No âmbito da Rede Europeia de Incentivo aos Jovens Criadores a Oficina de Angra promoveu em 1999 a V Pépinières Européennes pour Jeunes Artistes, uma residência de artistas na ilha Terceira com duração de 4 meses, da qual resultou diversas exposições, instalações, um catálogo e uma peça de arte pública construída no centro da Praça Almeida Garrett, manipulada para ser alojada na fonte e tanques que aí existem, como se fosse algo que se tivesse desenvolvido no local. A peça escultórica da autoria de Tim Maslen, intitulada de “A Árvore”, foi construída em cimento até atingir a forma que hoje podemos apreciar, criando uma obra de interessante observação e significado. No dizer dos responsáveis por esta obra, esta é uma árvore incapaz de frutificar, somente produzindo “frutos de pensamento, pela sua estranha e artificial beleza e pela simbologia do seu aspeto”. No dizer de José Nuno da Câmara Pereira “Tim Maslen transporta-nos para uma ética/estética esquecida e desprezada pela sobranceria do homem insensibilizado pela avidez tecnocrata e economicista que por aí campeia”.
Esta árvore segue no sentido descendente os três níveis de cascatas em que a fonte está dividida, apresentando grossas pernadas e ramos, podados de forma abrupta simbolizando o extravasar dos limites do aceitável. Nas “cicatrizes” dos cortes o artista colocou pequenos aspersores que pulverizavam o ar com uma nuvem de água, como se a árvore estivesse a sangrar, em sofrimento. Infelizmente o sistema de bombas, condutas e aspersores que alimentavam este conjunto degradou-se muito com o tempo, não funcionando já como no início. O artista moldou o exterior dos troncos e ramos conferindo-lhes uma textura particular, com sulcos profundos ao longo do tronco e com um acabamento acastanhado, aproximando-se da cor que se convencionou atribuir à casca das árvores.
Tim Maslen, nasceu em 1968 em Perth, Western Austrália, tendo-se tornado mais tarde cidadão inglês. É o que se chama um artista errante, percorrendo o mundo, criando instalações que prendem a atenção do público e da crítica. A sua obra é considerada arrojada, poética e de algum modo surreal. Faz uma residência artística na Terceira onde cria a “Fonte da Árvore”, tendo-se demorado a explorar algumas ruínas do Sismo de 80 que ainda subsistiam, onde a resiliência da natureza promove o crescimento da vegetação que reclama de volta o seu espaço. Essa experiência marcou o seu trabalho, onde cria paisagens que atuam como metáforas para a dificuldade que os humanos têm em aceitar o facto de que a vida no mundo é uma experiência unitária. O trabalho de Maslen é visto como uma espécie de artista-xamã, cujo papel é facilitar jornadas emocionais e espirituais, reconectando-nos com as criaturas que somos quando removemos as camadas da civilização que nos cobrem ou quando esta é quebrada por uma natureza que se impõe, numa espécie de ritual para reconciliação com as nossas origens.
Em 1987/89 faz o bacharelato em Belas Artes na Curtin University (Austrália) e em 1996/97 o mestrado em Belas Artes na Goldsmiths University of London (Inglaterra). Para além de mais de uma centena de participações em exposições coletivas, fez mais de duas dezenas de exposições/projetos individuais, uma das quais na ilha Terceira, na Igreja Velha de S. Mateus, em 1999, salientando-se ainda: 2017 Cash, Clash & Climate, UK; 2016 Natural Capital, UK; 2014 Mirrored, UK; 2014 Maslen & Mehra Turquia; 2012 Impermanent Collection, UK; 2012 Native and Mirrored Series, Austrália; 2011 Mirrored Scotiabank, Canadá; 2011 Public installation Scotiabank, Canadá; 2010 Maslen & Mehra, Dubai; 2008 Because There Is Nothing On This Green Earth That Is Stronger Than, Alemanha; 2008 Shadow Lands, EUA; 2008 Maslen & Mehra UK; 2008 Tão Worlds, Turquia; 2007/8 Around, Maslen & Mehra / Federico Guida, Itália; 2007 Maslen & Mehra, UK; 2006 Metropolis, Alemanha; 2006 Maslen & Mehra, Espanha; 2006 Maslen & Mehra, França; 2003 Phoenix, Austrália; 2002 Terra Incognita, Austrália; 2001 Drift film, UK; 2001 Drift, UK; 2000 Woodland, Austrália; 2000 Gorge, UK. Foi nomeado e viu vários dos seus projetos premiados. Recebeu, entre outros, o London Arts award (2001); The Henry Moore Foundation award (2001); Arts Council Of England new work award (2004); Arts Council Of England award for the production of a publication: Mirrored - Maslen & Mehra (2007); Honorable Mention, Pilsner Urquell International Photography Awards (2008); Finalist Comel award Italy (2015). Figura em diversas coleções particulares e de instituições como: Galila Collection, Bruxelas; Tattinger Collection, Suíça; Nevada Museum Of Art, EUA; The Frissiras Museum, Atenas; Nature Art Museum, Coreia do Sul; The South Australian Museum, Austrália; The Art Gallery of Western Australia, Austrália; UWA Art Collection; The Eden Project; RCI Liberty of the Seas, Miami; The Holmes à Court Collection; Loreal Collection, Paris; Lianzhou International Photography Collection, China; The Kerry Stokes Collection; Piramid Sanat, Istambul; Art Es Collectio, Espanha.
Paulo Barcelos – CMAH