A escultura, da autoria do multifacetado escultor Jorge Melício, é um trabalho artístico em cerâmica que representa e homenageia a figura notável que foi o Tenente-Coronel José Agostinho. Foi inaugurada às 10:30 do dia 19 de junho de 2021, na mesma ocasião em que era inaugurado também este novo jardim da cidade, a que a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo deu o nome de tão ilustre angrense.
A obra é composta por um painel vertical em betão, recortado na forma da silhueta em tamanho real da figura de José Agostinho, na qual foram alojados dois painéis de azulejos pintados, um à frente e outro atrás, onde podemos observar a figura do Tenente-Coronel José Agostinho vista de frente ou pelas costas, respetivamente. Pela frente apresenta-se de fato, gravata e chapéu, como era a sua habitual forma de trajar, segurando na mão um catavento encimado pela figura de um cachalote. Na parte de trás do painel destacam-se as plantas aos pés de José Agostinho, numa alusão à paixão que tinha pelo estudo das ciências da natureza, de uma maneira quase indiscriminada tão grande era a sua curiosidade. Um bloco em basalto trabalhado num formato de meia-lua, colocado junto à base do monumento, tem gravado o brasão do município e os seguintes dizeres: MUNICÍPIO DE ANGRA DO HEROÍSMO / A / JOSÉ AGOSTINHO / 1888-1978 / METEOROLOGISTA / SISMOLOGISTA / NATURALISTA / INVESTIGADOR / OBRA DO ESCULTOR JORGE MELÍCIO / INAUGURADA EM 19 DE JUNHO DE 2021. Salientam-se assim algumas das facetas nas quais este extraordinário cientista se distinguiu, pecando apenas por defeito.
José Agostinho nasceu na freguesia de São Pedro em Angra do Heroísmo a 1 de março de 1888. Filho de pai militar, completou o Liceu, ingressou na Escola Politécnica e seguiu depois para a Escola do Exército onde se graduou em artilharia. Integrou o Corpo Expedicionário Português enviado para França durante a Grande Guerra. Regressou aos Açores sendo colocado em 1918 no Observatório Meteorológico de Ponta Delgada onde trabalhou em estreita colaboração com o naturalista Coronel Francisco Afonso Chaves, então diretor do Serviço Meteorológico dos Açores. Sucedeu-lhe nesse cargo promovendo a expansão deste serviço. Integrou diversas comissões internacionais nas áreas do geomagnetismo e geoeletricidade. Aperfeiçoou alguns instrumentos de observação e inventou o
nefoscópio de reflexão instrumento utilizado para determinar a velocidade do vento através da deslocação das nuvens.
Notabilizou-se como estudioso da natureza que o rodeava, correspondendo-se com grandes naturalistas de renome do seu tempo. Realizou importantes observações e interessou-se pelo estudo de várias áreas do saber como a climatologia, magnetismo, sismologia, vulcanologia, ornitologia, botânica, linguística, literatura, história, etnologia, geografia, etc., tendo publicado algumas centenas de trabalhos. Recorrendo a mais de uma centena de palestras realizadas aos microfones do Rádio Club de Angra, evidenciou-se como comunicador capaz de suscitar a curiosidade e captar a atenção até do ouvinte mais recatado, o que fez dele uma das personalidades açorianas mais conhecidas das décadas de 1950 e 1960. Se as suas deduções e conclusões sobre o meio físico destas ilhas causavam na altura espanto por serem
novidade, ainda hoje nos espanta o rigor com que muitas delas foram concebidas.
