Por iniciativa da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo foi inaugurado a 14 de outubro de 1951 em São Sebastião um monumento a Francisco Ferreira Drummond, escritor e promotor da história desta ilha, numa das várias cerimónias que ocorreram nesse dia em homenagem à memória deste ilustre terceirense.
Nesse dia ornamentaram-se as ruas e foi grande a multidão que afluiu ao local. À chegada do Governador Civil Dr. Cândido Forjaz, do Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo Dr. Joaquim Corte-Real e Amaral e na presença de inúmeras personalidades que se associaram ao evento, tocou a filarmónica local o “Hino da Maria da Fonte”, seguindo o périplo em direção à Matriz, enquanto no ar voavam as flores e rebentavam os foguetes. Celebrou-se a missa em sufrágio da alma de Francisco Ferreira Drummond e organizou-se novo cortejo que rumou à Travessa da Misericórdia onde foi descerrada uma lápide na casa em que nasceu, viveu e morreu (1796-1858), terminando o périplo no Largo do Rocio, onde se procedeu à inauguração do monumento evocativo.
O monumento, executado sob projeto do distinto artista terceirense mestre Francisco Coelho Maduro Dias, apresenta uma projeção vertical de secção quase triangular, onde os três escudos que formam as faces estão separados por palmas, muito bem esculpidas, como que a formar os cunhais deste padrão. É uma obra muito original na maneira como foi idealizada, mas realce-se também a sua execução, apresentando um primoroso trabalho na forma como foram lavradas as cantarias de basalto. Pequenas chapas com letras em relevo foram apensas a cada uma das faces do monumento, referindo a primeira: AO / HISTORIADOR / FRANCISCO FERREIRA / DRUMOND; a segunda: AUTOR / DOS / “ANAIS DA ILHA TERCEIRA”; e a terceira: HOMENAGEM / DA / CÂMARA MUNICIPAL / DE / ANGRA DO HEROÍSMO / 1951.
Na ocasião discursou o presidente da Câmara Municipal, acentuando ter chegado finalmente a hora de fazer justiça à memória de tão ilustre terceirense, uma das figuras mais notáveis do seu tempo nesta ilha como investigador, historiador, paleógrafo, músico, administrador público e defensor de causas públicas. Por coincidência ou não, foi decidido inaugurar este monumento no ano em que se comemorava o V Centenário da chegada à ilha dos primeiros povoadores (1451) que desembarcaram no litoral desta mesma vila, berço da colonização terceirense.
Francisco Coelho Maduro Dias (1904-1986) foi uma das figuras de maior destaque no meio artístico terceirense. Estudou Belas-Artes em Lisboa contatando com artistas de renome internacional. Ainda na capital colaborou na elaboração dos conteúdos do Pavilhão Português para a Exposição de Sevilha, colhendo importantes conhecimentos e experiência que lhe foram de grande valia nas conceções estéticas que desenvolveu em projetos na ilha Terceira. Era envolvido e fazia por se envolver nas diversas manifestações artísticas que aconteciam. Foi membro fundador e colaborador do Instituto Histórico da Ilha Terceira (1942) e do Rádio Clube de Angra (1946), tendo um papel relevante no panorama cultural açoriano da primeira metade do século XX.
De indiscutível capacidade e versatilidade, foi senhor de várias artes. Foi poeta e escritor: Quadras para o Povo (1921), Redondilhas aos soldados Desconhecidos (1921), Em Nome de Deus Começo... (1929), Dez Sonetilhos de Enlevo (1941), Sonetos de Esperança e de Sonho (1941), Vejo Sempre Mar em Roda (1963), Melodia Íntima e Poemas de Eiramá (1985). Pintou obras como: Gente do Monte (1928), O Castelo de São João Baptista visto do Caminho de São Diogo (1938), Monte Brasil (1948), O Sonho do Infante exposto no salão nobre do paço da Secretaria Regional da Educação e Cultura (1949), Luís Ribeiro retrato a óleo em exposição no Museu de Angra do Heroísmo (1955-1957), Infante D. Henrique retrato a óleo em exposição no Palácio dos Capitães-Generais (1962), Painéis na Pediatria no antigo edifício do Hospital Regional de Angra do Heroísmo (1961) e outros, sobretudo em coleções particulares fora de Portugal. Ilustrou para jornais e desenhou capas de livros e cartazes de inúmeros trabalhos. Organizou, idealizou e ornamentou diversas exposições, contribuindo com a autoria de muitos dos apontamentos utilizados, destacando-se a Exposição no Palácio do Governo Civil atual Palácio dos Capitães-Generais (1934), a Exposição do Esforço do Emigrante Açoriano nos paços da Junta Geral de Angra do Heroísmo (1940) e outras ligadas a eventos e locais como o Lawn Tennis Club, Salão Caridade, Centenário Garreteano; Recreio dos Artistas, Mocidade Portuguesa e Rádio Club de Angra.
Idealizou desfiles de Bodos de Leite e das Festas da Cidade. Foi cenógrafo em palcos como o Teatro Angrense e outros, de peças como: Flores e Bandarilhas (1926), O Maior Amor de Luís Ribeiro e Casas Baratas de Frederico Lopes (1927), Frei Thomaz (1927), Água Corrente (1928), Glória ao Divino (1959), Rosas e Espinhos (1960), Espinhos de Ouro (1962), D. Beltrão de Figueiroa (1967), O Primeiro Beijo (1971). Foi diretor artístico do grupo teatral da Recreio dos Artistas; lecionou na área do ensino artístico, nomeadamente para os militares da Base Aérea das Lajes entre 1961 e cerca de 1985. Esculpiu a Medalha da Sociedade Afonso Chaves (1934) e concebeu diversos monumentos de arte pública: a Memória alusiva da Restauração de 1640 colocada no adro da igreja Matriz da Praia da Vitória, o Cruzeiro da Independência no Pico Matias Simão (1940), o Monumento a Francisco Ferreira Drummond no Largo do Rossio na Vila de S. Sebastião (14 de Outubro de 1951), o Cruzeiro da Serra da Costaneira (1955), o Memorial a Marcelo Pamplona (1970) na antiga Praça de toiros de São João e retirado após o Sismo de 1980. É dele o projeto de intervenção urbana que levou à criação do Largo Prior do Crato e a execução do busto de D. António Prior do Crato (1941). Um dos seus trabalhos mais marcantes na vida dos angrenses é sem dúvida a intervenção na Praça Velha, para a qual concebeu o desenho artístico que forma a calçada, sempre presente na vida dos angrenses.
Recebeu o prémio literário nos Jogos Florais de 1925 na modalidade de prosa e o prémio Violeta de Oiro nos jogos florais realizados pela Emissora Nacional em 1939. Foi feito Cavaleiro da Ordem Militar de Santiago da Espada a 14 de junho de 1950 e foi-lhe atribuída a Medalha de Honra do Município em 2004.
Paulo Barcelos – CMAH