A ideia de se construir este Cruzeiro Comemorativo do IV Centenário da Batalha da Salga, “de exaltação ao passado e prestígio para o presente e futuro” coube ao Pe. Manuel Coelho de Sousa, então vigário na Matriz desta Vila, de onde era natural e a que tanto se dedicou. A conceção saiu do traço do arquiteto Miguel Lima, da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, entidade a quem juntamente com Junta de Freguesia da Vila de S. Sebastião se ficou a dever este monumento.
Os trabalhos começaram em janeiro de 1982, altura em que as comemorações iam já a meio. Foi propositadamente reaberta uma pedreira para garantir uma boa matéria-prima com que trabalhar, ficando o cabouqueiro João Miranda responsável por retirar a melhor pedra para o efeito. Coube à arte e engenho de Cipriano Veiga e Manuel Veiga cinzelar e aparelhar as pedras, com a qualidade que lhes era reconhecida, e erguer o monumento no centro da praça. Tinham também sido estes irmãos a trabalhar as cantarias utilizadas nas molduras da Matriz, uma intervenção do agrado da população. Em meados de março de 1982 o monumento estava terminado, faltando apenas as placas metálicas gravadas com as frases escolhidas.
Aguardou-se pela altura certa e pelas 17:15 do dia 25 de julho de 1982 procedeu-se à inauguração deste padrão/cruzeiro, uma cerimónia que estava integrada no programa de encerramento das comemorações do 4º centenário da Batalha da Salga, iniciadas um ano antes. O evento revestiu-se de grande simbolismo para as autoridades e população presente, que acorreu em grande número. A cerimónia contou com a participação do Dr. José Guilherme Reis Leite em representação do Governo Regional, do Dr. Rui Mesquita enquanto presidente da Câmara e da comissão executiva destas comemorações, que descerrou as placas deixando à vista de todos os seus dizeres. A placa colocada na parte inferior do pedestal, na face que está virada para a igreja, tem os dizeres: IV / CENTENÁRIO / DA BATALHA / DA / SALGA. Na face oposta existe outra placa semelhante que diz: AO POVO / DA VILA DE / S. SEBASTIÃO.
À solenidade do momento juntaram-se outros intervenientes: os Escuteiros do Agrupamento 652 desta Vila de S. Sebastião fizeram a guarda de honra; a Sociedade Filarmónica União Sebastianense tocou o Hino da Região enquanto se descerravam as lápides; o Grupo Coral Sebastianense cantou o Hino de S. Sebastião e o cântico de ação de graças “Louvado seja o Senhor”; o grupo infantil da catequese entoou um hino ao seu padroeiro; e o poeta popular António Mendes, da freguesia de Santa Bárbara, surpreendeu os presentes com uma bonita saudação que fez à Vila.
Refira-se que em novembro de 1978 a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo iniciou as obras de melhoramento desta praça que culminou no calcetamento da mesma, utilizando motivos da heráldica do brasão da Vila. Os mesmos motivos acabaram por surgir também no monumento. Este padrão apresenta-se como um pedestal de secção quadrada assente sobre três secções quadradas concêntricas de diferentes tamanhos formando degraus, que suportam uma coluna com capitel, no cimo do qual está um cubo em pedra que tem esculpidas nas quatro faces um escudo com duas setas passadas em aspa, uma terceira em pala sobre as primeiras e uma fita disposta horizontalmente a “amarrar” as setas. As setas são uma representação iconográfica do orago da freguesia, S. Sebastião, o santo mártir que foi mandado executar por meio de flechas. A encimar este padrão está a Cruz da Ordem de Cristo que foi responsável pela presença do homem nestas ilhas.
Se observar com atenção vai perceber que houve um engano do mestre canteiro que esculpiu os escudos, que apresentam as duas setas oblíquas viradas para cima mas que têm a vertical virada para baixo. Na praça os escudos em calçada não permitem perceber esta questão devido à sobreposição da seta vertical com a Cruz de Cristo.
Paulo Barcelos – CMAH