Foi em 1917, ano em que se comemorou o terceiro centenário do martírio do ilustre terceirense João Batista Machado em terras do Japão, que o prelado da Diocese de Angra benzeu a
primeira pedra para um projetado monumento que ficaria implantado em frente da igreja do Colégio, sobranceiro à escadaria. A localização deste monumento junto do antigo convento e igreja dos Jesuítas revestia-se de profundo significado, por ter sido João Batista Machado missionário da Companhia de Jesus e porque se diz ter nascido numa casa situada nas imediações, que foi posteriormente incorporada no Colégio dos jesuítas. A ideia entrou, no entanto, em prolongada hibernação até que foi reanimada em 1984 por iniciativa de um grupo de defensores da canonização do beato, com particular destaque para Valdemar Mota, que reativou a ideia da construção do monumento. Foi criada uma Comissão Pró-Monumento que contou com o apoio da Diocese e que desencadeou uma campanha de angariação de fundos, capaz de reunir a quantia necessária em donativos e apoios, de particulares e entidades públicas e privadas, na região e na diáspora, para tornar este projeto numa realidade. Tal foi possível graças ao povo açoriano, residente e emigrado.
A estátua em bronze com cerca de 500 quilos e 2,5 m de altura, mostra João Batista Machado ostentando bem alto na mão esquerda a cruz da Redenção, levando a mão direita aberta em sinal de entrega, de olhos fitos no céu, avançando decidido a espalhar entre os pagãos a semente evangélica da salvação. Foi fundida na “Fundição Lage”, em Vila Nova de Gaia, que ofereceu as letras em bronze que estão no pedestal e que dizem: “JOÃO BAPTISTA MACHADO / MÁRTIR DO JAPÃO”. O transporte até à Terceira no navio “Açor” foi oferecido por um transitário. Coube à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo construir o plinto em betão para a estátua, forrado a basalto.
No sábado 3 de setembro de 1988 a Diocese realizou uma solene eucaristia de homenagem ao beato, concelebrada por 17 sacerdotes e dois bispos, estando presente D. Arquimínio Rodrigues Bispo de Macau. Após a missa procedeu-se à inauguração e bênção da estátua, sob os acordes musicais da Filarmónica Recreio dos Artistas. Apesar da santidade gloriosa e heroica do apóstolo missionário João Baptista Machado, tem faltado um milagre que viabilize a canonização do Beato João batista Machado, Padroeiro principal da Diocese e patrono dos emigrantes. Entretanto… a devoção vai desaparecendo.
João Baptista Machado nasceu em Angra do Heroísmo em 1582, no seio de uma rica e distinta família. Frequentou a escola até aos 15 anos, mas com a morte do pai deixou os bens ao cuidado da mãe e seguiu para Coimbra onde foi admitido no Colégio da Companhia de Jesus a 10 de abril de 1597, contando apenas 16 anos de idade. Concluíu os estudos e ali professou, partindo para a Índia em 1601 com outros 15 companheiros jesuítas. No oriente continuou a frequentar os estudos dos colégios da Companhia, estudando Filosofia em Goa e Teologia em Macau. Ordenado sacerdote em Goa partiu em missão evangélica para o Japão em 1609, quando já havia ordens que determinavam que os missionários cristãos deveriam abandonar o território nipónico. Ficou no Colégio Jesuíta de Arima algum tempo para aprender a língua e a cultura japonesa, indispensáveis à sua missão. Depois de visitar várias cidades acabou por se fixar na cidade de Gotō. Resolveu permanecer no Japão mesmo depois de ter recebido em 1614 ordem imperial para abandonar o país. Passou a missionar na clandestinidade para acudir às necessidades espirituais das comunidades cristãs japonesas. Em abril de 1617 foi descoberto e detido quando confessava um grupo de cristãos. Levado para a cidade de Omura e encarcerado na prisão, foi executado por decapitação a 22 de maio de 1617 no monte Obituri, juntamente com cerca de 100 cristãos de várias congregações, por coincidência no Domingo da Santíssima Trindade. Rezam as crónicas que aceitou com serenidade a morte, considerando-a um martírio. Tinha então 37 anos de idade, estando há 20 anos na Companhia de Jesus, há 16 no Oriente e há 8 no Japão.
O Papa Pio IX beatificou-o em 1867 juntamente com outros 205 mártires vítimas da mesma perseguição, 250 anos depois do seu martírio. A 30 de abril de 1876 realizou-se na igreja do Colégio uma festa solene em honra do Beato João Batista Machado, tendo-o nesse dia o prelado proclamado como patrono desta Diocese de Angra. Dele há imagens em várias igrejas da Terceira e da diáspora. A Ermida da Ladeira Grande aberta ao culto no dia 22 de maio de 1970 foi-lhe consagrada e por despacho de 10 de outubro de 1996 a escola da Ladeira Grande foi denominada de EB/JI Beato João Baptista Machado (hoje encerrada). Há também na freguesia da Ribeirinha uma rua com o seu nome.
“Aquele que foi, pelo espírito, o maior dos açorianos”, no dizer de Luís da Silva Ribeiro.
Álvaro Raposo de França, nasceu em Ponta Delgada, ilha de S. Miguel em 1940. Ingressou na Escola Superior de Belas-Artes do Porto em 1960, onde foi aluno dos Escultores Gustavo Bastos, Eduardo Tavares, Lagoa Henriques e Barata Feyo com quem trabalhou nos últimos anos do curso. Enquanto estudante participou nas Exposições Magnas anuais bem como na IV Exposição Extraescolar dos alunos. Terminou o curso em 1965. Em 1989 começa a lecionar na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa onde se manteve até à sua aposentação em 2000. Em 2007 regressa definitivamente a Ponta Delgada.
A partir de 1972 Álvaro Raposo de França foi sempre trabalhando no campo da escultura, tendo participado em inúmeras exposições coletivas e individuais em diversos países. É autor de numerosas medalhas e mais de quarenta obras públicas (estátuas, monumentos e bustos), nos Açores, no continente e no estrangeiro. Das suas obras que se encontram na região destacamos: na ilha de Santa Maria a
Estátua de Cristóvão Colombo no lugar dos Anjos; na ilha de São Miguel o
Monumento a António de Oliveira no Nordeste, o
Monumento a Antero de Quental no Parque dos Poetas, a
Estátua de S. Pedro na igreja com o mesmo nome, o
Monumento ao Bombeiro e o
Monumento ao Emigrante Açoriano, tudo em Ponta Delgada e a
Estátua do Padre Flores na Ribeira-Chã; na ilha do Faial o
Monumento Comemorativo dos 25 anos da Autonomia Legislativa Regional; e na ilha Terceira o
Busto de Vitorino Nemésio e o
Monumento à Imaculada Conceição na cidade de Praia da Vitória e em Angra do Heroísmo a
Estátua do Papa João Paulo II, a
Estátua do Beato João Batista Machado e os
Bustos do Padre Jerónimo Emiliano de Andrade e do Padre Coelho de Sousa. Somam-se a estas numerosa quantidade de outras obras, estando representado em quase todas as ilhas dos Açores.
https://pt.wikipedia.org/wiki/João_Baptista_Machado
Paulo Barcelos – CMAH