Integrada nas comemorações do V centenário da morte do Infante D. Henrique (1394-1460) o Ministério das Obras Públicas ofereceu esta estátua de Álvaro Martins Homem (1430-1482) à cidade como símbolo do esforço dos povoadores e dos donatários na epopeia do povoamento destas ilhas. Foi escolhida a figura de Álvaro Martins Homem por ter sido o fundador desta cidade de Angra, que rapidamente se tornou cabeça das ilhas Terceiras.
No início de junho de 1960 iniciaram-se no centro da Praça Velha os trabalhos. Junto ao pavimento foi construído um soco em cima do qual se edificou um pedestal de secção quadrangular, a fim de suportar a estátua. Este plinto com cerca de 4,60 m de altura, todo em pedra trabalhada a primor de basalto terceirense, apresenta uma depressão central no topo onde se encaixa a base da estátua, também quadrangular.
Quanto à estátua, criada e assinada pelo mestre João Fragoso, é de estilo figurativo e pertence a uma linguagem artística muito adotada pelo Estado Novo como estilo oficial da sua arquitetura comemorativa. O autor tê-la-á começado a esculpir em 1958 a partir de um bloco de calcário moleano proveniente da zona de Leiria, um calcário de fundo bege claro com tons ligeiramente acinzentados, de dureza média e grão fino a médio. A estátua com 2,64 m de altura apresenta Álvaro Martins Homem de pé, vestindo uma opa com cinto, tendo na cabeça um barrete e nos pés uns sapatos de pontas, trajando como seria próprio da fidalguia daquela época. Ostenta nas mãos aquilo que parece ser uma carta dobrada, provavelmente marítima, e disposta sobre o lado esquerdo, pendente, uma espada embainhada. Na parte inferior do grupo escultórico surge inscrita numa face, em cada uma das extremidades, a referência ao autor e ao executante.
A obra foi inaugurada com pompa e circunstância pelas 17:00 horas do dia 14 de julho de 1960. Na Praça Velha, ladeados pelos estandartes dos dois municípios terceirenses, ornamentos heráldicos e pendões da Mocidade Portuguesa, estavam presentes as ilustres entidades locais aguardando a chegada do Ministro da Marinha, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Quintanilha e Mendonça Dias, que veio presidir ao evento. À sua chegada soou o Hino da Maria da Fonte, tocado pela Filarmónica Recreio dos Artistas. Discursou depois, em nome do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Francisco Valadão Júnior, enaltecendo a figura do Infante D. Henrique e a sua ação. De seguida, enquanto soavam os acordes do Hino Nacional de Portugal, o Ministro da Marinha descerrou o monumento, perante o vibrante aplauso do numeroso público que assistia, discursando no encerramento desta cerimónia.
Tal como já acontecera no passado com outras estruturas que foram montadas na Praça Velha, nomeadamente um fontenário e mais tarde um coreto, cedo se percebeu que a Praça Velha era demasiado exígua para suportar estruturas desta dimensão. Já sem a sombra do Estado Novo a pairar sobre a governação municipal, surge a vontade de “desafrontar” e dignificar o edifício dos Paços do Concelho e ao mesmo tempo assumir a praça com “palco” privilegiado de eventos nesta cidade. Foi por proposta da Comissão Municipal de Toponímia, apresentada em reunião camarária de 12 de janeiro de 1984, que a edilidade angrense deliberou a remoção da estátua da Praça Velha e a sua colocação no centro da rotunda da Praceta dos Descobrimentos. Aqui se encontra atualmente, virada para noroeste olhando de frente a avenida com o seu nome.
Acentuando-se o nítido estado de degradação que apresentava, desgastada e erodida pelo efeito do tempo e dos elementos atmosféricos, procedeu-se ao restauro e conservação da estátua, recorrendo-se a uma empresa especializada para o efeito. Os trabalhos decorreram durante 3 meses, entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, repondo-se os volumes em falta e aplicando-se tratamentos de limpeza e biocidas.
Num degrau suspenso perto da base foram colocadas as letras com o nome do capitão do donatário. Embora não estivessem aquando da inauguração da estátua, fotos antigas de quando a estátua estava na Praça Velha mostram que havia uma frase colocada no pedestal, sensivelmente a meia altura, que a Câmara Municipal terá mandado colocar posteriormente. Dizia “Inaugurado por Sua Excelência o Ministro da Marinha Contra-Almirante Quintanilha Mendonça Dias em 14 de julho de 1960”. Estas letras desapareceram por completo talvez na altura em que a estátua e pedestal foram transferidos para a Praceta dos Descobrimentos. Recentemente foi colocada uma nova placa, na parte traseira do pedestal que refere: a figura, o autor da obra, e as datas da inauguração (que carece de correção), da transferência para o local onde hoje está e do seu restauro.
João Fragoso (1913-2000) foi um artista plástico que se afirmou como uma das figuras mais representativas da arte portuguesa das últimas décadas do século XX. Desenhador, aguarelista, ceramista, medalhista, escultor e poeta, deixou um valioso património artístico, nomeadamente na área da escultura.
Frequentou as Escolas de Belas Artes de Lisboa e do Porto. Fundou o primeiro Estúdio-Escola de Cerâmica de Lisboa. Foi vice-presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes e Professor agregado da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa durante anos.
Participou em inúmeras exposições individuais e coletivas, principalmente em Portugal e Espanha, com obras de escultura, pintura, desenho e cerâmica. Foi condecorado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Cristo, com diversos outros prémios e distinções e recebeu diversas medalhas de mérito e homenagens.
Paulo Barcelos – CMAH
Paulo Henrique Lopes Mendonça – CMAH