Início Património histórico e cultural Arte Pública Intro

Glorieta a Almeida Garrett

João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854), nasceu no Porto a 4 de fevereiro de 1799 onde passou a sua infância. O pai, natural do Faial, para escapar à 2ª Invasão Francesa acabou por vir residir para a ilha Terceira em 1811, lugar onde vivia o seu irmão cónego Inácio da Silva Garrett. Ainda nesse ano veio a Angra visitá-los outro tio, D. Frei Alexandre, que voltaria em 1813 agora como Bispo de Angra, para assumir a diocese. Na ilha Terceira o jovem adolescente é educado para seguir a vida eclesiástica, mas apaixona-se por uma jovem inglesa que residia nesta ilha, a descontento dos seus pais que o mandam em 1814 passar uns tempos à ilha Graciosa, a casa de um seu tio materno que aí era Juiz de Fora. Aí escreve os seus primeiros poemas, reveladores do grande homem das letras em que se iria tornar. Aos 17 anos vai estudar direito para Coimbra, onde adere ao ideal liberal e começa a escrever algumas peças de teatro, concluindo o curso em 1821. Como Liberal convicto, aderiu à Revolução de 1820, mas a reação miguelista de 1822 leva-o novamente ao exílio, primeiro em Inglaterra e depois em França. Nos meios literários desses países contacta com o movimento romântico, de que virá a ser introdutor em Portugal, considerado mesmo o primeiro e mais representativo autor nacional do Romantismo. Em 1826 regressa ao seu país, mas as lutas instaladas obrigam-no a novo exílio. Acaba por regressar à ilha Terceira possivelmente em 1831. Durante a sua permanência em Angra colaborou com Mouzinho da Silveira nas reformas que iriam transformar por completo a estrutura do país. Em 1832, como soldado do corpo académico de voluntário, acompanha D. Pedro na expedição dos Bravos do Mindelo, que libertaram o Porto. Consolidado o regime liberal, promoveu a fundação do Conservatório de Arte Dramática, a criação do Teatro Nacional e exerceu vários cargos na governação do país onde revelou excecionais dotes de orador.

Eleito deputado por Angra a partir de 1837, é ele quem redige o decreto de 12 de janeiro de 1837, assinado por D. Maria II (“Diário do Governo” n.º 17, de 20 de Janeiro de 1837), a partir do qual a cidade de Angra ganhou o epíteto “do Heroísmo”, acrescentando ao título de Muito Nobre e Leal, que já possuía, o de “Sempre Constante”, e tendo pendente nas suas novas armas a insígnia da Grã-Cruz da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Em 1852 foi ministro do gabinete presidido por Saldanha. Garrett, figura de vulto da Revolução Liberal e da literatura nacional, tornou-se assim num filho adotivo da ilha Terceira que aqui viveu parte da sua atribulada mocidade, para sempre ligado à sua história. Morre em Lisboa a 9 de dezembro de 1854.

Por ocasião do centenário da sua morte, a Comissão Nacional do Centenário de Garrett escolheu para as comemorações as cidades às quais Almeida Garrett mais tinha estado ligado, incluindo obviamente a cidade de Angra do Heroísmo. O delegado especial da comissão o prof. António de Almeida Garrett, familiar do homenageado, deslocou-se à ilha Terceira e, na presença das autoridades locais e população, a 30 de novembro de 1954 inaugurou-se a Glorieta a Garrett, no lado oposto à entrada principal do Jardim Duque da Terceira. O escultor Francisco Xavier de Viveiros Costa foi o autor do baixo-relevo com a efígie de Garrett, que serviu de matriz para posteriormente se encher a placa com bronze fundido na Fundição Terceirense. Ao arquiteto Fernando de Sousa coube projetar a tríptico em pedra, que suporta a efígie e as inscrições que referem:

À esquerda: "De Garrett à Terceira / Não tive a fortuna de nascer naquele torrão… mas a minha Pátria, mas a de meus pais, mas o meu património, mas tudo quanto constitui a Pátria dum homem é… a minha saudosa ilha Terceira… um dos mais nobres padrões da glória portuguesa / Obtém para Angra a Grã-Cruz da Torre e Espada”; ao centro: “A Almeida Garrett / O Município / Garrett propõe e redige o decreto que dá a Angra a denominação do Heroísmo”; à direita: “De Garrett à Terceira / Minha Pátria adoptiva… a nossa ilha Terceira vicejante e pampinosa tranquila e saudosa à repousada sombra das faias e laranjeiras / Aos seus títulos de Mui Nobre Leal Angra acrescenta o de E Sempre Constante”.


No passeio que leva a este monumento está gravada na calçada a face de Almeida Garrett, num trabalho artístico dos calceteiros municipais, que ajuda a lembrar tão importante figura nacional.

Francisco Xavier de Viveiros Costa, escultor micaelense nascido em 1914. Possui vários trabalhos de arte pública, privilegiando o uso pelo metal, em particular o bronze, e pela pedra de diversos tipos. É responsável por um conjunto significativo de peças distribuídas por vários países. Só naa ilha que o viu nascer tem a sua obra presente em várias instituições públicas, destacando-se os bustos de “António Câmara”, de “Carlos Machado”, de “Ernesto Ferreira” ou de “Luís Bernardo Leite de Ataíde”, o baixo-relevo de “Antero de Quental” de que é coautor, as estátuas em bronze de “José do Canto” no respetivo jardim e o “Nu-Primavera” no Museu Carlos Machado lugar onde possui outras obras como o baixo-relevo “Os Pescadores”. Faleceu em 1997.

Fernando Augusto de Sousa, nasceu em abril de 1913, no Porto, e faleceu em janeiro de 1996, em Angra do Heroísmo. Formou-se em Arquitetura pela Faculdade de Belas Artes, da Universidade do Porto. Trabalhou na Câmara Municipal do Porto. Na década de quarenta do século XX estabeleceu-se em Angra do Heroísmo, integrando os quadros da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Do seu estirador nasceram dezenas de obras marcantes para o crescimento do concelho, e para outras ilhas da região. Destaca-se o traçado das avenidas na parte nova da cidade, a Praça Almeida Garret, os edifícios e estruturas dos celeiros em várias ilhas dos Açores, a Casa de Trabalho do Nordeste, as primeiras oficinas da Empresa de Viação Terceirense, a primeira Fábrica de Lacticínios da Ilha Terceira (Grota do Vale), a Igreja Nova dos Biscoitos, o estudo do que veria a ser o Hotel de Angra, o edifício da Oceânica (Praia da Vitória), o prédio de apartamentos do Auto Angrenses, diversas estruturas civis e militares na Base das Lajes, o Cemitério do Porto Martins, a Glorieta a Almeida Garret e um sem número de habitações e espaços comerciais, onde ainda hoje é visível o arrojo do seu traço, que inovou visivelmente a realidade local. Foi dirigente associativo e professor da Escola Industrial e Comercial de Angra e da Escola Secundária de Angra do Heroísmo. Cidadão interventivo na sociedade local e na política, pondo-se ao regime do Estado Novo. Recebeu a Medalha de Mérito Municipal – Classe Mérito Profissional a título póstumo em 2017.
Paulo Barcelos – CMAH

2021 © Câmara Municipal de Angra do Heroísmo

Última actualização em 2022-05-09