCADA / UMA PLACA COMEMORATIVA NA RESIDÊNCIA ONDE VIVIA.” Infelizmente há um engano nesta placa quanto ao ano de nascimento de Alfredo Pires, que foi na realidade em 1902.

Alfredo Lourenço Pires nasceu na freguesia de Santa Bárbara a 10 de dezembro de 1902, no seio de uma família humilde, tendo por pai o lavrador João Lourenço Pires e Maria Cândida Pires. Não completou a 4ª classe, trabalhando desde muito novo no campo a ajudar o pai a cuidar do gado e das terras.

Ainda muito novo assistiu por diversas vezes a um tio conhecido por arranjar pés torcidos, ombros deslocados e outros ossos, tendo começado a aprender este ofício. Aos 19 anos descobriu essa vocação quando numa tourada um capinha com um ombro fora do lugar recusou-se a ir para o hospital e logo alguém se lembrou de irem chamar o Alfredo que, de tanto segurar os clientes do tio, já devia perceber alguma coisa daquele negócio. Perante tamanha insistência, embora a contragosto, lá fez o Alfredo o serviço, dando o jeito que era preciso e levando tudo ao sítio. Como dizia o povo, parecia que tinha nascido com um dom especial ou uma habilidade e saber natural, que lhe permitiu ao longo da sua vida arranjar braços, pernas e costelas desmanchadas ou partidas a centenas de pessoas.

“Ti Alfredo o endireita“ continuou sempre envolvido nesses afazeres, granjeando fama que depressa se espalhou por toda a ilha. De todas as freguesias rumavam à Canada da Ribeira das Seis. Por vezes, quando não o encontravam em casa, iam ao seu encontro nalgum cerrado onde estivesse a cuidar dos animais e aí mesmo se resolvia o problema. Chegou a tratar cavalos, burros, gado e até toiros de quem levou alguns coices e cornadas. Uma ilha inteira passou pelas mãos de tio Alfredo. Mas também recebeu gente de outras ilhas, dos EUA e do Canadá. Ossos deslocados, fraturas não expostas, nervos ciáticos fora do sítio, era o que mais surgia. As fraturas eram ligadas com talas de papelão e recomendação de descanso absoluto durante 40 dias. Algumas vezes teve de ir ao tribunal defender-se de acusações que lhe faziam, segundo se dizia da classe médica, por alguma inveja e incómodo que o sucesso do ti Alfredo lhes causava. Conta-se como sendo verdade, que certa vez a esposa de um conhecido ortopedista, viu o marido partir da ilha e recorreu ao tio Alfredo para tratar de uma perna que nunca recuperara bem de uma fratura, o que veio a acontecer depois dessa visita.

Pelos valiosos serviços prestados à comunidade foi homenageado pela Junta de Freguesia de Santa Bárbara a 10 de dezembro de 1983 numa iniciativa da Junta de Freguesia, que contou com a presença da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, foi realizada uma homenagem a Alfredo Pires no seu 81º aniversário, procedendo-se ao descerramento de uma placa colocada na sua casa que dizia: “Homenagem do Povo de Santa Bárbara ao benemérito cidadão Alfredo Lourenço Pires pelos serviços prestados em prol de toda a comunidade.” À rua antes denominada de Ribeira das Seis, onde sempre viveu numa das últimas casas, foi atribuído em 1986 o nome de Rua Alfredo Pires. Faleceu a 1 de setembro de 1993, tendo sido aprovado um voto de pesar pela Assembleia de Freguesia a 15 de outubro seguinte.

Maria Aurélia Ribeiro Rocha nasceu na freguesia das Cinco Ribeiras. Ainda nova interessou-se por artesanato, dedicando-se à realização de miniaturas em madeira e a pinturas de motivos turísticos nesse tipo de material, em cabaças ou noutros, que eram comercializados em lojas de artesanato ou vendidos diretamente pela própria em feiras locais. Entretanto, desenvolve um particular interesse pela cerâmica e decide fazer formação com Renato Costa e Silva, um bem conhecido artista e ceramista terceirense.

Esse foi o embrião para que em 1998 se tenha lançado na aventura de iniciar uma pequena empresa artesanal, a AZULART, de forma completamente autónoma. Num espaço adaptado para o efeito, na Estrada Dr. Marcelino Moules nº 78, junto à sua residência, instalou o seu atelier, com a roda de oleiro, fornos de cozedura, alguns moldes e demais utensílios necessários à sua atividade. É aqui que esta ceramista terceirense se dedica à moldagem do barro, torneando as peças com as suas mãos hábeis, transformando-as em chacota com a ajuda do seu forno a uns escaldantes 780 ºC. A seguir é tempo de as vidrar e pintar com mão firme os traços que irão enriquecer a peça, e que a Aurélia tão bem faz. Outra passagem pelo forno, e os 1000 ºC cozem em definitivo este produto de qualidade. Dos seus trabalhos, alguns presentes em diversas exposições regionais, nacionais e internacionais, destacam-se: as louças utilitárias de cariz tradicional terceirense, como pratos, tigelas, jarros, terrinas, peças ornamentais onde são desenhados o toiro, a hortênsia, os “Açores” destinados a recordações para turistas; placas toponímicas e para outros tipos de identificação (números de polícia, jardins botânicos, etc.); interessantes e originais troféus para marcar eventos e provas; entre outros.

Nessa diversidade de trabalhos vemos uma artesã de muito mérito e qualidade, cujo trabalho não se esgota numa vertente puramente comercial, embora, como ela própria o admita, seja este um negócio, e como todos os outros, só vive com a presença de clientes.
Paulo Barcelos – CMAH

2021 © Câmara Municipal de Angra do Heroísmo

Última actualização em 2022-11-19