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Busto do Dr. Manuel António Lino (1865-1927)

No chamado jardim de cima, em local de destaque, está o busto do grande intelectual terceirense que foi o Dr. Manuel António Lino, invocando a sua memória e homenageando a sua obra. Mais do que apenas um talentoso e erudito médico, foi também um exímio floricultor, poeta, jornalista, dramaturgo, músico e autor musical, entre outros predicados que o distinguiram do comum dos mortais.

O seu busto em mármore foi habilmente cinzelado por Francisco Matias, um capataz da Câmara Municipal de Angra de quem pouco se sabe, a não ser a evidente capacidade artística que possuía. Foi inaugurado a 16 de outubro de 1949 pelo presidente da câmara municipal Dr. Joaquim Moniz de Sá Corte-Real e Amaral e descerrado por Manuel Borges de Ávila, um dos mais antigos amigos do homenageado. Muitos anos depois foi este busto vandalizado, havendo a necessidade de recuperar a cabeça. A placa que acompanha o busto contém os seguintes dizeres: DR. LINO / 1865 - 1927 / CULTIVOU / AS FLORES / AS LETRAS / A MÚSICA. Do discurso de inauguração retirámos algumas notas.

Nasceu o Dr. Lino a 4 de janeiro de 1865, filho de Manuel António Lino, tanoeiro de profissão, natural da Piedade ilha do Pico e de Maria Laureana do Carmo, natural de S. Amaro da mesma ilha, que mais tarde haveriam de fixar residência no nº 46 da Rua da Guarita desta cidade.

Revelou-se um estudante excecional, concluindo com distinção os estudos liceais em 1884. Seguiu depois para Coimbra matriculando-se na Faculdade de Medicina. Figurou no quadro dos alunos premiados em todos os cinco anos do curso, evidenciando invulgares qualidades intelectuais e morais, o que à partida lhe assegurava o acesso à cátedra universitária para a qual foi convidado. Preferiu renunciar aos privilégios que lhe adviriam dessa alta e honrosa posição, regressando à sua terra natal onde abriu consultório para exercer clínica geral. Em pouco tempo viu crescer a sua clientela e o respeito pela sua opinião científica. Dedicou-se de forma particular à oftalmologia na qual se tornou especialista.

Em 1895 é nomeado Médico Municipal do concelho. A 1 de agosto de 1900 tomou posse do lugar de Delegado de Saúde do distrito, até 1919, ano em que foi nomeado Guarda-Mor de Saúde, passando em 1926 a Subinspetor. No desempenho destes cargos e das várias missões de serviço públicos, de que foi incumbido, evidenciou notáveis capacidades científicas e de trabalho, que o impuseram como um profissional distintíssimo.

Ao talento de médico erudito que era, juntava o de artista. Era um floricultor exímio cultivando as flores, em particular rosas e crisântemos, na sua pequena quinta situada nos “Melancólicos” onde passava o verão e a que dava o nome de “Jericó”. Produzia exemplares de tal formosura que, em várias exposições realizadas em Angra obteve sempre os prémios principais. Era neste retiro que recebia os amigos a quem por vezes lia as suas produções literárias, pois era também poeta, dramaturgo e autor musical. Publicou em revistas e jornais obras como os “Kodaks” (1922 - coleção de quinze sonetos que retratam personalidades locais das suas relações), “Edelweisse” (1925 - pequena brochura contendo oito primorosos sonetos) e a peça “Luz Bendita” (1916 – um drama em verso em três atos). Traduziu numerosas peças dos principais dramaturgos estrangeiros da sua época, principalmente do francês e do espanhol, línguas que conhecia perfeitamente.

Consagrou-se ainda à pintura e à música, com que deu maior beleza a algumas das suas composições teatrais. Foi desde a sua juventude primoroso executante de bandolim, chegando a fundar em 1895 a sociedade “Estudantina Angrense”, cuja orquestra reunia os melhores elementos musicais de então. Foi jornalista, figurando o seu nome entre os primeiros colaboradores de “A União”. Pertenceu à Comissão de Estudo e Propaganda da Autonomia Administrativa dos Açores, a partir da sua organização em 1893. Foi presidente da Cozinha Económica Angrense e exerceu por curto espaço de tempo as funções de Governador Civil do Distrito da Horta em 1906. Com decidida vocação para o ensino, foi professor provisório no Liceu de Angra das cadeiras de Ciências Naturais e de Química, de 1918 até à sua morte em 1927, reunindo a admiração e estima dos seus alunos.

Também por sua iniciativa foram realizados pela primeira vez Jogos Florais pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, a 5 de Julho de 1924. A Câmara ao elaborar o Regulamento da Exposição Regional de Floricultura que foi realizada em Angra em junho de 1945, instituiu um prémio denominado “Prémio Dr. Lino”.

Homem de infatigável atividade intelectual, de rara e fina sensibilidade, de alma delicada e afetiva, apresentava um vibrante amor à terra natal e promovia uma ação social invulgar, o que lhe granjeou o respeito, admiração e simpatia de todos.

Morreu na sua casa na Guarita a 15 de Junho de 1927, com 62 anos de idade, no estado solteiro. Na sua lápide na sepultura 68, parte Alta do Cemitério do Livramento, está escrito “Aqui jaz o Dr. Manuel António Lino. Nasceu em 4-1-1865 Faleceu em 14-6-1927. Amou as Flores, a Música, a Poesia. Orae por ele”.

Bibliografia: “O Dr. Manuel António Lino, Médico - Poeta – Artista”, in “Biografias e outros escritos”, de Joaquim Moniz de Sá Corte-Real e Amaral. Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. 1989
Paulo Barcelos – CMAH

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Última actualização em 2022-05-08