Foi sócio fundador e presidente da Sociedade de Estudos Açorianos Afonso Chaves, do Instituto Histórico da Ilha Terceira e de outras associações açorianas. Era membro de diversas sociedades científicas internacionais e sócio correspondente do Instituto de Coimbra e da Sociedade Broteriana. Pelo seu desempenho na Grande Guerra foi condecorado com a
Cruz de Guerra de 1.ª Classe e com o grau de
Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito (10 de julho de 1920). Foi comendador da
Ordem Militar de Avis (5 de outubro de 1929), oficial da
Ordem Militar de Cristo (5 de novembro de 1931) e grande-oficial da
Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (17 de fevereiro de 1978). Foi ainda condecorado como oficial da
Ordem do Império Britânico (22 de novembro de 1946) por serviços prestados às forças britânicas estacionadas na ilha Terceira durante a Segunda Guerra Mundial. O seu nome foi atribuído ao
Observatório José Agostinho e à
Avenida Tenente-Coronel José Agostinho, que agora termina no novo jardim que tem também o seu nome. Faleceu a 17 de agosto de 1978, aos 90 anos, sendo enterrado no dia seguinte no Cemitério do Livramento. Refira-se que esta é obviamente uma biografia muitíssimo incompleta da obra de tão notável angrense.
Mais informação sobre esta notável figura podem ser consultadas neste portal em
José Agostinho, palestras na rádio
Jorge Melício nasceu em Angola em 1957, mas muito novo veio residir para Portugal. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Viveu e teve atelier em Paris e passou longos períodos de criação, estudo e convívio em Milão, Hanôver, Moscovo e Madrid. Trabalhou com o prestigiado escultor Cardenas restaurador do Brooklyn Museum em New York.
Começou jovem pintando murais, mas a sua obra plástica rapidamente evoluiu por outras modalidades. Foi maquetista, grafista e designer de automóveis e objetos como embalagens para produtos informáticos, relojoaria e vestuário. Trabalhou em palácios e igrejas no restauro de estuques decorativos, frescos e estatuária sacra. Desenhou telas a pastel seco, carvão e grafite. Pintou e fez incursões na área da cerâmica, passando pela azulejaria moderna, perfeitamente representada nesta obra do Tenente-Coronel José Agostinho. Dedicou particular atenção à escultura. Nos anos setenta e oitenta produziu peças em pedra e luminárias de interior, evoluindo para outros materiais como o gesso e fundição de bronze e resina. É hoje um dos melhores escultores mundiais na área do hiper-realismo, com esculturas dispersas por várias localidades portuguesas, salientando-se: o grupo escultórico “Família” no Jardim Fernando Pessa; uma tela no café "A Brasileira" no Chiado; as "Brincadeiras de Crianças" no Parque Monsanto; o monumento de cerâmica, suspenso em arcos metálicos dedicado à Rainha Santa Isabel e Rei D. Dinis; o mural sobre a "matemática moderna" na Escola Nuno Gonçalves e muitas outras obras espalhadas por museus, instituições e coleções privadas em Portugal, Rússia, Espanha, Itália, Roménia, Alemanha, França, Líbia, Palestina, Brasil, México, Cuba, EUA e Iraque. Citado em dezenas de livros, o seu trabalho tem sido matéria para aulas de história de arte, teses de mestrados e doutoramentos. Foi ainda: realizador de cinema de animação; efetuou mais de duas centenas de exposições nacionais e internacionais e foi curador de outras; fez parte da equipa técnica do projeto paisagístico do “Corredor Verde do Parque Monsanto” em Lisboa; foi assessor para as artes de ministros; dinamizador cultural do Município de Lisboa; coordenador cultural e guia da Junta de Freguesia de S. João de Deus; foi ilustrador do jornal Diário de Notícias; decorou standes de venda e desenvolveu outros projetos na área do vitrinismo; foi docente na área das artes plásticas do ensino primário ao universitário; fundou ateliês e escolas de ensino artístico.
Foi-lhe atribuído vários prémios nas diferentes áreas em que trabalhou, entre eles a Medalha de Bronze do Museu Diogo Gonçalves, o Prémio de Design ICS Para Embalagens e a Medalha de Prata de Castelo Branco.
Paulo Barcelos – CMAH